Com ‘Palavrão da COP’, José Kaeté conecta público ao ativismo climático

Jovem ativista e criador de conteúdo encontra na complexidade científica a possibilidade de levar informação acessível sobre meio ambiente.

Por Mavi Faria Atualizado em 22 nov 2025, 13h51 - Publicado em 22 nov 2025, 13h00
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alavrão pode até ser um termo muito utilizado para se referir a xingamentos, mas para José Kaeté, ele também representa aquelas palavras científicas e complexas que quase ninguém entende. Por mais acostumado que ele esteja com termos específicos do meio ambiente aprendidos em sua atuação como ativista ambiental, ao estudar para se preparar para a COP30, Kaeté se deparou com termos muito técnicos, apelidados por ele de “palavrões muito grande”.

“Quando eu ia estudar, entender, aprender mais sobre esse contexto, eu pensava ‘nossa, se eu que tô dentro desse meio demoro para compreender o que uma palavra significa, outras pessoas devem ter isso também’, conta à CAPRICHO. “E eu sempre brincava, ‘nossa, que palavrão’. Até para falar alguns termos era um palavrão muito grande”, brinca.

O jovem indígena Tupinambá do Pará, engenheiro, comunicador popular e criador de conteúdo encontrou na dificuldade a possibilidade de incrementar o seu conteúdo para as redes sociais, ensinar e introduzir ainda mais o público que não é envolvido em pautas do meio ambiente. É com esse intuito que ele cria “como se fosse um dicionário batizado de ‘Palavrão da COP”, uma série especial publicada nas redes em que ele ensina termos ligado à Conferência e ao tema das mudanças climáticas.

Até o dia 21 de novembro, a capital do Pará, Belém, é sede da Cúpula dos Líderes da COP30, encontro que marca a abertura política da Conferência do Clima da ONU. A reunião, que acontece desde 1995 com a presença de 193 países da ONU e cinco territórios, tem como finalidade debater medidas para diminuir a emissão de gases do efeito estufa, encontrar soluções para problemas ambientais e negociar acordos. É a primeira vez que o Brasil, detentor da maior biodiversidade do planeta, sedia o evento.

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Para Kaeté, ter um encontro de grande importância para as discussões do meio ambiente representa a chance de atuar ainda mais no ativismo, além de mostrar e explicar para as pessoas de fora como é a sua realidade, em especial na desconstrução de estereótipos. Este objetivo, inclusive, foi um dos incentivadores para o jovem começasse a criação de conteúdo ainda em 2016.

“Eu tinha esse incômodo de que as pessoas não conheciam muito sobre a nossa região e eu fui para a internet para fazer esse trabalho educativo mesmo”, conta. A partir de conteúdos sobre o Pará, Kaeté ampliou o debate desenhando a conexão entre sua região e cultura com o meio ambiente e com o clima, “sempre com o intuito de mostrar as diferentes perspectivas e contextos da Amazônia, quebrando os estereótipos”. 

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Ele explica que passou a ver cada vez mais a importância de colocar a pauta das mudanças climáticas em foco, mostrando a “importância dessa floresta tropical, da existência e da resistência dos povos daqui.” Embora a desinformação nas redes tenha o motivado a quebrar preconceitos, foi o próprio desconhecimento das pessoas na vida real que o chocou. “Eu percebia que não sabiam muito sobre a Amazônia, o povo da floresta e nossa cultura, então fui motivado tanto pelo online, quanto pelo offline a levar mais conhecimento”, explica.

“Quero mostrar que existem diferentes Amazônias”

Já na dinâmica das redes sociais, Kaeté percebeu que para levar o público sua própria vivência e aprendizado, precisaria driblar fake news e o que ele chama de “disputa de narrativa”. “Hoje existe uma disputa de narrativa, não só dentro dos temas relacionados à mudança do clima, mas uma disputa de narrativa de todo mundo que trabalha com internet. Todo mundo quer atenção”. 

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Contudo, na luta para conseguir visualizações, ele vê o conhecimento compartilhado virtualmente sendo diluído, e informações erradas compartilhadas de forma sensacionalista para atrair likes e comentários. Com a ciência de que o mundo online já é cheio de estímulos e cansativo, ele tenta trazer o equilíbrio, passando sua “mensagem principal” sem “gerar esses debates, discussões com esses haters“.

Com quase 10 anos de experiência no ativismo virtual, ele declara que, independente dos comentários racistas e xenofóbicos que ainda recebe, seu principal objetivo se mantém: fazer as pessoas compreenderem que, de fato, existem diferentes Amazônias.

“Mostrar que são diferentes contextos, que nós somos parte da natureza, que tudo que a gente tem e a gente interage hoje em dia vai ser afetada pela mudança do clima. Então, transmitir a nossa cultura, a alimentação, a educação, a saúde”, afirma. Até lá, Kaeté traz para si o papel social de traduzir de forma mais simples informações importantes discutidas na COP30 e entre especialistas do meio ambiente que podem transformar nossa realidade.

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