Identidade

DECIFRANDO CAROL BIAZIN

“‘Mas o sol tocava minhas sardas. E temperava meu delírio.’ Esse delírio era o meu, no quarto, sonhando com o que eu vivo hoje.”

por Anny Caroline Guerrera Atualizado em 23 out 2025, 19h12 - Publicado em
23 out 2025
12h01
C

éu cinza e garoa fina. Em uma manhã nublada de quarta-feira, São Paulo mostrava suas características mais clichês para a chegada de Carol Biazin no set de capa da edição de outubro da CAPRICHO. Carismática e leve, a cantora passou sorridente pela porta do estúdio e não teve medo de abrir o coração para detalhar como sua própria personalidade está refletida nas canções do projeto No Escuro, Quem é Você?.

Já de início, SOU DO MUNDO é uma das composições que mais conversa com a forma como Carol vê a si mesma. Sem esconder o quanto gosta de passar tempo com as pessoas que ama (e com suas gatas), ela aprendeu a navegar entre o caos do mundo artístico e a calmaria de voltar para casa. “Foi um jeito poético de falar o quanto eu sou uma senhora”, brincou ela.

Mas o lado que prefere o conforto do lar não é novo na vida de Biazin. Pelo contrário, ele sempre esteve presente, seja nas horas que ela passava tocando violão no quarto, lá no interior do Paraná, ou na Carol mais caseira, que realiza sonhos enquanto navega pelas contradições que encontra na vida movimentada na cidade.

Em uma conversa sincera, a artista nos deu um vislumbre de quem é Carol Biazin por meio da arte que colocou no mundo.

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faixa a faixa com carol biazin

CAPRICHO: Vamos começar com SOU DO MUNDO. O que essa música diz sobre Carol Biazin?

Carol Biazin: Me define muito, essa coisa da minha profissão, do que eu faço e que, ao mesmo tempo, sou a pessoa mais caseira do mundo. Sou a menina que gosta de voltar para casa, que gosta de estar em casa. Foi um jeito poético de falar o quanto eu sou uma senhora. [risos] “Eu sou do mundo, mas eu posso ser sua. No off ou com foto num carrossel. Prefiro casa mas eu vivo na rua” [cantando]. Essa frase me define. O fato de eu estar sempre tendo que sair de casa, mas eu gosto de estar em casa, eu gosto de estar com a pessoa que eu amo, eu gosto de estar com as minhas gatas. Acho que, no fim das contas, a “Carol Caseira” que é a Carol.

Carol Biazin
Carol Biazin Camila Tuon/CAPRICHO

Hoje você está aqui nessa loucura de cidade grande, mas você tem o seu lado do interior também, né? Como é viver esses dois extremos? Você sente falta de casa, do interior?

Sinto muita falta. Muita falta mesmo. Principalmente nessa época da minha vida, tenho ficado mais emotiva com esse tema de família e estar em casa. Vamos ficando mais velhos, eu estou perto dos 30 agora, e vem aquele pensamento: “Nossa, acho que eu não vejo meus pais o suficiente. Acho que eu não estou fazendo as coisas que eu gostaria o suficiente.” Começou a bater em alguns lugares que talvez não batesse antes.

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No fim das contas, a “Carol Caseira” que é a Carol.

As pessoas falavam sobre “a crise” e eu entendi que a crise talvez seja um pouco isso de ver o quanto passa rápido, quantas vezes no ano eu consigo ver minha família, por exemplo. São coisas que me atingem. Vivo esse dilema de sofrer, apesar da cidade grande me proporcionar viver o meu sonho. Eu sempre falo que aqui [São Paulo], para mim, é 100% o meu sonho. É o que eu sou hoje. Meus amigos, construí uma família aqui também. Mas a minha casa é a minha base, que é lá no interior do Paraná, quietinha. Não tem shopping. Agora tem, abriu um. [risos]

Mas sinto falta dessa ingenuidade que eu tinha. Eu acho que era mais ingênua e é legal você ser ingênua às vezes. Quando a gente vai pegando um pouco o macete de algumas coisas, as paradas vão perdendo um pouco o brilho em alguns lugares, vamos ficando um pouco mais sérios. Nos levando mais a sério. Sinto um pouco de falta dessa ingenuidade. De não saber muito como as coisas funcionam.

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'as grandes contradições'

Acho que o que você falou da crise meio que se conecta com o fato de que você é muito, muito nova, mas às vezes parece que existe uma pressão…

De que eu não sou tão nova assim. [risos]

Você sente isso?

Sinto, muito. Isso de se levar a sério é algo que eu tenho trabalhado muito dentro de mim. Até acho que tentei me desprender disso nesse projeto, de fazer coisas que talvez eu não tivesse feito ainda e experimentar coisas que eu não tinha experimentado. Já me ajudou a me desprender dessa seriedade, dessa pressão que a gente automaticamente coloca em si mesmo. E é um trabalho, né? Muita terapia.

Carol Biazin
Carol Biazin Camila Tuon/CAPRICHO
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Você disse que não tinha shopping na sua cidade, não tinha tanta coisa pra fazer. Já emendando em Menina do Interior, como era um dia na sua vida?

Eu era muito nerd, né? Sempre fui muito nerd. Eu comecei a aprender violão com 8 anos e lembro que não saía do quarto. Ficava o dia inteiro tirando música. No início, tocando muito mal, depois começando a tocar mais ou menos bem e, depois, tocando muito bem. Minha mãe falava que eu ficava o dia inteiro assim. Tinha uma música que eu ficava tocando várias vezes e um vizinho sempre falava que tinha um CD riscado lá em casa. Ele brincava com isso. De fato, eu devia encher o saco dele. [risos]

Mas era uma música sua mesmo, que você escreveu, ou um cover?

Eu vivia cantando coisas da galera. Beyoncé. The Climb, da Miley [Cyrus]. Eu cantava muito essa no meu quarto. Ficava imaginando um show. Em Menina do Interior, eu falo: “Mas o sol tocava minhas sardas. E temperava meu delírio.” Esse delírio era o meu, no quarto, sonhando com o que eu vivo hoje. E, nessa música, eu estou reclamando de estar vivendo na cidade grande. É uma grande contradição, de fato.

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os fãs

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Camila Tuon/CAPRICHO

Às vezes, você olha para trás para assistir vídeos de momentos antigos da sua trajetória?

Não tenho como não assistir porque meus fãs me zoam até hoje. Eles colocam na minha timeline o tempo todo!

Eles amam te zoar, né? Mas é muito legal essa relação superleve com os fãs. Como é manter esse vínculo com eles?

É muito legal porque eles me respeitam muito. Quando eles se passam, eu consigo brincar com isso e eles entendem o que eu estou falando, sem a gente pesar o clima, sabe? É um jeito legal da gente se acompanhar. Eu me vejo muito neles. Talvez pela forma como escrevo, eu tenha me aproximado de pessoas muito parecidas comigo e acredito que isso ajuda muito na construção da nossa história. Fica cada vez mais forte porque é um espelho. Eu falo muito disso com eles.

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Inclusive, ligações de alma é uma música que eu sempre dedico para eles porque, na minha cabeça, tem essa coisa da gente ter se encontrado porque era para ser. Eles sempre me apoiaram desde o início, em todo o processo. Desde quando eu era uma artista completamente independente e fiz um financiamento coletivo. Eles me ajudaram e cada conquista tem sido nossa.

+_CHEGOU ATÉ AQUI? Leia a versão completa da entrevista com Carol Biazin na edição digital de OUTUBRO/25 de CAPRICHO no GoRead, maior banca de revistas digital do Brasil.

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