Adolescência não é a mesma para todos – e precisamos levar isso em conta
Nossa galera tem, sim, muita coisa em comum, mas ignorar o diferentes contextos para falar da juventude é um erro
Você sabia que nesta quinta-feira, 21 de setembro, é comemorado o Dia do Adolescente? Pois é! A data é uma ótima oportunidade de refletir sobre essa fase tão complexa da vida. E bota complexa nisso, né, leitora e leitor da CH? Acontece que, apesar da nossa galera compartilhar muitas experiências e sentimentos em comum, definitivamente, a adolescência não é a mesma para todo mundo. Nós te explicamos por quê!
O primeiro ponto a ser esclarecido é que a adolescência não se resume à puberdade, certo? Até porque esta última refere-se mais ao processo de transformações hormonais e físicas, só que não é só isso. Nesta etapa, os jovens vivenciam uma série de mudanças comportamentais e psicológicas também, que ainda podem mudar dependendo da realidade de cada um.
Mas afinal, o que é a adolescência, além de um turbilhão de hormônios e sentimentos?
Existe uma explicação corriqueira sobre a adolescência, que você também já deve ter ouvido: “é um momento de passagem da condição infantil à adulta”. Ela, no entanto, não é universal (ou suficiente). Em um artigo publicado na revista Estilos da Clínica, a psicóloga Bruna Rabello de Moraes e o psicanalista e professor Amadeu de Oliveira Weinmann, defendem que “a adolescência é uma construção cultural, isto é, uma noção de adolescência sempre é tributária do contexto que a define”.
Para alguns povos, a fase sinaliza que a criança cresceu e chegou o momento de os valores tradicionais familiares serem transmitidos à ela. Já em outras culturas, trata-se da hora de conceder certa independência e responsabilidade ao jovem. Os pesquisadores dão exemplo como os akambas, grupo oriundo da África Oriental britânica. Na cultura deles, segundo os autores, “as jovens devem evitar seu pai entre a época da puberdade e seu casamento”. Cada um tem seu rito de passagem.
Como explica a reportagem da SUPERINTERESSANTE, os adolescentes só surgiram há cerca de 70 anos. Até o século 19, a nossa sociedade não concebia a ideia de uma fase transitória. Naquela época, o indivíduo deixava de ser criança entre 10 e 14 anos e passava à vida adulta. “Quem criou o termo “adolescente” foi o psiquiatra Granville Stanley Hall, em 1898. Entretanto, a palavra pegou mesmo após a 2ª Guerra, quando nasceu o rock ‘n’ roll e a revolução cultural que afetou somente os mais jovens”, explica o texto.
Considerando só o cenário brasileiro, a adolescência não é a mesma para todo mundo
De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei que defende essa faixa etária no Brasil, a criança é quem tem até 12 anos incompletos. Já garotos e garotas que têm entre 12 e 18 anos são adolescentes. A lei define que esta faixa etária têm direito à vida e à saúde; à liberdade, ao respeito e à dignidade; à convivência familiar e comunitária; e do direito à guarda, à tutela e à adoção. Nenhuma criança ou adolescente pode sofrer maus tratos: descuido, preconceito, exploração ou violência.
Todos esses direitos e condições de bem-estar deveriam valer para todos, né? Mas não é assim! No Brasil, se você é negro (preto ou pardo), tem três vezes mais chances de ser assinassado do que um jovem branco, principalmente a partir do momento que entra na adolescência (e muitas vezes, até antes). A cada 100 mil assassinatos, 86,34% são de jovens negros, de acordo com dados levantados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A cada 23 minutos, um jovem negro é morto no Brasil.
Em outro levantamento feito pelo Fórum de Segurança Pública, entre 2019 e 2021, o país registrou 129.844 ocorrências dos crimes contra crianças e adolescentes de 0 a 17 anos. Destes crimes, 56% foram de estupro e 85% das vítimas são do sexo feminino. Nos crimes de exploração sexual, em geral, a maioria também se mantém feminina.
Uma parcela dos jovens, os mais vulneráveis, estão fora da escola – muitos deles precisam trabalham para ajudar na sobrevivência dentro de casa. Segundo a pesquisa “Combate à evasão no Ensino Médio: desafios e oportunidades”, da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan SESI), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), meio milhão de jovens acima de 16 anos desistem de estudar por ano.
Mesmo que nessa fase seja tão importante que estejamos abertos e tenhamos oportunidades de descobertas, novidades e crescimento, nem todo mundo tem essa liberdade. Tem uma galera, que mesmo na adolescência, tem que assumir responsabilidades gigantescas, além de passarem por coisas, que adolescentes, tecnicamente, não deveriam passar. Não podemos ignorar isso.