BTS e outros nomes do K-pop se pronunciam sobre #BlackLivesMatter
Os fãs também estão se engajando em ações antirracistas nas redes sociais; Entenda
Os artistas do K-pop estão se pronunciando sobre o movimento #BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam). A causa — que se estendeu pelas ruas e redes sociais após George Floyd ser asfixiado até a morte por policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos —, ganhou o mundo e também chamou atenção dos astros sul-coreanos.
Depois de Ariana Grande, Tinashe, Halsey, Camila Cabello e outras celebridades da música americana irem às ruas manifestar seu apoio a comunidade negra, do outro lado do planeta, na Coreia do Sul, grupos como BTS, Monsta X e ATEEZ estão se somando a outros artistas do ritmo e utilizando as plataformas, além do alcance massivo, contra o racismo nos últimos dias. “Nós somos contra a discriminação racial. Nós condenamos a violência. Você, eu e todos nós temos o direito de sermos respeitados. Nós estamos juntos”, escreveu BTS em seu perfil:
Monsta X publicou: “Nós estamos juntos pela igualdade, justiça e dignidade.”
O boy group ATEEZ mostrou apoio dizendo: “Somos solidários com aqueles que deram suas vidas pelo direito de serem ouvidos.”
Até o momento a lista de adeptos já conta com dezenas de nomes e vem crescendo a cada dia. BM e Jiwoo, do quarteto KARD, mostraram sua solidariedade e divulgaram links para doações; a cantora Minzy, ex integrante do 2NE1, disse: “Todas as cores são lindas e preciosas”; Tiffany Young, AleXa, Eric Nam, Irene, e Jae, integrante da banda Day6, também realizaram doações e compartilharam #BlackLivesMatters para seus milhares de seguidores.
Outros artistas como JK Tiger e Crush reforçaram a importância de um posicionamento da cena sobre a situação, principalmente, pelo fato de que a música pop coreana se inspira e utiliza elementos da cultura negra (como o hip hop, o break dance e o rap) na hora de criar. O rapper Jay Park demonstrou indignação em sua conta do Instagram e comentou sobre a influência que a música negra teve em toda a sua carreira. Ele também doou 10 mil dólares para o fundo de financiamento ao BLM.
A cantora CL foi outra que publicou carta aberta para seus seguidores: “Artistas, diretores, escritores, dançarinos, designers, produtores, estilistas na indústria do K-pop são todos inspirados pela cultura negra, tendo conhecimento disso ou não”, e continuou, “Eu gostaria de encorajar os fãs de K-pop a devolverem e mostrarem o amor e apoio que nós recebemos dos artistas negros”, disse. Revelando suas inspirações femininas negras e dizendo que todos nós estamos conectados com o que está acontecendo, ela concluiu, “Nunca é tarde demais, vamos mandar amor e apoio por cuidado, elevando vozes negras, nos educando e deixando cientes as pessoas ao nosso redor.”
Fãs ativistas:
Enquantos os idols estão levantando a bandeira antirracista, os fãs de K-pop também estão fazendo sua parte. Quer um bom exemplo? No dia 31 de maio, fandoms se organizaram através do Twitter para derrubar um aplicativo criado pela polícia de Dallas que funcionaria para denunciar possíveis ações violentas dos ativistas. “Se você possui vídeos de atividades ilegais em protestos e quer compartilhá-los com a polícia, você pode baixar nosso aplicativo iWatch Dallas. Você permanecerá anônimo em sua denúncia”, dizia a publicação. Não demorou para que as fancams (como são chamados os vídeos curtos que são viralizados nas redes para promover artistas) dominassem a postagem.
A ação pedia que todos baixassem o aplicativo e enviassem vídeos de cantores e grupos ao invés de imagens dos protestos. Rapidamente o aplicativo ficou sobrecarregado e saiu do ar. Horas depois, a polícia de Dallas fez um novo post avisando que o app havia sido retiro das plataformas.
Na terça-feira, dia 2 de junho, a tag #BlackoutTuesday (Terça-feira do apagão) surgiu acompanhada por quadrados pretos e preencheu toda a timeline. A manifestação virtual também incentivou usuários a divulgarem iniciativas, petições e influenciadores negros. Novamente, grandes nomes do K-pop como PSY, HyunA, Dawn, BoA, Wonho, Amber e Jessi seguiram a tendência e se posicionaram. Em seguida, supremacistas brancos tentaram levantar a tag #WhiteLivesMatter (Vidas Brancas Importam) como resposta ao movimento antirracista, mas não durou muito tempo. Novamente os kpoppers foram acionados para abafar as postagens racistas com spam de fancams e imagens de seus ídolos — e deu certo.
A intervenção positiva foi reconhecida por diversos ativistas e representantes da comunidade negra. O diretor de cinema Jordan Peele, vencedor do Oscar de melhor roteiro original pelo filme Corra!, fez questão de agradecer:
Essa, no entanto, não foi a primeira vez que um fandom do K-pop se engajou politicamente. Há anos que os fãs já organizam protestos, cobram posicionamento de agências sobre seus artistas favoritos, dão suporte e arrecadarem doações para entidades e causas sociais. Em março, por exemplo, o ARMY arrecadou cerca de 1,5 milhões de reais para ajudar no combate à propagação do novo coronavírus na Coreia do Sul.
Racismo dentro do fandom:
Fã-clubes são uma parte essencial de poder apoiar os artistas que amamos. Muitas vezes pertencer a um deles pode ser um caminho para nos relacionarmos com culturas diferentes, da mesma forma que também funcionam como um lugar emocionalmente seguro para muitas pessoas. Mas apesar dessa sensação de pertencimento e mesmo com a pluralidade de membros, eles não escapam do racismo. “Vivendo em uma sociedade racista é preciso entender que o fandom de K-pop, formado por indivíduos, não foge dessa realidade enquanto reflexo social do mundo em que estamos inseridos”, apontou Érica Imenes, jornalista, podcaster e autora dos livros K-pop – Manual de Sobrevivência, e K-pop – Além da Sobrevivência.
Nos últimos dois anos as hashtags #BlackARMYSMatter, #BlackARMYSEquality e #BlackARMYSelcaDay criaram um espaço para que fãs negros do BTS compartilhassem suas vivências como fã. Para Érica, além do comportamento do fandom, existe uma movimentação inicial por parte dos artistas coreanos e suas agências, e, que a cobrança dos fãs por um posicionamento antirracista é necessária e urgente: “Existem nuances no gerenciamento dos artistas, mas com a globalização da Onda Coreana, a exportação desses produtos culturais precisa considerar discussões globais como esta para que os fãs se sintam seguros em consumi-los”, disse. Como mulher negra e criadora de conteúdo, Imenes entende que as redes sociais também podem ser um agente de mudança: “Acredito que os fãs estão procurando entender e aprender melhor o que é o racismo. Precisamos agir dentro do fandom e falarmos sobre racismo como indivíduos e como sociedade para refletirmos sobre tudo isso de um jeito mais saudável”, concluiu.
Enquanto os protestos estão sem previsão para acabar, o movimento Black Lives Matter continua ganhando novos aliados através do K-pop. Criado pelas ativistas negras Alicia Garza, Patrisse Cullors e Opal Tometi, a organização fundada em 2013 possui a missão de combater o racismo, o fascismo, a desigualdade e a violência policial.
Como disse a professora e filósofa socialista estadunidense negra Angela Davis: “Numa sociedade racista, não basta não ser racista é preciso ser antirracista.”