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Xiran Jay Zhao fala sobre sucesso de Viúva de Ferro e sua vinda ao Brasil

Conversamos com Xiran sobre participação na Bienal do Livro, sua origem chinesa e as novidades do próximo volume

Por Gustavo Balducci 20 jul 2022, 17h58

Em Huaxia, universo apresentado no livro Viúva de Ferro, as mulheres servem apenas como energia vital para o funcionamento de gigantescas máquinas de guerra, que são pilotadas por homens na tentativa de proteger a humanidade de ataques alienígenas. É nesse cenário dominado pelo patriarcado que a protagonista Wu Zetian, inspirada na única mulher que ocupou o trono da China imperial, se infiltra para vingar a morte da irmã – sacrificada em um dos embates de robôs e monstros.

Apesar de ser uma história de distopia, tema bastante presente nos livros que fazem sucesso com o público jovem, a obra de estreia de Xiran Jay Zhao reflete grande parte dos problemas que as mulheres, infelizmente, também enfrentam no mundo real. “Boa parte do universo de Viúva de Ferro foi baseado nos meus medos reais, experiências e histórias que ouvi”, diz Xiran à Capricho. “Eu queria criar um mundo composto pelos meus piores pesadelos e escrever a história de uma menina que ascende apesar de tudo isso”.

Depois de bombar nas redes sociais, incluindo TikTok e Twitter, Viúva de Ferro foi parar na lista de best-sellers do The New York Times e chegou ao Brasil no começo de 2022 pela editora Intrínseca. O barulho entre os leitores brasileiros também trouxe Xiran para participar da 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, onde elu bateu um papo exclusivo com a CH; confira:

CH: Sua paixão pela escrita se consolidou durante a pandemia. Escrever “Viúva de Ferro” te ajudou a lidar com esse período tão complicado?

Xiran: Definitivamente me manteve ocupade! Nós tivemos que fazer quarentena por mais de dois anos, ainda assim eu mal senti a passagem do tempo por causa de todas as coisas que eu tinha que fazer para que Viúva de Ferro saísse.

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CH: Você nasceu na China e seu livro mistura muitos elementos da mitologia e da cultura de lá. Como foi fazer essa pesquisa?

X: Eu li à fundo a história da imperatriz Wu para descobrir como adaptar a sua vida, e eu consultei textos como Classic of Mountains and Seas ao inventar os designs das crisálidas (máquinas de guerra que aparecem no livro). Foi tão divertido misturar essas histórias e ideias muito antigas em um mundo de ficção científica.

CH: Ainda que seja ficção científica, o livro possui paralelos sombrios com coisas que também acontecem na nossa sociedade, principalmente quando falamos sobre os direitos da mulher. O que você pensa sobre isso?

X: A maior lição que eu aprendi com a história chinesa é que a sociedade não progride sempre na direção que a gente deseja. Os piores séculos de misoginia na história chinesa vieram logo após o reinado de Wu Zetian, a única imperatriz mulher. Nós gostamos de presumir que o mundo sempre vai se tornar mais aberto com o passar do tempo, mas isso não é verdade. Sempre haverá aqueles que estão atrás dos direitos dos outros, e nós precisamos combater ativamente os seus esforços de progredir. É extremamente importante que a gente não se torne condescendente e esqueça como lutar.

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CH: Você cresceu no Canadá, um país distante da China e com outras referências culturais. Como você lidou com isso?

X: Eu acho que isso me deu uma perspectiva muito mais profunda do poder e da liberdade. Por exemplo, quando escuto alguém falar que o uso obrigatório de máscara durante a pandemia é opressão, eu penso “você não tem ideia de qual é a sensação da verdadeira opressão”.

CH: Você possui formação acadêmica em bioquímica. Isso se reflete nas suas histórias de alguma maneira?

X: Nas histórias que eu estou escrevendo no momento, não. Mas no futuro eu gostaria de escrever alguma coisa que fosse mais fundamentada em ciência pesada. Na verdade, meus pais ficaram muito irritados quando decidi fazer algo que não tinha relação com a minha formação acadêmica apesar de ter dedicado tantos anos nisso. (Eles, no entanto, pararam de reclamar depois que meu livro se tornou um bestseller!)

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CH: Você também é youtuber e está sempre presente nas redes sociais. Como você lida com os haters?

X: Eu ignoro a maioria. Eu acho que a maioria das pessoas que passam muito tempo falando besteira sobre outras pessoas nas redes sociais ou quer atenção, ou estão bravas com algo que não está dando certo nas suas próprias vidas. Raramente é pessoal.

CH: Seu canal no YouTube já ultrapassou mais de 400 mil inscritos! Como você enxerga esse trabalho de falar sobre história e cultura chinesa para milhares de pessoas na internet?

X: Me surpreende todo dia que tantas pessoas estejam dispostas a me ouvir falar sobre os tópicos que eu falo no canal! Minhas reações favoritas foram as da diáspora chinesa, que dizem que os meus vídeos os ajudaram a se sentir mais conectados com a sua herança. Eu faço tudo isso pela diáspora, sinceramente.

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CH: Esta é sua primeira vez no Brasil. O que mais chamou sua atenção?

X: Eu amo tanto o Brasil! A maior surpresa para mim é o quanto ele me lembra da China. Há muitos prédios e lojas semelhantes. Estar nas ruas até me deixou com um sentimento nostálgico.

CH: E como foi encontrar os fãs brasileiros pessoalmente na Bienal do Livro?

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X: Foi absolutamente incrível! Eu sempre percebi que os leitores brasileiros são super passionais nas redes sociais, e encontrá-los pessoalmente foi outro nível. Estou muito feliz por ter a oportunidade de conhecer o Brasil de verdade e ter essa experiência. Eu desejo lhes dizer: Não parem de lutar!

CH: Para finalizar, sabemos que você está escrevendo uma sequência para Viúva de Ferro. Pode contar alguma novidade sobre a trama?

X: Estou definitivamente atrasade nisso, mas o que eu posso contar é que ações drásticas têm consequências drásticas! Zetian vai passar por maus bocados no segundo volume, mas ela não vai parar de lutar contra as forças que estão tentando derrubá-la.

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