Tablo, do Epik High, é o artista (e pai) mais incrível da música coreana

Animado para seu primeiro show no Brasil, o músico falou sobre os 20 anos do grupo, família e a amizade com os integrantes do BTS

Por Gustavo Balducci Atualizado em 29 out 2024, 18h28 - Publicado em 2 ago 2023, 11h28

Poucas horas antes de completar 43 anos, Tablo, líder e produtor do Epik High, um trio de hip-hop formado por ele, Mithra Jin e DJ Tukutz, conhecido por desempenhar um papel fundamental na música coreana antes mesmo do k-pop ganhar popularidade no resto do mundo, dedicou um tempinho de suas férias com a família para conversar com a CAPRICHO por videochamada.

Além de celebrar seu aniversário, 2023 marca os 20 anos desde a estreia oficial do grupo, que ao longo das últimas duas décadas construiu uma discografia invejável, composta até o momento por dez álbuns de estúdio, EPs e várias colaborações com outros artistas renomados, incluindo CL, Taeyang e IU. Escrevendo músicas sobre saúde mental e problemas sociais, eles foram ganhando cada vez mais destaque na cena e, em 2016, entraram para a história como o primeiro artista coreano a subir no palco do festival Coachella.

Quando lançaram o álbum Epik High Is Here 下 (Parte 2) no ano passado, parecia que o conjunto estava prestes a se afastar dos holofotes. No entanto, em fevereiro deste ano, eles perceberam que ainda tinham boas histórias para compartilhar com os fãs e voltaram com o EP Strawberry, com participações especiais de Jackson Wang e Hwa Sa. Para Tablo, agora é como se o Epik High estivesse no começo de uma grande jornada. “Compreender plenamente o mundo leva tempo”, disse.

Entre 2010 e 2012, o músico também foi vítima de perseguição e cyberbullying por uma comunidade virtual intitulada TaJinYo, que tentou difamá-lo e acabar com sua carreira a todo custo. Embora o caso tenha sido encerrado, alguns traumas permaneceram, mas ele decidiu canalizar esses sentimentos em seu trabalho como forma de seguir em frente. Sendo uma inspiração para muitos artistas da nova geração, Tablo é casado com a atriz Kang Hye-jeong (estrela do filme Oldboy), com quem tem uma filha de 13 anos chamada Haru, aparentemente muito orgulhosa de seu pai.

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A seguir, confira nossa entrevista exclusiva com Tablo, que vem ao Brasil junto com o Epik High se apresentar no dia 4 de agosto, no Rio de Janeiro, e no dia 6, em São Paulo, através da turnê ALL TIME HIGH.

CH: O que sua filha acha de ter um pai famoso?

Tablo: Ela realmente não se importa (risos). Quero dizer, para ela, é apenas o pai dela, sabe? E, como a mãe dela também é atriz, é apenas uma profissão que escolhemos. Por enquanto, ela também não tem nenhum desejo de se tornar famosa. Algumas gravadoras até já demonstraram interesse em inseri-la na música, mas ela diz que prefere estar nos bastidores ou na área de negócios, em vez de estar no palco, na frente das câmeras.

CH: Mas ela é fã do Epik High, certo?

Tablo: Ela gosta muito do Epik High, mas é diferente dos outros grupos que ela escuta, porque o pai dela está nele. Hoje em dia, ela também gosta de Stray Kids, Seventeen, TXT, BLACKPINK e de NewJeans.

CH: Os últimos 20 anos passaram rápido para o Epik High?

Tablo: Na verdade, não parece que tenha passado tão rápido. Acredito que isso se deve ao fato de que muitos desses anos foram de luta e superação. Nos primeiros dois, três anos de nossa carreira, quase ninguém nos conhecia. Foi uma batalha árdua para alcançar o reconhecimento, então subtraímos esses três anos da contagem.

