Faz 15 anos que o Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas, celebrado em 7 de fevereiro, foi adicionado oficialmente ao calendário brasileiro de datas comemorativas. Ela relembra o líder guarani Sepé Tiaraju, que foi assassinado nesse mesmo dia em 1756, após liderar uma revolução contra os colonizados, que queriam dividir o Brasil entre portugueses e espanhóis com o Tratado de Madri. “A tentativa de apagamento sempre existiu e vai continuar existindo”, destaca Marcela Jeanjcque, comunicadora do povo Galibi Kali’na Tïlewuyu.
A crise humanitária Yanomami é um reflexo disso. Ela também escancara a falta de políticas públicas pensadas para os povos originários. Samia Roges Jordy Barbieri, observadora da ONU para questões indígenas desde 2007 e autora do livro Os Direitos dos Povos Indígenas, alerta que os indígenas precisam de representatividade e de leis específicas. Além disso, a especialista garante que “nós não podemos nos esquecer de criminalizar os verdadeiros autores do genocídio Yanomami e devemos apoiar cada vez mais o protagonismo dos povos indígenas”.
Por falar em representatividade, neste ano, o governo Lula (PT) criou o inédito Ministério dos Povos Indígenas do Brasil, chefiado por Sonia Guajajara e celebrado por Marcela. “É a primeira vez que temos a oportunidade de ter uma ministra dos Povos Indígenas construindo políticas públicas para a nossa população. Antes, eram não-indígenas que falavam por nós“.
Por mais que políticas indigenistas já existam, elas foram, na maioria das vezes, pensadas e votadas por homens brancos, um reflexo do que ocorre desde 1500 no país. “Notícias como as dos parentes yanomamis mostram que as políticas públicas em prol dos direitos dos povos originários ainda são insuficientes”, opina a comunicadora.
Este é então um dos principais desafios do ministério: transformar a realidade de um país que desde sempre tentou apagar a identidade do povo que sempre aqui existiu. Para a especialista Samia, “o garimpo ilegal está ceifando a vida dos povos indígenas. Isso é um crime, um verdadeiro genocídio, que deve ser evitado pelo governo o quanto antes”.
Os povos indígenas estão, como sempre, dispostos a lutar – mas é preciso que toda a sociedade faça a sua parte, porque a preservação da identidade dos povos indígenas é de interesse de todos. “Os indígenas são observadores da natureza e pensam no coletivo. Nós precisamos da floresta de pé e de soberania alimentar”, explica Samia, que pontua que os povos originários são essenciais na luta contra a catástrofe climática. “É hora da gente salvar o povo Yanomami” – e de salvar a nós mesmos. “Somos povos resistentes e resilientes, e sempre buscamos formas de nos manter vivos”, afirma a jovem Marcela, do povo Galibi Kali’na Tïlewuyu.