COP30 é nossa também

Marcele Oliveira lidera a juventude para ecoar sua voz no principal evento sobre mudanças climáticas, que acontece pela primeira vez no Brasil

Por Juliana Morales 20 jul 2025, 06h00
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rente a frente com Lula, Marcele não titubeou nem tentou falar rebuscado e dar muitas voltas. Foi direto ao ponto: “Precisamos falar de petróleo, presidente.”

Talvez se tivesse feito de outro jeito, o assunto passaria como mais um problema citado naquele encontro durante a COP28, sediada em Dubai em 2023. No entanto, a fala espontânea de uma mulher jovem mostrou que as juventudes cobram posicionamento dos governos.

Quase um ano e meio depois, Marcele Oliveira, comunicadora e ativista ambiental, de 26 anos, nascida em Realengo, bairro da periferia do município do Rio de Janeiro, encontrou-se novamente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas, dessa vez, em Brasília.

Após um edital, com mais de 150 jovens inscritos e 24 nomes selecionados, ela foi a escolhida por ele como a Campeã de Juventude da COP30 (Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas). Neste ano, Belém, capital do Pará, receberá o evento que nos últimos anos acontece em países do Oriente Médio. Marcele quer “fortalecer a participação dos jovens nas políticas climáticas e nas negociações sobre mudanças climáticas”. 

“Tanto eu, como os outros candidatos, não estávamos ansiosos, mas sim, com pressa de começar a executar esse papel que a gente considera tão importante para uma COP de sucesso”, disse à CAPRICHO após ser questionada sobre qual foi a sensação ao ser nomeada. 

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Ela será a segunda jovem a ocupar a função de mobilizar e coordenar a participação da juventude em uma conferência: a primeira foi a ativista Leyla Hasanova na COP29, no Azerbaijão.

Marcele conversou com a nossa reportagem por vídeo, no começo de junho, direto da casa dos pais em Realengo. Ela havia acabado de chegar de uma viagem, e, em poucos dias, já embarcaria para a Alemanha, onde participaria de mais uma negociação antes da COP. 

Do sofá da sala, bastava uma pergunta para ela trazer um discurso eloquente, com exemplos, dados, e apontamentos importantes ‒ sempre trazendo para a realidade e traduzindo do seu jeito esperto. 

Urgência criativa e consciente

A pressa de Marcele e de outros jovens não é à toa, e pode ser sentida na pele: o calor extremo que invade nossa rotina e maltrata nosso corpo é um exemplo. Ficar parado enquanto a crise climática derrete geleiras, espalha fogo e gera temporais não parece nada cômodo para eles.

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Só que não é o medo dos próximos desastres que faz essa galera agir. Marcele defende que é preciso olhar além da tragédia. “Nos recusamos a acreditar no fim do mundo. Por que logo na nossa vez? Com decisões que nem fomos nós que tomamos, tô fora, não acredito”, brinca, como uma maneira de aliviar o papo. 

Seu posicionamento não é, de forma alguma, uma negação dos dados, que realmente são muito preocupantes, mas trazer a confiança de que existem ações lideradas por juventudes que valem a pena serem conhecidas e que trazem o ânimo de que é possível pensar um mundo diferente. 

“Talvez essa seja, de fato, a nossa chance de dizer para as autoridades e tomadores de decisão que a nossa urgência também se dá por meio da criatividade na construção de soluções climáticas”, diz referindo-se à COP30.

A conferência, que reúne todos os 193 países da ONU e cinco territórios, acontece desde 1995, e tem como finalidade debater medidas para diminuir a emissão de gases do efeito estufa, encontrar soluções para problemas ambientais e negociar acordos. É a primeira vez que o Brasil, detentor da maior biodiversidade do planeta, sedia o evento ‒ o que é uma oportunidade incrível de mostrar nossa força e compromisso, mas é cercada de desafios.

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“Somente nós sabemos o que é ser jovem hoje. Não tem referência, não é comparável, porque estamos vivendo uma dimensão da crise climática, inclusive com muita desinformação, com a inteligência artificial crescendo, com as guerras acontecendo, após uma pandemia, então é muito diferente”, aponta. 

A juventude busca, então, se organizar e estar presente nos espaços de poder para fazer com que o Brasil e o mundo entenda o que, de fato, são suas demandas e necessidades e garantir que sejam pensadas propostas que conversem com esta geração.

“Senão, eles vão ficar falando da gente sem a gente. Vão continuar discutindo sobre mercado de carbono enquanto a gente está querendo ação de reflorestamento”, reclama. “Queremos plantar agora, queremos colher agora, queremos oportunidade de empregos verdes agora. Não estamos com tempo”, completa.

Além disso, olhar para o presente também é uma forma de cuidar do futuro. Marcele dá o exemplo da educação financeira que é uma ferramenta pouco conhecida, mas muito válida, para combater a crise climática. Se antes a galera pensava na poupança para comprar um carro ou uma casa, hoje é importante se preparar financeiramente para mudanças radicais que podem acontecer na forma como vivemos, motivados por um evento climático extremo. 

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“São assuntos que não estão na agenda COP30, mas que estão na agenda das juventudes do mundo. Porque a gente está querendo pensar qual é o nosso futuro. Daqui a dez anos, vamos ter ou não água potável para beber? Será que vamos ter ou não a oportunidade de conhecer todos os biomas do Brasil?”, questiona. 

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