Candy Mel, da Banda Uó, denuncia caso de transfobia em aeroporto
A cantora, que é trans, foi revistada por policiais homens ao viajar para Brasília
Candy Mel, uma das integrantes da Banda Uó, passou por momentos tensos neste domingo (4). A cantora estava no aeroporto de Galeão, no Rio de Janeiro, e embarcava a caminho de Brasília, onde acontece o último show da banda, que anunciou uma pausa na carreira no final do ano passado, quando foi vítima de transfobia por meio de funcionários do aeroporto.
“Estou detida aqui no aeroporto porque dois caras queriam me revistar alegando que no meu documento constava (nome) masculino. Eles me coagiram, me levaram para uma sala com dois caras para fazer a revista em mim e eu não aceitei. Estou aqui, correndo o risco de perder o show de Brasília. (…) Eles não vão tocar em mim, eu não vou cooperar. Eu estava jurando que era uma revista comum de bagagem e de repente eles trancaram a porta (…) e pediram para eu tirar a roupa (…). Eu só não fui mais coagida porque a equipe inteira (da banda) estava aqui”, relatou Candy em seus Stories.
De acordo com a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), a Polícia Federal pode fazer uma revista física em passageiros mesmo após a passagem pelo detector de metais. Porém, a revista só pode ser feita por agentes do mesmo sexo do passageiro. Além disso, é direito do passageiro escolher se quer ser revistado em público ou em uma sala reservada, sempre com a presença de uma testemunha. No caso de Candy Mel, que é trans, ela deveria ser feita por uma agente do sexo feminino.
Inconformada com o acontecido, a cantora exigiu então que a revista fosse feita ali no meio da galera mesmo e, mais tarde, conseguiu embarcar. Já em Brasília, ela contou mais um pouco sobre o caso.
“No final eu acabei sendo revistada, mas foi em público. Eu queria que acontecesse na frente de todo mundo, para que vissem um homem tocando o corpo de uma mulher. A minha forma de protesto, antes dessa invasão, desse abuso, foi ficar sem camisa, com meus seios de fora. Isso foi a minha forma de gritar. Rapidamente eles resolveram o ‘problema’, né? Eles queriam que fosse dentro de uma cabine, que ninguém tivesse visto aquela cena (…). Foi muito violento (…), eu fui tratada como uma criminosa, como alguém que não tinha direito de escolher o procedimento que fosse acontecer, como alguém sem direitos. Todo esse preconceito começa pelo fato de eles selecionarem a pessoa do nada. Eles não estavam pedindo o documento de ninguém, mas pediram o meu”, disse.
Candy contou ainda que pessoas que estavam trabalhando no aeroporto fizeram “gracinha” com sua cara e disse que vai tomar as devidas providências sobre o caso.
Na semana passada, o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou que transgêneros agora podem alterar o nome biológico e o gênero diretamente no cartório, sem precisar passar por uma cirurgia de mudança de sexo.