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Viver o luto de um ídolo só foi possível com o apoio de outros fãs

Ao lado de quem me entende, senti que a minha dor pela morte do Liam Payne é válida

Por Sofia Duarte 30 out 2024, 19h00
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ou* fã de One Direction desde o lançamento de What Makes You Beautiful, em 2011, quando tinha apenas 13 anos. A partir daí, a boyband formada no The X Factor UK se tornou uma das grandes paixões da minha adolescência. As músicas me confortavam em períodos de dúvida e os vídeos engraçados e as entrevistas divertidas me faziam companhia nos momentos em que ficava sozinha no meu quarto. Aos poucos, aqueles quatro garotos moldaram a minha vida e os meus sonhos – fiz amizades e criei laços profundos, conheci Londres e Dublin no meu aniversário de 15 anos e passei por muitas experiências inesquecíveis. Por esses e vários outros motivos, a morte inesperada de um deles me fez enfrentar um luto de fã extremamente dolorido que não tinha vivido antes – e jamais imaginei ter que viver tão cedo.

Quando recebi a notícia de que Liam Payne havia caído de uma sacada de um hotel na Argentina e morrido, em 16 de outubro deste ano, a minha primeira reação foi negar. Como? Quê? Não é possível! A ficha demorou a cair – e até desconfio que ainda não tenha caído completamente – e só fui entendendo a situação conforme mais informações saíam. Foi um baque. E, como se não bastasse o sofrimento não só por um ídolo, mas também por um ser humano, um pai, um irmão, um filho, um amigo, que se foi de um jeito tão trágico, o sentimento do fandom foi invalidado por pessoas que não sabem o que significa ser fã.

Comecei a sentir que ninguém me entendia, não só por se tratar de um ídolo, mas por ser o Liam, um artista que eu vi nascer e crescer na One Direction e, depois, a florescer e encarar barreiras e dificuldades em sua carreira solo e na indústria da música, que pode ser muito cruel. Em meio a uma cobertura de São Paulo Fashion Week, que estava fazendo para a CAPRICHO, todo mundo agia normalmente e, embora alguns amigos viessem me consolar, não entendiam o que era sentir essa dor… Foi só quando encontrei e abracei uma amiga e fã de One Direction nos bastidores do evento que senti um alívio. Ela não precisou dizer nada, mas eu entendi: ‘Calma, estamos juntas‘.

Sofia Duarte, repórter de moda e beleza da CAPRICHO, em memorial em homenagem a Liam Payne no Parque Ibirapuera, em São Paulo
Sofia Duarte, repórter de moda e beleza da CAPRICHO, em memorial em homenagem a Liam Payne no Parque Ibirapuera, em São Paulo Foto: Sofia Duarte/Arquivo Pessoal/CAPRICHO
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Os dias passavam e, lá no fundo, me vinha uma sensação de que talvez tudo aquilo fosse mentira. A negação voltou. Comecei a pensar que isso talvez se explicaria pelo fato de se tratar de uma celebridade, ou seja, um indivíduo que, antes, apesar de estar vivo, não convivia comigo no dia a dia, e, agora, na morte, continuava sem conviver, o que provocaria uma falsa sensação de perda. Para entender isso, fui conversar com Izabella Decknes, psicóloga e uma grande amiga de tempos de fã clube no Twitter.

“O Liam, assim como todos os outros integrantes da One Direction, foram figuras que marcaram uma geração. Crescemos acompanhando quase tudo a respeito deles e criamos memórias afetivas. Então, não foi só o cantor Liam Payne que morreu, mas muitas vivências da nossa adolescência acabaram sendo levadas junto com ele. E, aí, vem aquela sensação: ‘E agora? Como eu prossigo sem acompanhar alguém que fez parte da minha história e por quem eu tenho tanto carinho e admiração?’. Nossa mente não está preparada para lidar com términos e fins de ciclo e, muitas vezes, quando a gente acompanha alguém de longe é mais difícil acreditar que aquilo de fato aconteceu, justamente por ser alguém que não está presente no nosso cotidiano. A ficha cai de forma individual, de maneira como cada um consegue elaborar esse luto. No fim, fomos atingidos de surpresa, e isso acaba nos impactando de maneira muito mais intensa do que quando estamos nos preparando para perder alguém, se é que realmente conseguimos fazer isso”, afirma Izabella.

É por isso que ir ao memorial realizado em homenagem ao Liam no Parque Ibirapuera, em São Paulo, no último fim de semana, foi essencial pra mim. Ouvir relatos de outros fãs, abraçá-los e emanar vibrações positivas para um dos nossos artistas favoritos contribuiu para que eu não me sentisse sozinha e, mais do que isso, para que eu processasse melhor esse luto e sentisse que ele é válido, que ele tem fundamento e é, sim, legítimo.

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No entanto, cada processo de luto é singular, e o meu, inclusive, envolveu uma certa nostalgia de reviver momentos em que o Liam esteve na minha vida, como um ritual para me despedir, mas também para honrar o legado, o talento e as memórias boas que ele deixou.

“Existem pessoas que preferem ver, relembrar e ficar nostálgicas, mas há quem não consegue. Cada um sabe do seu limite em relação ao luto, mas é interessante que as pessoas abracem esse momento e se permitam sentir”, explica a psicóloga. “É preciso, porém, lembrar algo importante. Mais vale a gente agradecer por esse artista e por tudo o que ele representou na nossa vida do que apenas aceitarmos que a nossa infância morreu. E, se necessário, se isso perdurar e esse luto estiver muito difícil de elaborar, busque ajuda profissional“, completa.

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É difícil demais, especialmente pelas condições dessa morte, pela cobertura sensacionalista de parte da mídia e pelos assuntos que ainda vai gerar, fazendo com que a gente reviva o luto constantemente. Se você se identifica comigo diante disso, olhe para a sua rede de apoio nesse momento e procure uma pessoa que está ao seu lado e possa te acolher, mesmo que ela não entenda plenamente a dor que é a morte tão precoce e repentina de um ídolo. Tenho certeza que o Liam gostaria que cuidássemos uns dos outros e que a gente soubesse que não estamos sozinhos. <3

*Este relato pessoal foi escrito por Sofia Duarte, repórter de moda e beleza da CAPRICHO e fã de Liam Payne e da One Direction.

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