A trajetória de Marielle Franco é inspiração para meninas e mulheres
O dia 14 de março é marcado pelos efeitos de seu assassinato e pela memória que deixa legado para nossa geração
A morte da vereadora Marielle Franco completa cinco anos nesta terça-feira (14). Além de reforçar o pedido por respostas de um crime que permanece acobertado pela Justiça, a data também é mais uma ocasião importante para lembrar do legado de Marielle, reconhecida, além do papel na política, por seu ativismo em prol da luta feminina, principalmente das mulheres negras.
Luyara Santos, filha de Marielle Franco, que hoje tem 24 anos, ressalta a importância de resgatar os feitos da mãe, que se tornou gigante e transbordou fronteiras. Para ela, o legado de sua mãe deve ser recordado pela mobilização da dignidade e contra as injustiças e não apenas por um crime sem respostas.
Nós, da CAPRICHO, inclusive entrevistamos Luyara nesta terça-feira (14) que falou sobre o legado de sua mãe e também sobre o desejo para o futuro: ”Meu desejo é que mulheres negras ocupem os lugares de decisão e não precisem se preocupar se terão suas vidas ceifadas. Que meninas negras se inspirem em outras mulheres negras e acreditem que tudo é possível”, disse.
Cria da favela da Maré
Nascida e criada no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, Marielle passou a atuar mais fortemente na militância em direitos humanos após perder uma amiga em 2005, vítima de bala perdida, num tiroteio entre policiais e traficantes na comunidade onde vivia. Essa luta se estendeu até o fim da sua vida, aos 38 anos. Um dia antes de ser assassinada, em março de 2018, Marielle desabafou em uma rede social sobre a longa e sangrenta guerra do tráfico em comunidades do Rio de Janeiro. “Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”, escreveu em um tweet.
Por meio da educação, ela encontrou mais ferramentas para batalhar pelas causas das quais defendia. Marielle se formou em Ciências Sociais pela PUC-Rio e fez mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), onde defendeu a dissertação com o tema: “UPP: a redução da favela a três letras”.
Além de atuar em diversos coletivos e movimentos feministas, negros e de favelas, sua trajetória ainda foi marcada por participar de organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm).
Trajetória política
Em 2006, Marielle fez parte da equipe de campanha na Maré que elegeu Marcelo Freixo (PSOL) como deputado estadual – após a vitória de Freixo, ela, inclusive, foi nomeada como sua assessora parlamentar. Depois, seguiu para o próximo desafio: coordenar a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Em 2016, foi eleita vereadora da Câmara dos Deputados do Rio pelo Psol, com 46,5 mil votos – a quinta mais votada. Ela também presidiu a Comissão da Mulher da Câmara. O mandato duraria até 2020, mas foi interrompido pelo crime brutal que tirou a vida de Marielle e do motorista Anderson Gomes, dentro de um carro, voltando de um evento de trabalho, no centro do Rio de Janeiro.
Segundo dados da Câmara Municipal do Rio, compilados pela Agência Brasil, em 13 meses de mandato, Marielle se envolveu em 19 projetos de lei. Três deles foram aprovados e viraram lei quando a vereadora ainda estava viva:
- uma lei ordinária que estabeleceu limites nos contratos de gestão entre o município do Rio e as organizações sociais da área de saúde;
- uma lei ordinária, em nome da Comissão de Defesa da Mulher, que estabeleceu diretrizes para criar casas de parto e atendimento às grávidas e puérperas;
- uma lei complementar que autorizou o serviço de mototáxis na cidade.
Em fevereiro de 2018, um mês antes da sua morte, Marielle foi escolhida como relatora de uma comissão na Câmara que iria acompanhar a atuação das tropas na intervenção federal no Rio.
O legado de Marielle
Além de todas as homenagens, prêmios e mobilizações populares, o legado político de Marielle segue vivo pelas mulheres que seguem até hoje lutando por um Brasil – e mundo – melhor. (Elas se autodenominam como ‘sementes de Marielle’, você sabia disso?)
A atual ministra da Igualdade Racial é Anielle Franco. Ela, junto com Luyara e toda a família, também criaram o Instituto Marielle Franco em 2019. Trata-se de uma organização sem fins lucrativos, para preservar a memória da vereadora, cobrar respostas e justiça sobre o crime que aconteceu, além de desenvolver ações sociais voltadas para mulheres negras e jovens periféricos.
Ainda neste mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um projeto de Lei com o intuito de que 14 de março se torne o “Dia Nacional Marielle Franco de Enfrentamento à Violência Política de Gênero e Raça”. Se aprovada, a data será incorporada ao calendário oficial a nível nacional.