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A relação difícil entre gravidez na adolescência e abandono escolar

Os dois problemas se relacionam e crescem por meio da desigualdade social que afeta nossa galera jovem

Por Juliana Morales 4 abr 2024, 10h32

A gravidez na adolescência é um problema de saúde pública e um grande desafio para um país tão desigual como o Brasil. De acordo com dados do Sistema de Informações de Nascidos Vivos, do Governo Federal, a taxa de nascimentos de crianças filhas de mães entre 15 e 19 anos aqui é 50% maior do que a média mundial.

Além dos diversos perigos para a saúde das garotas que engravidam antes mesmo que seus corpos estejam preparados, e o abalo emocional que isso causa também, existe o aspecto educacional que precisa ser debatido. Entre as consequências mais gerais da gravidez não intencional na adolescência, está o abandono escolar – outro grande problema que nosso país enfrenta. Isso não afeta apenas o presente, mas todo o futuro das jovens.

O ciclo da maternidade adolescente e o abandono escolar

Segundo a pesquisa presente na cartilha Sem Deixar Ninguém para Trás: Gravidez, Maternidade e Violência Sexual na Adolescência, do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa) e parceiros, 57,5% das mães adolescentes de 2008 a 2019 tinham de 8 a 11 anos de escolaridade; 34,3% delas informaram ter de 4 a 7 anos de estudo; 3,8% relataram ter nenhum ou 1 a 3 anos de estudo; e apenas 2,4% tinham 12 anos ou mais de escolaridade.

Diante desses números, o documento analisa a complexa relação entre educação e maternidade adolescente. Eles concluem que “há evidências de que a baixa escolaridade e a evasão escolar são fatores que contribuem para a ocorrência antecipada da maternidade, mas, ao mesmo tempo, vivenciar a maternidade e permanecer na escola se mostra um grande desafio, tornando a maternidade um fator relacionado ao interrompimento da educação formal, de forma parcial ou permanente, e à escolarização tardia”.

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Ou seja, estar fora da escola pode ser um fator que contribui para a gravidez na adolescência, da mesma forma que jovens que ficam grávidas em período escolar, principalmente em condições sociais e econômicas mais vulneráveis, têm grandes chances de abandonarem os estudos. E não para por aí. O abandono escolar resulta também no atraso ou a inserção não qualificada no mundo do trabalho.

Segundo estudo realizado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, há uma queda de 1,3 anos na escolaridade das mulheres que tiveram filhos com menos de 20 anos e a probabilidade de entrar em um mercado formal se reduz em 12 pontos porcentuais. Outro dado da pesquisa que mostra o impacto econômico disso é a redução de 30% no salário de mulheres que ficaram grávidas durante a adolescência.

Percebe como tudo isso alimenta um ciclo de desigualdade e pobreza para as jovens em situações de vulnerabilidade, que são as mais afetadas pela gestação na adolescência?

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Precisamos falar sobre justiça reprodutiva e social

Ao analisar os dados sobre o problema da gravidez durante a adolescência no Brasil, não dá para ignorar a disparidade racial. De 2008 a 2019, mais de 6 milhões de bebês nasceram de mães adolescentes, e a maioria das meninas e jovens que tiveram filhos são indígenas e negras, segundo dados do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa) com outros institutos em parceria.

No acesso ao pré-natal, que é todo cuidado saúde recomendado para todas as gestantes, as meninas indígenas de 10 a 14 anos e 15 a 19 respectivamente (20,8%; 26,6%), seguidas das pardas (40,4%; 47,4%) e pretas (41,9%; 50,2%) são as que menos referem a realização de 7 ou mais consultas de pré-natal em relação às brancas (56,6%; 64,3%).

Por isso, é tão importante debater sobre justiça reprodutiva e lutar para que todas garotas e mulheres tenham direitos iguais de ter uma gestação saudável, com tratamento adequado e boa qualidade de vida. Depois, controlar as opções de parto e cuidar dos filhos. E, claro, que ela e toda a família tenham acesso ao saneamento básico, à saúde e outros direitos básicos.

A educação é um dos grandes caminhos para isso. A escola é capaz de ser um espaço de promover a educação em sexualidade, combatendo a desinformação que também contribui para os casos de gestação na adolescência. Em caso das garotas que já são mães novas, a escola precisa ajudar ela a retomar os estudos e garantir políticas de permanência. Só assim será possível quebrar esse ciclo injusto que liga maternidade adolescente e abandono escolar. 

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