Diretores de Sem Chão unem vozes em discurso político poderoso no Oscar
Filme assinado por grupo de palestinos e israelenses venceu a categoria de Melhor Documentário com imagens da destruição da Cisjordânia ocupada

m dos discursos mais impactantes do Oscar veio na entrega do prêmio de Melhor Documentário. No Other Land, intitulado Sem Chão no Brasil, levou a estatueta e o agradecimento foi feito pelos palestinos Basel Adra e Hamdan Ballal, e pelos israelenses Yuval Abraham e Rachel Szor.
Esta foi a primeira vez que a Academia premiou cineastas palestinos, que aproveitaram o espaço na premiação mais importante do cinema para mandar um recado importante sobre o conflito entre Israel e Palestina.
“Estamos fazendo este filme juntos, um grupo palestino-israelense de ativistas e cineastas, porque queremos impedir a expulsão em andamento da comunidade de Masafer Yatta e resistir à realidade do Apartheid em que nascemos, de lados opostos e desiguais“, destacou Yuval no palco da cerimônia.
Mesmo sem ter sido distribuído no Estados Unidos, o documentário ganhou destaque na temporada de premiações com a jornada de Adra e Abraham. O militante e o jornalista formaram uma aliança em meio aos conflitos entre Israel e Palestina para exibir cenas da destruição de Masafer Yatta, na Cisjordânia ocupada.
“Dois meses atrás, eu me tornei pai e minha esperança para minha filha é que ela não tenha que viver a mesma vida que estou vivendo agora, sempre temendo violência, demolições de casas, deslocamento forçado que minha comunidade, Masafer Yatta, enfrenta todos os dias”, observou Basel no discurso.
O diretor e ativista acrescentou que o documentário é um reflexo da realidade que o povo palestino enfrenta há anos. “Ainda resistimos enquanto apelamos ao mundo para tomar medidas sérias para parar a injustiça e parar a limpeza étnica do povo palestino“, destacou.
Abraham continuou a fala com a afirmação de que o filme foi feito por palestinos e israelenses para reforçar a mensagem que o mundo precisa ouvir. “Juntas, nossas vozes são mais fortes. Nós nos vemos. A destruição desumana de Gaza e seu povo, que deve acabar. Os reféns israelenses brutalmente capturados no crime de 7 de outubro, que devem ser libertados”, continuou o jornalista.
“Quando olho para Basel, vejo meu irmão. Mas somos desiguais. Vivemos em um regime em que eu sou livre sob a lei civil e Basel está sob leis militares que destroem vidas, que ele não pode controlar. Há um caminho diferente, uma solução política sem supremacia étnica, com direitos nacionais para ambos os nossos povos”, adicionou.
Yuval terminou o discurso fazendo críticas ao governo e recentes falas de Trump sobre Gaza. “A política externa neste país está ajudando a bloquear esse caminho. Por quê? Vocês não conseguem ver que estamos interligados?”, questionou. “Não é tarde demais para a vida, para os que estão vivos”, finalizou ele.