Maldito Paris celebra 15 anos com releitura da icônica Melissa Texas

CAPRICHO conversou com Francisco Terra, estilista brasileiro e dono da etiqueta parisiense que já fez peças que até Beyoncé e Miley Cyrus já usaram.

Por Andréa Martinelli Atualizado em 20 Maio 2025, 14h20 - Publicado em 20 Maio 2025, 09h00
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rancisco Terra, o estilista por trás da quase que autobiográfica marca parisiense Maldito Paris, tem muitos motivos para celebrar em 2025: são 15 anos de trajetória na moda, a estreia da marca na semana de alta-costura de Paris e, talvez o mais simbólico para ele, o lançamento de uma colaboração com a Melissa — sapato que ocupa um espaço afetivo em sua história desde a infância – e esta entrevista para a CAPRICHO.

“A Melissa, assim como a Capricho, faz parte da minha memória afetiva de adolescência — referências que moldam a identidade da Maldito hoje. Meu primeiro contato com a marca foi com a ‘Melissinha’, em uma propaganda de TV. Lembro do sapatinho vermelho com uma pochete interna que me encantou. Acabei ganhando uma conga no lugar (risos), e essa frustração ficou ali, guardada.”

Todo o entusiasmo existe porque, nesta quarta-feira (20), Melissa e Maldito Paris lançam uma colaboração inédita que promete causar impacto – e a CAPRICHO te conta com exclusividade essa notícia: a collab é uma releitura arrojada da clássica bota Melissa Texas — agora reinterpretada sob a lente provocativa do designer brasileiro que já fez peças que foram usadas por Miley Cyrus e até Beyoncé.

A proposta da releitura é clara: transformar o estilo western em algo novo, vibrante e fora do óbvio. Para isso, o designer trouxe a união do shape icônico da Melissa com os laços dramáticos, as cores intensas e a estética maximalista, que dão origem a um calçado que vai além da tendência — é quase uma declaração de identidade e personalidade.

“Sou obcecado por esse modelo — cresci em Mercês, interior de Minas, onde o rodeio era o evento do ano. A estética da bota de cowboy me acompanha desde então”, conta. “Já fiz versões para Beyoncé, Miley Cyrus, para desfiles em Paris, para a New Rock… E a Melissa Texas casava perfeitamente com isso. Quando vi que a Melissa lançou uma de cowboy, pensei: ‘Agora é a hora de insistir de novo’”, revela o estilista.

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A Maldito conversa com quem está se entendendo no mundo, se descobrindo em relação à identidade, gênero, estilo”

Francisco Terra, da Maldito Paris, à CAPRICHO

Há pelo menos oito anos Terra cultivava o sonho de fazer uma colaboração com a Melissa. Enquanto isso, ele tocava a Maldito Paris, direto da França, e consolidava sua marca por lá. Conhecida por coleções artesanais e produções em edições limitadas, a label conquistou reconhecimento mundial justamente por unir influências culturais diversas em peças que fogem do óbvio. 

Para este momento, a Melissa Texas ganha cores inovadoras — preto grafite, roxo intenso e rosa pastel — e, se você reparar bem, um laço, o qual é um traço da Maldito Paris e, neste contexto, transforma a bota em um presente para celebrar este momento da marca.

A Maldito conversa com quem está se entendendo no mundo, se descobrindo em relação à identidade, gênero, estilo”, afirma o estilista, que acredita que a collabs também existem para reforçar a liberdade criativa, a diversidade de corpos e a multiplicidade de estilos. “Eu sempre tive ideias, mas nunca soube fazer sapato. A collab é uma solução inteligente e emocional. A Melissa, por exemplo, tem esse poder: é uma marca que entendeu cedo quem é o público jovem, que tem um discurso aberto sobre raça, gênero, sexualidade.”

Em entrevista a CAPRICHO, Francisco fala não só sobre a parceria, mas sobre o futuro da Maldito Paris (que ficará cada vez mais próxima do Brasil, segundo ele) e o desejo de dialogar cada vez mais com uma nova geração de jovens que, como sua marca, também estão em plena construção de sua personalidade.

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Leia o papo completo abaixo:

CAPRICHO: Para começarmos, como surgiu a parceria com a Melissa?

