Tudo sobre quem é a cantora Rachel Reis e por que você deve acompanhá-la
Em entrevista à CAPRICHO, a cantora baiana fala sobre maturidade, sua relação com novelas e as raízes que moldam seu novo álbum.

achel Reis nunca soou tão íntima. Em Divina Casca, segundo disco de estúdio da artista baiana, o ouvinte é convidado a caminhar entre emoções, lembranças e afetos que se revelam aos poucos, como uma pele que amadurece e, ao mesmo tempo, aprende a se proteger.
“A composição desse disco foi dentro do contexto dos últimos cinco anos da minha vida, quando eu comecei a me entender como artista e, ao mesmo tempo, vivendo a minha vida pessoal”, contou Rachel Reis em entrevista exclusiva à CAPRICHO. “Parece pouco tempo, mas para mim foi intenso. Eu estava tentando sobreviver enquanto me construía enquanto artista.”
A metáfora da casca atravessa todo o projeto. Para Rachel, a palavra simboliza “as vivências e a maturidade adquiridas com o tempo” e também a nossa casca literal: a pele, o corpo e as marcas do tempo. Não à toa ela escolhe a árvore como a imagem que representa esse disco que falar sobre um processo de transformação.
Com uma sonoridade que funde samba, MPB, reggae, axé e pop eletrônico, Divina Casca chegou em abril com 15 faixas que, além de transitar por vários ritmos, mergulha em diferentes sentimentos da cantora de 28 anos. “Eu sempre trabalhei muito o amor romântico. O amor é uma linguagem universal. Eu jamais vou parar de escrever sobre amor, mas, ao mesmo tempo, o foco foi mais esse amor próprio.”
Não à toa, Rachel começa a primeira faixa, Casca, dizendo que não há ninguém que ela queira ser além de si mesma. “Li no livro da Bell Hooks que o amor próprio não é uma construção solitária. Isso não tem a ver com dependência emocional, mas com o quanto a nossa sintonia com outras pessoas pode criar algo maior.”
Eu ouvi algumas histórias quando eu comecei a cantar em relação a eu ser uma mulher preta cantando sobre amor. Esse tom me incomodou. Não pode? Preto não pode falar de amor? O amor está em tudo, é uma forma de vida
Rachel Reis em entrevista à CAPRICHO
Na solar Jorge Ben, Rachel presta homenagem ao ídolo: “Ele é extremamente apaixonado e, ao mesmo tempo, não perde a malandragem. O amor dele é um amor diferente, brasileiro, swingado.” A faixa resume bem o espírito do disco: leve, ensolarado, com groove, mas também repleto de sensibilidade. “Quis fazer essa singela homenagem. A figura dele me inspirou a trazer o que o amor representa para mim pessoalmente.”
Será que o próprio Jorge já ouviu? “Eu não sei se ele já escutou. Eu queria muito que ele escutasse. Os fãs começaram a marcar ele, e eu falei: ‘Gente, não marca, ele vai bloquear vocês!’”, disse Rachel enquanto ria.
Essa não foi a única homenagem que a baiana trouxe no novo projeto. A ligação com o audiovisual aparece na escolha certeira do cover de Sexy Yemanjá, de Pepeu Gomes. A escolha da música vai além da brincadeira com a sereia, marca registrada da cantora e apelida carinhoso dado a ela pelos fãs, mas também é uma ode nostálgica à infância noveleira.
“Se tiver remake de Mulheres de Areia e usarem a minha versão, eu choro”, brinca. “Assistir novela me traz conforto, me faz sentir bem. Eu lembro que eu assistia Mulheres de Areia, quando passou no Vale a Pena Ver de Novo, por causa dessa música. Eu ficava ali esperando começar a entrada da música, eu amava.”
Apaixonada por televisão, Rachel tem um repertório de novelas favoritas na ponta da língua: Chocolate com Pimenta, Da Cor do Pecado, Beijo do Vampiro, O Clone, Renascer e, mais recentemente, Beleza Fatal. “Me viciou!”, confessa. Com faixas em trilhas de Fuzuê, Renascer, Cangaço Novo e até na novela portuguesa, Cacau, ela se emociona ao se ouvir na TV. “Chorei muito quando ouvi Maresia em Fuzuê. Eu estava em um hotel em BH me preparando para um show. É uma conquista. Cresci assistindo novela, e minha formação musical vem muito daí.”
Sobre o avanço da representatividade nas novelas brasileiras, especialmente com mulheres negras assumindo papéis centrais nas tramas, Rachel Reis se sente tocada, mas também faz um alerta sobre como esse protagonismo, por vezes, é diluído ao longo da narrativa. “A gente fica feliz, pensa ‘poxa, vai rolar uma menina negra como protagonista’, e quando vê, ali pelas beiradas, é outra pessoa que vai ganhando destaque.”
Ela cita Taís Araújo como uma das poucas figuras com quem se identificava na televisão. “Era quem eu olhava e pensava: ‘a cor dela é parecida com a minha, o cabelo dela é parecido com o meu’.” Hoje, ela se emociona ao ver meninas se reconhecendo em sua imagem.
Na minha infância eram poucas as referências. Fico feliz de ver meninas se sentindo representadas, até quando é comigo, Quando as mães chegam e falam que a filha não quer mais alisar o cabelo, ou quer ter a minha cor. Isso me preenche demais.
Rachel Reis em entrevista à CAPRICHO
No disco, Rachel une forças com nomes como BaianaSystem, Don L, Rincon Sapiência, Psirico e Nêssa. As parcerias, segundo ela, têm um critério simples: afinidade. “São pessoas que eu admiro e que gostam de mim também.”
A parceria com BaianaSystem, por exemplo, carrega uma conexão especial: “Russo e eu somos da mesma cidade. Os fãs esperavam muito por isso.” Já Apavoro, com Psirico, foi pensada para ter um pagodão original, com percussão gravada por ninguém menos que o próprio Márcio Victor. “Ele é um gênio da música.”
Tabuleiro é uma faixa que a cantora se orgulha de ter conseguido juntar Don L e Rincon Sapiência: “Eu sou fã deles, eles têm uma caneta maravilhosa”. Sobre Nêssa, que também canta nesta mesma canção, a admiração de Rachel vem de longe. “É uma grande popstar, uma menina negra fazendo um pop original e verdadeiro. A voz dela trouxe um perfume, um glamour pro reggae que casou lindamente.”
Com um som que mistura MPB, samba, pop, axé, reggae e eletrônica, Rachel diz que sua música é espelho da sua vivência. “A Bahia me dá uma bagagem enorme. Eu olho pro lado e tem Gal, Caetano, Gil, Luiz Caldas. Minha mãe já foi cantora de forró e Seresta, minha irmã me apresentou pop rock e Sade. Então quando faço um álbum, ele naturalmente vem recheado disso tudo.”
Com o novo álbum e uma turnê recém-anunciada para apresentar Divina Casca ao vivo pelo Brasil, a artista baiana celebra uma fase de afirmação pessoal e artística. Entre ancestralidade, afetos e melodias que abraçam, Rachel Reis canta e vive o agora, genuinamente confortável na própria casca.
Hoje eu me sinto muito mais eu. Fico feliz de ser a Rachel Reis, de ser a sereia. Tenho orgulho do que venho construindo, da forma como as coisas chegam até mim, do caminho que estou trilhando.
Rachel Reis em entrevista à CAPRICHO
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