Na SPFW, Piet faz gol ao mostrar que sem torcedor o futebol não tem graça
Estilista Pedro Andrade transformou o Estádio do Pacaembu em passarela para refletir como o esporte atravessa as identidades brasileiras

olocando em campo diferentes formas de como o futebol atravessa as identidades brasileiras, a Piet encerrou a edição N59 da São Paulo Fashion Week com um desfile que ocupou o Estádio do Pacaembu, nesta sexta-feira (11). O gramado virou passarela para apresentar a coleção Farmers League, na qual o estilista Pedro Andrade aborda com afeto as memórias que envolvem o esporte que é símbolo do país.
O evento ganhou proporção grandiosa entre os admiradores de moda não só pelo local escolhido, mas também por ter sido o único dessa temporada da SPFW aberto ao público. Foram disponibilizados 4 mil ingressos para a comunidade da marca, que tomou parte da arquibancada do estádio. A atitude, que pretende democratizar o espaço elitista da moda, se insere em um contexto perfeito no qual sem o torcedor o futebol não tem a mesma graça ou emoção – e nem a moda.
“Essa decisão dialoga diretamente com o que eu acredito e é conflitante com o que as pessoas acreditam que é meu trabalho. Então, essa é uma grande resposta a todo mundo que não acredita que a moda democrática começa com o discurso, com a informação, com o conhecimento, com acesso. O produto vem depois”, afirma Pedro Andrade em entrevista à CAPRICHO. Agora, ele também é diretor criativo da chamada Mercado Livre Arena Pacaembu, o que significa que será responsável pelos produtos oficiais e uniformes dos trabalhadores.
“Um desfile desse dá acesso a um lugar que pouquíssimas pessoas têm acesso, e é por muitas vezes visto como um lugar elitista e blasé. A gente quer reverter isso e mostrar que o desfile é onde vamos expor nossos princípios e mostrar que a moda não se faz sozinha, que a gente é um coletivo”, completa.

A coleção Farmers League traça uma linha do tempo da vida de um cidadão brasileiro e de como o futebol atravessa suas lembranças e vivências. “O futebol, você gostando ou não, se você nasce no Brasil, você tem referências de futebol. Você nasce com um time, que ele está dentro de você e não pode trocar, você escuta as pessoas falando de futebol, você assiste futebol… Então, o futebol, na minha teoria, está no nosso DNA, ele está intrínseco na gente“, explica o diretor criativo da Piet.
As peças que trazem ilustrações que imitam o desenho de uma criança, feitas pelo artista grego Apostolis Dimitropoulos, evocam uma certa nostalgia da infância, por exemplo. Em seguida, a estampa camuflada faz referência ao alistamento militar obrigatório para garotos que completam 18 anos. “Como a gente não tem guerra, as pessoas só jogam bola dentro do exército nesse período ou pintam campos de futebol das cidades. Então, a gente tem essas histórias acontecendo”, acrescenta Pedro.

Misturando parcerias com marcas como Levi’s, Puma, Swarovski, Oakley e KidSuper, a marca passeia por diferentes personalidades que rodeiam um time de futebol – o jogador, o torcedor, a comissão técnica, o controle antidoping, o videogame, a criança…
A beleza, assinada por Helder Rodrigues, acompanha essa narrativa e ganha destaque especialmente com os modelos que têm seus rostos pintados, simbolizando o fanatismo no futebol. “O desfile é dividido em blocos. Ele começa naqueles meninos jogando uma pelada, então os modelos vêm mais suados, com aquele blush de esporte que todo mundo fica meio vermelhinho. Depois, passa por uma maquiagem um pouco mais sóbria, que são pessoas que trabalham dentro do futebol, e termina com os jogadores e torcedores e o próprio fanatismo. Eu criei bandeiras e umas formas geométricas pintadas na cara, representando pessoas muito apaixonadas por futebol”, explica o maquiador.

Embora seja popularmente conhecida como uma moda de streetwear, e tenha essa denominação contestada por alguns, Pedro Andrade declara que hoje a Piet extrapola esses limites. “Eu bebo de referências das ruas, da raiz do streetwear brasileiro, onde ele nasceu, toda essa árvore genealógica que influenciou a moda no Brasil. Mas, a construção do meu produto não tem nada a ver com streetwear. Hoje, eu faço uma moda contemporânea, uma moda que está no mundo inteiro, a gente vende em quase todos os países do mundo e em pontos contemporâneos, de luxo.”
“Acho que a gente conseguiu sair dessa caixinha que muitas pessoas nos colocam, dessa gaiola que colocam o streetwear. Hoje, conseguimos falar com segurança que a gente não tem mais essa amarra de ser aquele streetwear antigo que as pessoas conhecem”, conclui o estilista.