Francisco Terra: Essa colaboração não aconteceu de um dia para o outro. Na verdade, eu estou tentando fazer algo com a Melissa há mais de oito anos. Sempre foi uma vontade minha, desde a época da minha primeira marca em Paris. A Melissa, assim como a CAPRICHO, faz parte da minha memória afetiva de adolescência — referências que moldam a identidade da Maldito hoje.

Meu primeiro contato com a marca foi com a ‘Melissinha’, em uma propaganda de TV. Lembro do sapatinho vermelho com uma pochete interna que me encantou. Acabei ganhando uma conga no lugar [risos], e essa frustração ficou ali, guardada.

E como finalmente essa ponte se construiu?

Foi graças à Jöa, do Yume Craft Studio, que me representa no Brasil. A gente começou a destravar essa história há cerca de um ano e meio. Eu, de Paris, e ela, do Brasil, abrimos frentes até que um dia mandei uma mensagem meio despretensiosa no Instagram da Melissa. E quando nos encontramos tudo pareceu tão óbvio… Como se esse encontro tivesse que acontecer. Aquelas coincidências que a vida guarda.

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A bota escolhida para a collab foi a Melissa Texas, que agora aparece com uma nova estética. Como você pensou essa peça?

Foi um processo natural. Em 2018, num dos meus contatos com a Melissa, eu já tinha sugerido uma bota cowboy. Sou obcecado por esse modelo — cresci em Mercês, interior de Minas, onde o rodeio era o evento do ano. A estética da bota de cowboy me acompanha desde então.

Já fiz versões para Beyoncé, Miley Cyrus, para desfiles em Paris… E a Melissa Texas casava perfeitamente com isso. Quando vi que a Melissa lançou uma cowboy, pensei: “Agora é a hora de insistir de novo”.

Essa collab também celebra os 15 anos da Maldito, então quisemos trazer elementos da festa de debutante — laços, presente, brilho. É literal e simbólico: essa parceria é um presente pra mim.

A marca completa 15 anos em 2025. Quais são os próximos passos da Maldito?

A gente estreia na Alta-Costura agora, no dia 7 de julho. Vai ser um desfile autobiográfico, que conta essa trajetória desde o colégio marista em Belo Horizonte até Paris. É um desfile sobre juventude queer, sobre anos 1990 e 2025, sobre construir uma identidade brasileira mesmo longe do Brasil.

A estética da Maldito hoje é muito mais direta. Antes, as referências brasileiras eram mais sutis. Agora, falo de telenovela, de Carnaval, do que é “fantástico”. Estou usando inclusive materiais reciclados de desfiles carnavalescos. Quero trazer o Brasil de forma clara, visual, dramática.

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A partir disso, espero abrir caminho para uma segunda frente: o Maldito Brasil, que começa com essa collab com a Melissa e deve crescer com outros produtos — como uma linha de cuecas descoladas, por exemplo. Mas sempre com collabs. É assim que quero construir comunidade e entrar consistentemente no mercado brasileiro.

O estilista Francisco Terra com o
O estilista Francisco Terra com o “presente” de 15 anos da marca em mãos. Melissa/Divulgação

Essa parceria com a Melissa também representa uma aproximação maior da moda com o público jovem. A gente tem visto cada vez mais marcas usarem sneakers e sapatos “reais” nas passarelas. Você acha que isso muda como as marcas se conectam com a juventude?

Totalmente. A passarela precisava se renovar. E hoje, a maneira mais potente de comunicar é pela boca dos jovens. Eles é que ditam o que tem voz. E faz todo sentido trazer o que eles já vivem — tênis, conforto, streetwear — para esse espaço que sempre foi mais sério.

Tem a ver com rede social, com lifestyle. E com acessibilidade também. Um jovem vê um look com um sapato que ele já tem ou pode ter, e entende que aquilo também é dele. E isso cria novas estéticas. Antes, a gente não via um vestido de passarela com um tênis estiloso. Agora, isso é tendência.

E, nesse sentido, as collabs também ajudam?

Muito. Por exemplo, sapato é outro universo — produção, desenvolvimento, técnica. Eu sempre tive ideias, mas nunca soube fazer sapato. A collab é uma solução inteligente e emocional. A Melissa tem esse poder: é uma marca que entendeu cedo quem era o público jovem, que tem um discurso aberto sobre cor, gênero, sexualidade… Foi um processo lindo, e eu me senti muito cuidado. Isso é raro.

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