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À Glória Maria, potente voz negra pioneira do jornalismo, a glória eterna

Uma das mais importantes profissionais da história da comunicação morreu aos 73 anos, no RJ, e deixa um legado de inspiração, força e revolução

Por Isabella Otto Atualizado em 29 out 2024, 19h00 - Publicado em 2 fev 2023, 10h34
À Glória Maria, potente voz negra pioneira do jornalismo, a glória eterna
Glória nos bastidos do Fantástico Acervo da TV Globo/Reprodução

Morreu na manhã desta quinta-feira (02), no Rio de Janeiro, Glória Maria, aos 73 anos. A jornalista estava internada no Hospital Copa Star desde novembro do ano passado, para tratar metástases cerebrais de um câncer no pulmão descoberto em 2019. “Em meados de 2022, a jornalista iniciou uma nova fase do tratamento que, infelizmente, deixou de fazer efeito nos últimos dias”, informou a Comunicação da Globo.

Pioneira do jornalismo brasileiro, Glória foi a primeira repórter a fazer uma entrada ao vivo e em cores no Jornal Nacional, além de fazer história com suas reportagens de viagem, tendo visitado mais de 100 países. Ícone da TV Globo, foram mais de 50 anos de carreira na emissora.

Quem foi Glória Maria?

Talvez você mais novo conheça a figura de vídeos divertidos que viraram memes na internet, como aquele em que a repórter anda em uma montanha-russa na Jamaica. Mas a trajetória e a importância de Glória vai muito além!

Nascida no dia 15 de agosto de 1949, na Vila Isabel, no Rio de Janeiro, Glória Maria Matta da Silva era filha de Edna Alves Matta, uma dona de casa, e Cosme Braga da Silva, um alfaiate.

A carioca estudou em colégios públicos – onde aprendeu inglês, francês e latim – até o início da vida adulta, quando cursou Jornalismo na PUC-Rio. Para pagar os estudos, trabalhou como telefonista.

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Seu primeiro estágio foi como radioescuta na Globo. Ela ouvia as frequências policiais para descobrir os furos de reportagem na cidade. Além disso, de vez em quando, também ligava para as delegacias, para fazer o trabalho de apuração.

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Mais tarde, Glória fez sua estreia como repórter, em 1971. Ele cobriu o desabamento do Elevado Paulo de Frontin – mas ainda não apareceu no vídeo, pois não era de costume.

Foi no Jornal Nacional, em 1977, que ela fez a sua primeira aparição em uma matéria, entrando para a hstória do jornalismo brasileiro como sendo a primeira repórter a fazer uma entrada ao vivo e em cores no programa de notícias. Na ocasião, ela cobria a movimentação das estradas pré-final de semana.

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Em 1986, Glória Maria passou a integrar a equipe do Fantástico e permaneceu na casa até 2007. Foi no programa dominicial que a repórter começou a explodir com suas icônicas matérias de viagem e entrevistas com famosos como Leonardo DiCaprio, Madonna e Michael Jackson. Até o Freddie Mercury ela entrevistou!

Entre outros marcos da carreira, a jornalista cobriu a guerra das Malvinas (1982) e a Copa do Mundo na França (1998). Em 2007, entrou de novo para a história ao participar da primeira transmissão em HD da televisão brasileira, no Fantástico, durante reportagem no Alto Xingu. Ela também realizou uma volta ao mundo, que foi transmitida pelo Globo Repórter.

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A voz do jornalismo negro

Glória Maria foi uma das primeiras repórteres negras a ter destaque na TV, em uma época em que negros eram ainda mais estereotipados e marginalizados, fazendo pontas como empregados e escravos em novelas. O jornalismo televisivo era formado majoritariamente por homens brancos de meia idade. A profissional abriu portas e inspirou muitos estudantes a seguirem o caminho da comunicação.

A trajetória de sucesso, contudo, foi marcada por episódios de racismo, que a profissional relembrou em 2022, durante o programa Roda Viva, da TV Cultura: “Nada blinda preto do racismo, nem mesmo a fama”, disse.

Nesta quinta-feira (02), Glória foi relembrada por admiradores nas redes sociais:

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A mãe da Maria e da Laura

Em uma sociedade que cobra o tempo todo para que mulheres se tornem mães, Glória Maria sempre deixou claro que não sentia vontade de viver a maternidade – o que, por si só, já é uma fala revolucionária.

Durante uma viagem para Salvador, entretanto, a jornalista conheceu Maria e Laura, que viviam em um orfanato: “Eu nunca tinha pensado em ter filhos até que vi as duas pela primeira vez e tive certeza que elas eram minhas filhas. Isso é uma coisa que não sei explicar”, disse em entrevista ao jornal O Globo.

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A adoção foi concluída em 2009 e Glória mudou-se na ocasião para a Bahia, para conseguir realizar todas as burocracias do processo. Também em entrevista ao O Globo, Glória mostrou toda sua potência como mulher negra, profissional e mãe: “Minhas filhas não têm pai, eu decidi tê-las sozinha. Sou eu e ponto(…) Eu odeio drama, não sou coitadinha. Vim sem esse sentimento. Nasci numa família extremamente pobre e matriarcal. Cheia de mulheres fortes. Minha avó Alzira, que morreu com 104 anos, tinha uma porrada de filhos, mandava em todo mundo”.

Como bem disse Maria Bethânia, em postagem em homenagem a uma das maiores profissionais da comunicação do Brasil (quiçá do mundo): “A Glória da vida. Um ícone da TV brasileira. Uma percursora do jornalismo ao vivo na TV. Uma doce pessoa”.

À Glória, a glória eterna!

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