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Com qual tipo de política a juventude brasileira sonha?

Estamos indo às urnas, porque, por enquanto, a política que sonhamos ainda não existe

Por Janaina Bernardino, especial para a CAPRICHO Atualizado em 30 out 2024, 15h31 - Publicado em 1 out 2022, 15h25
CH na Eleição
“Por aqui, como dizem: “o buraco é mais embaixo”. Nós, da periferia, crescemos sem a certeza de realizações”, escreve colunista da CH. CAPRICHO/Getty Images

Existe uma imagem que circula há algum tempo nas redes sociais que reflete muito a desigualdade que há aqui no país do futebol. A foto ilustra a fronteira entre os bairros de Paraisópolis e Morumbi, na Zona Sul de São Paulo. Como antagonistas, os bairros parecem ser de mundos diferentes e de fato são, mesmo que alguns digam o contrário.

Resgato essa imagem para refletir sobre o cenário político e em como ele pode ser um dispositivo importante para garantir o que é o nosso por direito. Enquanto de um lado, debater sobre política não parece ser importante – porque o sistema caminha para que uns tenham mais que outros -, há um outro lado, do qual eu e mais da metade da população fazemos parte, em que ter esse debate pode ser o bote salva vidas.

Por aqui, como dizem: “o buraco é mais embaixo”. Nós, da periferia, crescemos sem a certeza de realizações. Para nós, como já nos lembra Racionais MC ‘s, o mundo é diferente da ponte pra cá, não só na grande São Paulo, mas também nas milhares de periferias brasileiras. Refletir sobre a importância das políticas que chegam até nós antes mesmo dos nossos sonhos, já que para realizá-los precisamos de ações arbitrárias sob aquilo que nos empurra todo dia para a margem.

Andando pela quebrada você se depara com algumas histórias: a da menina que quer ser engenheira, do menino que sonha em ser médico, da tia que tá ‘mili’ anos sonhando com a casa própria e tantas mulheres que renunciaram a muita coisa, para que os seus pudessem trilhar um caminho diferente. São histórias que se repetem, de geração em geração e que apesar dos avanços, a curtos passos, muita coisa ainda não mudou.

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Também tem a minha história, da menina que queria ser jornalista e para o delírio do sistema, está em formação. Cotista, negra, de periferia, mulher. Na teoria, estar aqui, na federal, não foi algo escrito para mim, mas eu aprendi desde cedo a quebrar o status quo. A lei das cotas está aí, para a gente defender e sempre destacar que pretos e pretas estão se armando com a educação e se munindo não de retaliações, mas sim de informação.

Às vésperas de decisões importantes, após um chamado urgente para que nós, a juventude, nos colocássemos como protagonistas dessas eleições, estamos indo às urnas para mobilizar e impulsionar um futuro preto, periférico, feminista, digno e com oportunidades reais e não utópicas.  Queremos uma política que realize, que seja integrada e que faça as transformações para o povo e, principalmente, com o povo.

Estamos indo às urnas, porque, por enquanto, a política que sonhamos ainda não existe

Janaina Bernardino, especial para a CAPRICHO
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E como crias de políticas públicas, sonhamos em fomentar a efetivação de tais  estruturações com pessoas com quem de fato fazem as coisas acontecerem, mas que estão ali na base. Gente que pega dois busão por dia para ir trampar, gente que fica meses em uma fila de espera para uma consulta de rotina, gente que representa as piores estatísticas do país, gente que tem que escolher entre arroz e feijão. Pessoas que estão em condição que para o mundo já é cultural.

A escritora Carolina Maria de Jesus já dizia que o “Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome”, porque entende dos perrengues, das violações, da miséria. E que irá olhar para nós, a juventude, não como massa de manobra, ou apenas como aporte de mudança para o futuro, mas como ferramenta de configuração do presente. É no agora que sentimos fome, medo e frio. É no hoje, neste domingo, que precisamos estar na linha de frente, por nós e por aqueles que vieram antes.

Estamos indo às urnas, porque, por enquanto, a política que sonhamos ainda não existe. Mas quando ela chegar, a sensação vai ser igual a de levantar a taça da copa do mundo. Seremos campeões, levaremos, pela primeira vez, o ouro para casa.

*Oiê, leitora de CAPRICHO. Este texto foi escrito por uma colaboradora do nosso site voltado ao público jovem com a intenção de diversificar o nosso público e trazer discussões significativas para a juventude refletir o mundo de hoje. Ele não necessariamente reflete o posicionamento editorial do Grupo Abril.

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