‘Princípio da Smurfette’ revela como mulheres são tratadas na cultura pop

Entenda por que é tão comum ter só uma personagem feminina em grupos cheios de meninos e o que isso revela sobre representatividade.

Por Arthur Ferreira 19 jul 2025, 15h00
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ocê já percebeu que em várias séries, filmes e desenhos animados sempre tem uma única garota em um grupo formado por vários garotos? Esse padrão tem nome: é o Princípio da Smurfette, e ele aparece com mais frequência do que a gente imagina.

O termo surgiu nos anos 1990, quando a escritora estadunidense Katha Pollitt notou esse padrão nos brinquedos da filha e resolveu dar um nome inspirado na única menina dos Smurfs, a Smurfette. Desde então, o conceito se espalhou como forma de criticar a baixa representação feminina na cultura pop: basicamente, a ideia de que “uma menina já está bom” num grupo de personagens homens.

E não faltam exemplos. Hermione é a única garota do trio principal de Harry Potter. A Penny passou anos como a única mulher entre os nerds de The Big Bang Theory. Princesa Leia, Uhura e Elizabeth Swann são as únicas mulheres entre os protagonistas de Star Wars, Star Trek e Os Piratas do Caribe. Em Stranger Things, Eleven segura sozinha a barra de ser a única protagonista feminina por um bom tempo. Lola é a única personagem feminina dos Looney Tunes em Space Jam.

E claro que os filmes de heróis não ficam de fora dessa, né? É muito comum ver esse padrão em filmes da Marvel e da DC: Gamora em os Guardiões da Galáxia, Viúva Negra nos primeiros Vingadores, Mulher Invisível em Quarteto Fantástico, Mulher Maravilha em Liga da Justiça.

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Mas qual é o problema nisso?

Quando só tem uma personagem feminina, ela acaba virando a “representante oficial” de todas as garotas. Muitas vezes, ela é definida principalmente por ser “a feminina” do grupo, aquela que vai ser interesse romântico ou que tem que se destacar o dobro para “provar” que merece estar ali. O resultado? Ela fica isolada, e a mensagem que passa é: meninas são exceção, não a regra.

Isso é tão comum que já virou motivo de debate entre criadoras e pesquisadores. Tem até uma consequência direta: muitas dessas histórias não passam no Teste de Bechdel, um jeito bem simples de saber se uma obra tem mais de uma mulher com falas relevantes.

Com mais gente reparando nisso, surgiu também uma tentativa de corrigir esse padrão: o chamado Two Girls, One Team (ou “duas garotas em um time”). A ideia é simples: colocar pelo menos duas personagens femininas em grupos que antes tinham só uma. Isso já apareceu em produções como Operação Big Hero, Avatar: A Lenda de Aang, Brooklyn Nine-Nine, Kung Fu Panda e até em Como Treinar o Seu Dragão. Ainda assim, é comum que os meninos continuem sendo maioria ou fiquem com os papéis de liderança.

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E quando o jogo vira?

Alguns filmes tentaram subverter tudo, com elencos femininos dominando as cenas como em Oito Mulheres e um Segredo, Aves de Rapina e Ghostbusters (2016). Coincidentemente, esses filmes são sempre alvo de tentativas de boicote por parte do público. Mas a verdade é que esse movimento ainda está longe de ser o padrão. Segundo o Instituto Geena Davis de Gênero na Mídia, apenas 10% dos filmes lançados têm um equilíbrio de gênero entre os personagens principais.

No fim, entender o Princípio da Smurfette ajuda a gente a prestar mais atenção em como as garotas são retratadas nas histórias que amamos. Porque representatividade importa e uma personagem sozinha nunca vai dar conta de refletir toda a diversidade que existe entre as meninas da vida real.

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