Além disso, enfrentei a controvérsia com a comunidade TaJinYo, um escândalo virtual maluco que durou três anos, então já são seis anos a menos. Também enfrentamos problemas com nossas gravadoras no início, o que tira mais dois anos da contagem, e aí já temos metade do tempo. Sinceramente, para nós, não parece que já se passaram 20 anos. Ainda nos sentimos muito frescos, e é por isso que tudo parece tão irreal.

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CH: Vocês são jovens adultos, então.

Tablo: Se pensar nisso como uma vida, faz sentido, não é? Quando alguém completa 20 anos, acha que já é um adulto, que já viveu bastante. Mas todos sabemos que mesmo aos 20 anos, e até aos 21, 22, ainda somos jovens. Ainda estamos em fase de amadurecimento, e compreender plenamente o mundo leva tempo. E é assim que o Epik High se sente. Nós temos apenas 20 anos, como se estivéssemos no início de uma grande jornada.

CH: E o que manteve vocês três unidos até hoje?

Tablo: Acredito que o maior trunfo do Epik High é o senso de humor que todos nós temos. O Tukutz é extremamente cínico. Já o Mithra é bastante reservado, mas às vezes solta frases peculiares, e eu estou sempre fazendo piadas. A união dos três nos permite enfrentar qualquer desafio com leveza e humor. Sabemos rir de nós mesmos e não nos levamos excessivamente a sério. Trabalhamos arduamente na música, nos dedicamos intensamente no palco, mas também sabemos como nos divertir.

E, quando alguém nos faz críticas negativas, em vez de chorar, rimos da situação. Nós pensamos: “Bem, eles não estão totalmente errados”. Por exemplo, se alguém disser que o Epik High é feio, respondemos com bom humor: “Olha, tecnicamente você não está totalmente errado”. Essa atitude nos mantém sempre avançando. Além disso, adoramos fazer piadas uns com os outros, o que pode ser visto em nossas redes sociais. Essa abordagem nos mantém com os pés no chão, humildes e longe de qualquer tipo de arrogância.

CH: Em 2016, Epik High foi o primeiro artista coreano a performar no Coachella. Como foi subir novamente no palco do festival em 2022?

Tablo: Foi uma experiência muito divertida. A melhor parte de estar lá novamente no ano passado foi que, em 2016, minha filha não pôde me acompanhar, pois ela era muito pequena na época. Mas, agora que ela está um pouco mais velha, estava interessada em muitos dos músicos que também se apresentariam lá. Então, foi ótimo poder convidá-la e permitir que me visse no palco pela primeira vez fora da Coreia do Sul. Essa foi, definitivamente, a melhor parte. Além disso, aproveitamos para assistir a muitos outros artistas legais juntos. Ela tem um ótimo gosto musical, então foi muito divertido compartilhar esse momento com ela.

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Integrantes do grupo Epik High
Epik High/Divulgação

CH: Vocês se tornaram conhecidos por abordar temas delicados como saúde mental, problemas sociais e amor próprio em suas músicas. Que tipo de mensagem você pensa em transmitir por meio delas?

Tablo: Quando começamos, alguns desses termos nem sequer existiam, como saúde mental. Na verdade, ninguém sequer mencionava essa expressão. Sinceramente, falar sobre questões sociais ou emocionais simplesmente não era comum, especialmente na Coreia. Por isso, não nos propusemos a criar músicas sobre esses assuntos, já que esses conceitos ainda não faziam parte do nosso cenário. Para o Epik High, sempre foi importante garantir que as pessoas que ouvem nossa música não se sintam sozinhas.

Nós três, ao longo de nossa trajetória, nos identificamos com a solidão e o sentimento de estar sozinhos, considerando nossas criações, estágios da vida e experiências. Nossa mensagem é que os fãs não estão sozinhos nesses sentimentos, pois existem pessoas como eles e nós três somos um exemplo disso. Quando eu era jovem, muitos músicos me fizeram sentir dessa forma. Eles cantavam sobre coisas difíceis e pensamentos complicados que passavam por suas mentes. Ao ler as letras, eu pensava: “Há alguém mais que pensa assim e está expressando isso”. Eu nem imaginava que também poderia dizer essas coisas. É isso que tentamos fazer: transmitir a mensagem de que eles não estão sozinhos. E é por isso que o Epik High se tornou uma fonte de inspiração tão importante para diversos artistas do k-pop e da cena musical coreana.

