Fernanda Torres honra memória e luta de Eunice Paiva através da moda

Em entrevista à CAPRICHO, o stylist Antonio Frajado explica mensagem dos looks da atriz brasileira durante divulgação do filme 'Ainda Estou Aqui'

Por Sofia Duarte 14 jan 2025, 14h00
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ão é fácil traçar uma narrativa carregada de sentimento e história de um povo por meio de elementos visuais. Mas o trabalho de Fernanda Torres e seu stylist, Antonio Frajado, mostra que, quando isso é feito com sensibilidade, o resultado é um sucesso estrondoso.

Frajado conta, em entrevista à CAPRICHO, que as escolhas dos looks da atriz brasileira durante a divulgação de Ainda Estou Aqui têm a intenção de preservar a memória de Eunice Paiva, personagem interpretada por Torres no filme de Walter Salles. “Ela [Fernanda Torres] trouxe o guide inicial, que era a questão da Eunice, dessa memória que precisava ser preservada e essa personagem que de alguma forma precisava estar pareada à figura que criaríamos na narrativa de apresentações.”

As aparições de Fernanda Torres em tapetes vermelhos, festivais de cinema e premiações, portanto, traduzem um respeito à história abordada no longa. “Ter esse desafio é muito interessante. Porque não é só mais ‘Olha, vi esse vestido que é muito legal e acho que você deveria usar’. Existe todo um pensamento por trás, e a escolha fica mais intelectualizada. Não é apenas a partir do seu gosto pessoal, porque é bonito, tendência ou eu acho que você deveria ir vestida com esse estilista porque ele é o hype do momento. Não é isso. As escolhas não são baseadas em nenhum recorte muito óbvio da moda”, completa o stylist, que trabalha com a atriz brasileira há mais de 13 anos.

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“A mensagem importante a ser transmitida é a da simplicidade, de não ser excessivo e ser respeitoso com o tema do filme, ser respeitoso com a memória da Eunice. Somos brasileiros, e o nosso país por muitas vezes é um país miserável, um país muito difícil. O tema do filme é sobre um horror vivido. E, daí, você tem uma atriz sul-americana, e pisar no tapete vermelho com um look muito fora disso tudo fica nos parecendo um pouco fora do lugar. Então, a mensagem é essa, que você não precisa estar excessivo para ser notado. Você precisa estar no tom certo com tudo, com o tema, com de onde você veio, com sua narrativa“, acrescenta.

Com tudo isso em mente, se torna complexo encontrar uma roupa que esteja à altura dessas exigências. “Nada que seja um pouco fora desse esquema é aprovado. Para você conseguir uma roupa de red carpet que seja simples e interessante, que seja simples e que tenha um certo impacto, é muito difícil.”

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Por outro lado, o profissional cita o caso de Blake Lively, que foi criticada no ano passado ao optar por produções extravagantes para divulgar É Assim Que Acaba, um filme que relata a jornada de um relacionamento amoroso abusivo, e a defende. “Eu também não acho que esteja errada a pessoa que decide ir de uma forma mais óbvia para um tapete vermelho. Ela está no direito dela. Porque essa simplicidade e isso que eu, Fernanda e toda a equipe envolvida chegamos à conclusão que a gente deveria seguir não é uma regra, é apenas uma forma de se fazer. Todas as outras formas estão certas também. Se a pessoa quer viver um sonho e usar uma roupa que traduza uma coisa que ela sempre sonhou em se ver vestida, isso não deve ser proibido. A Blake Lively sofreu esse tipo de crítica quando foi divulgar seu filme sobre abuso doméstico. Mas eu acho que a pessoa tem o direito de fazer o que ela quiser. Não tem uma forma certa, e acho errado isso ser cobrado também. É só uma forma a gente escolheu apresentar, e que legal que as pessoas gostaram, era para todo mundo gostar mesmo, essa era a intenção. Se alguém quiser copiar essa fórmula e fazer, maravilhoso, ficaremos superfelizes, mas não acho que deva ser uma imposição.”

O look preferido de Antonio Frajado até agora é o do Globo de Ouro, que ganhou ainda mais o mundo após a merecida vitória de Fernanda Torres na categoria Melhor Atriz em Drama. O vestido preto é do estilista estilista belga Olivier Theyskens, e as joias escolhidas do designer brasileiro Fernando Jorge. A produção foi bastante elogiada pelo público e pela crítica especializada, mas também surgiram cobranças nas redes sociais por uma escolha de roupa assinada por uma marca nacional, pauta que costuma ser levantada quando brasileiras vão a eventos internacionais.

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“É óbvio que se a gente puder usar alguma coisa nacional, se tiver alguma coisa nacional que seja perfeita para a ocasião, ela vai ser usada. Mas a imposição dessa ideia vira uma discussão boba. Exigir isso da pessoa em um momento desses… Eu não sei se é uma coisa que possa possa ser exigida. A roupa tem que vir, e não é fácil chegar em um look que siga uma linha de pensamento. Eu tinha coisas nacionais penduradas, mas é mais sobre a roupa mesmo, né? Não é sobre a nacionalidade dela. Amamos e reverenciamos a moda nacional, mas, às vezes, não era o que a gente estava buscando, e daí não tem que ser feito. Exigir que a pessoa entregue tudo o tempo inteiro, ela precisa entregar a moda nacional, o prêmio, precisa ganhar o prêmio, ir ao tapete vermelho… É muita coisa. Então, a discussão fica pequena. A pessoa não pode salvar todas as esferas de um país. Ela já está aí, representou, ganhou um prêmio, já tá grande, ela já é brasileira.”

Exigir que a pessoa entregue tudo o tempo inteiro, ela precisa entregar a moda nacional, o prêmio, precisa ganhar o prêmio, ir ao tapete vermelho… É muita coisa. A pessoa não pode salvar todas as esferas de um país.

Antonio Frajado, stylist de Fernanda Torres

O stylist, porém, garante que já tem looks nacionais em vista, e que o do Critics Choice Awards, evento que foi reagendado para o fim do mês devido aos incêndios de Los Angeles, seria um exclusivo Alexandre Herchcovitch, que agora provavelmente será remanejado. Vamos ficar de olho nas próximas aparições de Fernanda Torres para continuar acompanhando essa narrativa de sucesso também na moda.

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