Woman’s World tenta ser crítica, mas peca pela falta de bom senso
Primeiro single do álbum 143 foi duramente criticado pela colaboração com Dr. Luke e pela incoerência na própria proposta
t’s a woman’s world, mas é mesmo? Na última sexta-feira (12/7), Katy Perry fez seu comeback ao mundo da música com o single, Woman’s World, o primeiro do álbum 143, que será lançado em 20 de setembro, mesma data em que a cantora se apresenta Rock In Rio.
Após o lançamento do single, a reposta de parte do público e da crítica seguiram pelo mesmo curso, que questiona a letra, a melodia e a qualidade da canção no geral. Na verdade, um dos maiores incômodos começou há algumas semanas, quando Katy anunciou que seu retorno à música contaria com a participação de Dr. Luke, produtor que, no passado, trabalhou com a cantora em singles como I Kissed a Girl.
Co-escritor e co-produtor de Woman’s World, assim como de diversas outras faixas de 143, o nome de Dr. Luke ficou ainda mais conhecido em 2014, quando a cantora Kesha fez uma denuncia contra ele por abuso físico e psicológico. O caso judicial foi finalizado no ano passado com um acordo, mas, ao longo dos anos, Kesha chegou a afirmar que Katy Perry também havia sido estuprada por Dr. Luke, o que foi negado tanto pela cantora, quanto pelo produtor.
A participação de Dr. Luka em 143 já foi suficiente para desapontamento e incredulidade para com a cantora. Após quatro anos de hiato, a volta para o universo pop é feita com essa pessoa em particular? A atitude, claro, desagradou grande parte do público.
Contudo, a situação ganhou uma nova dimensão com o lançamento de Woman’s World, que trouxe a mulher como figura divina, empoderada e capaz de fazer o que ela quiser, porque ela pode tudo. Ouvindo e assistindo ao clipe, o desconforto é quase que imediato e não é difícil você torcer para que seja uma brincadeira ou uma crítica – o que, no fim, chegou a ser confirmado pela própria cantora.
Segundo ela, o vídeo foi pensado para redefinir algumas questões, como sua ideia do divino feminino e de mulher empoderada; por isso a tentativa de crítica escrachada. Mas só a tentativa. Sem saber desses detalhes, você acredita que essa visão de mulher é a que ela confia – magras, salvo uma única exceção, com roupas sexys, brilhando, felizes e maquiadas, prontas para lidar com qualquer adversidade porque, afinal, o mundo é delas.
Ao contrário do que a cantora afirmou ter feito – uma crítica na cara das pessoas – Woman’s World incomoda por parecer tão real ao que ela tenta reprovar e por lembrar conceitos já visitados. A ideia do quanto a mulher deve fazer, como deve fazer, onde deve estar e até que ponto estará lutando é um tema que já foi debatido dessa forma na indústria musical. Isso não significa que a ideia deva ser deixada para trás, afinal, é um tópico, sim, relevante, mas a questão poderia ter sido trabalhada através de uma perspectiva muito mais inovadora.
Uma letra de ‘feminine, divine’, com purpurinas e mulheres que remetem a Rosie, a Rebitadora, ícone feminista, em uma melodia chiclete e palavras repetitivas não fazem sentido e não trazem a verdadeira crítica à tona. Todos esses pontos ganham mais força quando um dos co-produtores e co-escritores do single que fala sobre mulheres e feminilidade – seja fazendo sátira ou as glorificando – é um homem denunciado por agressão física e psicológica por uma outra cantora.
O pop de Katy Perry sempre foi diferente e deslumbrante, uma das características que garantiram tanto sucesso e uma legião de fãs. Ela nunca deixou as coisas mal acabadas e quando se propunha a fazer algo, fazia com maestria. Contudo, a elaboração morna e desconfortável de Woman’s World deixa um sentimento de estranheza e de confusão com o que pode vir a seguir. Com tantas expectativas em cima de 143, o single não cumpriu o papel de aumentá-las, mas afugentá-las.
Em especial para aqueles que aguardam o comeback da cantora, o início é preocupante. A impressão é que o lema ‘falem bem ou falem mal, mas falem de mim’ reinou, mas acreditamos que, por agora, essa fase já teria passado. Por isso, a colaboração com Dr. Luke, com quem seria esperado que ela se afastasse, e a escolha de Woman’s World retratam um começo que buscou ser explosivo, mas não necessariamente pelo bom sentido.
Por aqui, aguardamos ansiosos pelo lançamento do 143 no dia 20 de setembro, na esperança de encontrar e de entender a produção de Katy, pelo menos de alguma forma.
143 estreia no dia 20 de setembro, no show da cantora no Rock In Rio.