CH: Isso te deixa orgulhoso?

Tablo: Fico extremamente lisonjeado pelo número de jovens artistas que fazem covers de nossas músicas ou nos mencionam nas redes sociais e entrevistas. Isso tem acontecido muito ultimamente, e os fãs deles fazem questão de nos avisar. Ainda fico surpreso ao perceber quantas pessoas cresceram ouvindo Epik High, e é muito gratificante que nos vejam como uma fonte de inspiração, já que também sou fã da música deles. Eles estão criando músicas que adoro ouvir, que inclusive minha filha gosta e que tocam no meu carro. É uma sensação maravilhosa saber que nosso legado continua sendo referência para as novas gerações. Não considero isso como se eu tivesse transmitido algo diretamente a eles, mas sim que existe algo atemporal que conecta a todos nós. É realmente emocionante poder compartilhar essa conexão com eles.

CH: Você tem uma ótima relação com o BTS. Como foi trabalhar em músicas originais com Suga e RM?

Tablo: Suga e RM são essencialmente meus amigos antes de qualquer outra coisa. Nós os encontramos em várias ocasiões enquanto eles estavam crescendo e se transformando no BTS que conhecemos hoje. Então, é realmente natural trabalharmos juntos.

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Para mim, é uma verdadeira honra e prazer trabalhar com o Suga, por exemplo. Colaboramos em uma música do Epik High chamada Eternal Sunshine. Foi incrível receber uma faixa dele, especialmente porque ele mencionou várias vezes que cresceu ouvindo nossas músicas. Portanto, ele compreende a essência da música do Epik High, sabe? Ao mesmo tempo, eu realmente amo o som do BTS. Há uma compreensão mútua e um amor compartilhado pela música que torna nossa colaboração única e especial. Não acredito que essa dinâmica funcione com qualquer outra junção de artistas.

O mesmo aconteceu com RM. A música simplesmente fluía de maneira muito natural. Assim que ele me enviou o beat e ouvi a música, o verso se encaixou perfeitamente, pois ele já sabia que funcionaria para mim. Ele tinha algo em mente quando decidiu que eu deveria estar naquela música. Quando ouvi, senti que era perfeito, pois ambos entendemos o que amamos e o que nos motiva artisticamente. Essas colaborações foram muito divertidas e autênticas. Embora eu tenha trabalhado com quase todo mundo da indústria, trabalhar com eles sempre foi mais “fácil”. Trabalhamos arduamente, é claro, mas essas colaborações foram provavelmente as mais fluidas e genuínas devido à nossa sintonia artística natural.

CH: Está feliz de poder vir ao Brasil com a turnê ALL TIME HIGH?

Tablo: Estou extremamente animado. Será a primeira vez do Epik High no país, mas já é a minha segunda vez, no entanto. Eu estive aí há muito tempo para realizar um projeto. Desde então, eu desenvolvi um amor muito grande pelo Brasil. Estou genuinamente feliz em voltar e sempre prometi que mostraria o país aos outros membros do grupo. Finalmente, consegui cumprir essa promessa e mal posso esperar para encontrar os fãs. Tenho certeza de que o show será incrível e extremamente divertido.

CH: Eu também tenho certeza. O que você gostaria de dizer aos fãs brasileiros antes do show?

Tablo: Preciso ressaltar que o Brasil fica bem distante da Coreia do Sul, então não posso garantir que o Epik High consiga visitá-los com muita frequência. Portanto, se você já ouviu uma música do Epik High e gostou, então você deveria ir ao nosso show, pois nunca se sabe quando teremos outra chance de nos encontrar novamente!

Definitivamente, não dá para perder essa oportunidade!

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