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Madonna criou imagem subversiva na moda que inspira jovens até hoje

Cantora desafiou limites tradicionalmente impostos às mulheres e, com looks icônicos, levantava bandeira da liberdade sexual feminina

Por Sofia Duarte Atualizado em 29 out 2024, 15h52 - Publicado em 3 Maio 2024, 15h30
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á mais de 40 anos, em 27 de julho de 1983, Madonna lançava seu álbum de estreia e, a partir dali, revolucionaria o mundo da música pop. Desde o início de sua carreira, a artista nascida em Bay City, Michigan, nos Estados Unidos, hoje com 65 anos, encontrou em suas letras, performances e videoclipes um meio de transmitir mensagens e posicionamentos políticos, principalmente a favor da liberdade sexual feminina. Foi pioneira ao abordar assuntos considerados polêmicos em uma década de extremo conservadorismo, rompendo barreiras de gênero, fazendo declarações em defesa de vítimas da AIDS e dando visibilidade à comunidade LGBT+. E, para acompanhar seu comportamento transgressor, construiu uma imagem através da moda que virou inspiração para as adolescentes da época – e continua influenciando a geração Z e as tendências atuais.

Madonna e a construção de imagem na década de 1980

É interessante perceber que Madonna e a MTV surgiram praticamente juntas. O canal de TV, fundado em 1981, trouxe uma necessidade de pensar em grandes produções visuais para serem exibidas, e os clipes da cantora foram precursores nesse sentido. No início, ela se utiliza da repetição de elementos para construir sua imagem, seja nos vídeos das músicas, nas capas dos discos ou em eventos públicos, conforme analisa Helena Dib, stylist, diretora de arte e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP com a dissertação “A figuratividade do artista na indústria fonográfica: inovações na música e na moda”. Esses códigos eram associados à estética punk – laços na cabeça, cabelo rebelde loiro platinado, muitos acessórios, colares, pulseiras, brincos grandes, transparência, sobreposição de legging com saia, luva com dedos cortados, renda, corset, a cruz e outros símbolos que historicamente representam opressão para as mulheres e foram apropriados por ela para fazer uma crítica e se posicionar justamente ao contrário disso.

“Através da análise semiótica, eu identifiquei que muito disso tem a ver com a própria personalidade da Madonna, com essa dicotomia entre o sagrado e o profano. Ela vem de uma criação cristã e religiosa, mas ao mesmo tempo era muito subversiva. Então, ela traz essas duas questões não só para música, mas para o figurino também“, explica Helena Dib em entrevista à CAPRICHO

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O primeiro clipe em que vemos a identidade de Madonna já mais consolidada é o de Borderline (1983), e, na sequência, nos vídeos de Lucky Star e Like A Virgin (1984). “A partir do momento em que ela crava essa imagem, ela começa a explorar e a virar um camaleão. As pessoas já sabem quem é Madonna, então ela desenvolve uma liberdade. Corta o cabelo, pinta de preto… E principalmente a icônica parceria com Jean Paul Gaultier, que deu origem ao famoso sutiã de cone. Ela foi uma das primeiras artistas grandes a ter um estilista que se tornou seu figurinista e trouxe peças importantes que definiram a moda”, completa a stylist.

Madonna usando look com busto de cone feito pelo estilista Jean Paul Gaultier na Blonde Ambition Tour, de 1990
Madonna usando look com busto de cone feito pelo estilista Jean Paul Gaultier na Blonde Ambition Tour, de 1990 Gie Knaeps/Getty Images
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O jeito irreverente de Madonna se vestir era ligado ao estilo underground com itens de brechó e ficou conhecido como flash-trash; assim, ela se tornou uma referência para as adolescentes da época. O loiro platinado e as sobrancelhas grossas, por exemplo, formavam um visual que todo mundo queria copiar! Na primeira edição do MTV Video Music Awards, realizada em 1984, a cantora fez uma apresentação de Like A Virgin no palco com um look que remontava a capa do álbum de mesmo nome. Usando um vestido de noiva com corset e luvas de renda e cinto com a expressão “Boy Toy” escrita (que era da sua marca de roupa de mesmo nome e podia significar ‘garoto brinquedo’ ou ‘brinquedo de garoto’), bagunçou o cabelo, dançou e rolou no chão, subvertendo conceitos convencionais do comportamento imaculado de uma noiva. Mais uma vez, projetava a rara imagem de uma mulher livre que toma suas próprias decisões.

Madonna apresenta
Madonna apresenta “Like A Virgin” no MTV Video Music Awards de 1984 Richard Corkery/NY Daily News Archive/Getty Images

Se, por um lado, temos uma Madonna usando peças que dialogam com a sexualidade feminina, por outro, a vemos usando terno, roupa tradicionalmente considerada masculina. Para a polêmica performance do VMA de 2003, em que beija Britney Spears e Christina Aguilera, ela apostou em um look monocromático preto considerado mais ‘andrógino’.

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No livro A Cultura da Mídia, no capítulo 8 – Madonna, moda e imagem, o filósofo e acadêmico norte-americano Douglas Kellner se debruça sobre a imagem da artista naquela década. “Seus primeiros videoclipes e shows transgrediam as fronteiras do trajar tradicional, e ela se entregava a um comportamento sexual desinibido, subvertendo os limites do apropriado para a mulher. Assim, desde o começo, Madonna foi um dos ícones femininos mais escandalosos do repertório das imagens que circulavam com a sanção da indústria musical. Embora, sem dúvidas, existissem muitas figuras bem mais subversivas, suas imagens e mensagens não circulavam pela cultura dominante; portanto, não tinham a eficácia da popularidade”, escreve ele. Em outro momento do texto, completa: “Madonna legitimava a moda e o comportamento sexual não convencionais, cativando um público que se sentia estimulado pelo seu desdém aos códigos e às convenções tradicionais.”

Madonna nos anos 1980
Madonna nos anos 1980 Bill Marino/Sygma/Getty Images

A influência atual e na geração Z

Antes de Lady Gaga, Miley Cyrus, Rihanna, Britney Spears e tantas outras artistas, existiu Madonna, que virou uma fonte de inspiração para elas. “There’s only one queen, and that’s Madonna, bitch!”, já dizia Nicki Minaj na música I Don’t Give A, em colaboração com a própria Madonna. Afinal, estamos falando de uma popstar pioneira não somente em videoclipes superproduzidos, mas em desafiar padrões impostos a uma figura pública feminina. Sem contar na relação próxima com estilistas renomados e na quantidade de tendências que lançou e até hoje são revisitadas nas passarelas e fora delas, né?

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Helena Dib percebe que, desde 2015, a artista tem se apropriado de seus próprios códigos da moda para resgatar a imagem da Madonna que ficou marcada. “A geração Z não necessariamente sabe quem é a Madonna, mas conhece o estilo que ela proliferou. Os jovens e adolescentes sabem do sutiã icônico dela, desse estilo dos acessórios com as cruzes, com renda, transparência. Tudo isso que a Madonna plantou nos anos 80 muitos jovens reproduzem sem exatamente conhecer a origem. E, aí, ela se reapropria do que é dela para comunicar com a galera mais nova. Ela se comunica com esse público e faz com que seu legado permaneça e se reinvente constantemente. É genial.”

Madonna em 1984 em München
Madonna em 1984 em München Fryderyk Gabowicz/picture alliance/Getty Images
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