8 pontos pra entender o tarifaço de Trump sem cair em fake news
Anúncio polêmico que afeta diretamente o Brasil e colocou o país em uma treta diplomática daquelas. A gente te explica.

o último mês, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou aos holofotes internacionais e, desta vez, com um anúncio polêmico que afeta diretamente o Brasil e colocou o país em uma treta diplomática daquelas.
Trump afirmou que em uma carta que aplicará uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros importados para os EUA — e foi lá e fez: nesta quarta-feira (30), em meio a tentativas de negociações por parte do governo brasileiro, o presidente norte-americano que implementa a medida.
As taxas devem entrar em vigor em até sete dias e podem prejudicar desde a indústria, o agronegócio e até pequenos produtores e, sobretudo, a população, que pode sentir esses efeitos direto no bolso caso a medida não seja revertida.
E você deve ter escutado por aí o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro nessa história. Sim, não está errado. Isso porque a condição de Trump para reverter a medida envolve um pedido um tanto quanto complexo em termos de política internacional.
Ele condicionou a aplicação das taxas como uma “punição” para o Brasil, caso o Congresso não aprove a Lei de Anistia, que protege Bolsonaro e seus aliados de punições judiciais no atentado aos Três Poderes, realizado em 8 de janeiro de 2023.
Sim, você leu certo: o político republicano, de outro país, está condicionando decisões econômicas à situação política interna de… um outro país.
Isso gerou debates intensos sobre soberania nacional, eleições em 2026 e bolsonarismo. Mas, antes de cair em uma discussão sobre o tema, ou se perder nos debates online, é bom entender direitinho o que está em jogo.
Continue com a gente nesse texto, que a CAPRICHO te explica ponto a ponto da questão:
1. Trump é (novamente) presidente dos EUA
Donald Trump foi reeleito em novembro de 2024 e assumiu o segundo mandato em janeiro do ano seguinte, adotando uma política comercial ainda mais agressiva que a da sua primeira gestão, lá em 2016. Isso posto, vamos ao próximo tópico.
2. Planos de tarifas impostos em série
Em 2 de abril deste ano, Trump anunciou os chamados “Liberation Day Tariffs”: uma tarifa base de 10% para quase todos os países, com taxas adicionais específicas segundo déficits comerciais.
Quatro meses depois, escalaram os percentuais para até 50% para países como Brasil, Canadá, União Europeia e México, a partir de 1º de agosto. Não há como driblar mais esse prazo e, hoje, 30 de julho, ele assinou o decreto que confirma o valor adicional de 40%.
3. Por que o Brasil está no alvo
Trump justificou a tarifa total de 50% sobre os produtos brasileiros como retaliação à condução do julgamento de seu aliado, o ex-presidente, Jair Bolsonaro. O julgamento é classificado por ele como uma “caça às bruxas”.
Analistas políticos dizem que pode existir certa vantagem em Trump defender Bolsonaro. Isso porque o presidente norte-americano também é alvo de investigações na Justiça dos EUA, assim como Bolsonaro por aqui. Pela lógica, se Bolsonaro se “dá bem”, a chance de Trump ter um exemplo para fugir das medidas e decisões contra ele, podem ser maiores.
4. Outras nações também afetadas
Além do Brasil, Canadá e México enfrentam tarifas de 35%, a União Europeia e México chegam a 30%, e Japão e Coreia do Sul podem chegar a 25%, como parte do mesmo plano tarifário global. Pois é.
5. Impactos reais no Brasil
Por aqui, teremos impactos diretos em produtos que estão no nosso dia a dia, como: café, carne, suco de laranja, açaí, etc. As tarifas norte-americanas podem encarecer exportações ou levar à perda dessa fatia de mercado.
Em São Paulo, por exemplo, órgãos estimam que até 120 mil empregos podem ser afetados e o PIB do estado pode cair até 2,7%.
Para você ter uma ideia, até organizações ligadas à indústria e ao agronegócio brasileiros se posicionaram contra o chamado “tarifaço”.
6. O que o Brasil fez até agora
O governo brasileiro protocolou uma reclamação formal na OMC (Organização Mundial do Comércio) e aprovou medidas recíprocas com base na Lei de Reciprocidade Comercial. Mas o presidente Lula deixou claro: não vai interferir na Justiça para proteger Bolsonaro.
Pelo contrário: há quem diga que, já que os filhos do ex-presidente Bolsonaro dizem que Trump atendeu a um pedido deles para pressionar a justiça brasileira, Lula sairá beneficiado nesse caso, considerando o contexto político. Afinal, é importante lembrar: 2026 é ano de eleições gerais e Lula é um candidato em potencial (lembra que já falamos sobre isso, lá em 2022, no CH na Eleição?).
O governo buscou diálogo via diplomatas e parlamentares, mas não existiu abertura do lado norte-americano até o momento para negociações. Uma comitiva com 8 senadores, incluindo Jacques Wagner, líder do governo na Casa, foi estruturada e enviada aos Estados Unidos. Não houve telefonema entre os dois presidentes.
7. O que o minério brasileiro tem a ver com isso?
Em meio às discussões e negociações sobre tarifas, chegamos até as terras mais férteis do Brasil quando o assunto é minério. Pois bem. Tudo começou quando o embaixador interino dos EUA, Gabriel Escobar, sinalizou às mineradoras brasileiras o interesse dos norte-americanos pelos minerais do país, incluindo terras raras.
Esses materiais raros são fundamentais para a fabricação de ímãs que vão em carros elétricos, painéis solares, turbinas eólicas e várias tecnologias de defesa, por exemplo.
Reportagem do jornal Folha de S. Paulo, afirma que uma estratégia pode ser o Brasil pode usar o tema a seu favor nas negociações. Afinal, a segunda maior reserva de terras raras do mundo é aqui.
Mas o presidente Lula (PT) já avisou: estas reservas “pertencem ao povo brasileiro”, que tem o direito de usufruir de suas riquezas. “Esses dias eu li numa matéria que os Estados Unidos têm interesse nos minerais críticos do Brasil”, afirmou ele. “Ora, se eu nem conheço esse mineral crítico. Vou pegar ele para mim. Por que eu vou deixar outro pegar?”
8. Mas, calma, existem algumas saídas. Ainda.
Nesse contexto que você já compreendeu acima, existe uma questão curiosa: alguns produtos podem ficar mais baratos.
O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, afirmou que produtos que não são produzidos internamente pelos EUA podem receber uma tarifa zero.
Os produtos seriam: manga, cacau, café e abacaxi. E ainda existem outros que, segundo o jornal Folha de S. Paulo, podem ter entrado em uma suposta lista realizada pelo setor do agronegócio norte-americano e entregue à USTR (Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos).
Nesta nova lista, que seria mais extensa, estariam produtos como frutas tropicais, frutos do mar, suco e óleo de palma. As negociações, então, seriam feitas com tarifas diferentes para cada países — chegando até a ter a tarifa zero para alguns produtos.
Mas é isso: ao que tudo indica, Trump está decidido ir até o fim. Do nosso lado, só nos resta acompanhar essa “treta”, que já se transformou em uma guerra comercial desde o primeiro momento.
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