Você precisa assistir Desconhecidos no cinema antes que te contem o final
Se você é fã de suspenses sangrentos, Willa Fitzgerald entrega sua melhor performance em um longas mais aclamados do gênero recentemente

arro vermelho, roupas vermelhas, casa com paredes vermelhas… E sangue, muito sangue. Em Desconhecidos, tudo pulsa com uma intensidade quase hipnótica. Através da câmera 35mm, espectador acompanha uma mulher ensanguentada correndo pela mata, perseguida por um homem armado, ao som de uma trilha sonora instigante.
O que parece o início de mais um thriller de sobrevivência toma rumos cada vez mais inesperados no longa de 2023, assinado por JT Mollner, que só agora, em abril de 2025, chega aos cinemas brasileiros — e merece sua atenção.
Aclamado em festivais como o Fantastic Fest, o projeto acumulou 95% de aprovação no Rotten Tomatoes e, ainda assim, seguiu inédito por aqui até agora. A boa notícia é que a espera valeu a pena. A má é que, quanto menos você souber da trama, melhor. Por isso, esta não é uma daquelas críticas cheias de spoilers.
Até porque Desconhecidos não é sobre o que acontece, mas sobre como acontece. Dividido em seis capítulos embaralhados, o filme convida o espectador a montar um quebra-cabeça enquanto a história se desdobra. Nada confuso, Mollner domina a arte da tensão e brinca com a nossa expectativa ao longo de pouco mais de 1h40m.
Logo de cara, somos jogados no meio da ação: uma perseguição implacável entre uma mulher ferida, interpretada por Willa Fitzgerald, e um homem determinado, vivido por Kyle Gallner. À medida que o enredo retrocede e avança, conhecemos mais sobre os dois personagens centrais indo desde seus encontros anteriores até traumas e jogos de poder. Os papéis de vítima e vilão se embaralham com maestria.
No thriller tradicional, geralmente a mulher é a vítima em fuga; o homem, o predador. Em Desconhecidos, esse molde é desmontado aos poucos, revelando uma figura feminina rara no cinema: uma possível serial killer. E não uma vilã caricata ou demonizada, mas uma personagem complexa que manipula e seduz.
Um dos momentos mais simbólicos dessa inversão é quando uma policial (Melora Walters) entra em cena. Ao encontrar a protagonista machucada e “em perigo”, a policial não hesita em acreditar em sua versão — afinal, tudo parece se encaixar na narrativa da mulher vulnerável e do homem agressor.
A direção de Mollner impressiona não apenas pela narrativa ousada, mas também pelos detalhes visuais. A cor vermelha aparece com frequência — seja nas roupas, no sangue, na decoração dos cenários — e reforça o clima de perigo iminente. A fotografia de Giovanni Ribisi (sim, o ator — e agora estreante como diretor de fotografia) capta a brutalidade da natureza e a intensidade dos embates com muito cuidado estético.
Se os coadjuvantes aparecem pouco, é porque a aposta aqui é total no embate entre a dupla central. Willa Fitzgerald entrega uma protagonista complexa, carismática e perturbadora. Seu trabalho aqui — assim como na série médica Pulse, que vem conquistando o público — merece ser celebrado. Gallner, por sua vez, mostra que sabe habitar tanto o charme quanto a ameaça, como já havia feito em Smile e The Passenger.
Desconhecidos é uma história de violência, trauma e manipulação. Ao mesmo tempo brutal e elegante, desconcertante e hipnotizante, o longa merece ser visto na tela grande — onde cada reviravolta, cada frame vermelho, cada suspiro desesperado ganha uma nova dimensão.