Por que a capa do novo álbum de Sabrina Carpenter gerou tanta polêmica?

Visuais do disco Man’s Best Friend reacendem debate sobre sexualidade, poder e feminismo no pop

Por Arthur Ferreira 16 jun 2025, 19h01
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abrina Carpenter de joelhos, usando um minivestido preto, com o cabelo sendo puxado por um homem de terno que sequer mostra o rosto. A capa de Man’s Best Friend, novo álbum da cantora que chega em 29 de agosto, dividiu a internet e virou centro de uma discussão intensa sobre representações da mulher na mídia, poder e liberdade artística.

Para uns, a imagem flerta com simbolismos perigosos, promovendo o machismo e sugerindo a mulher como propriedade masculina. Para outros, trata-se de uma sátira visual que Sabrina vem construindo de forma consciente ao longo da carreira.

No Reddit, no X (antigo Twitter) e nos comentários do próprio post, há quem acuse essa escolha como insensível ou retrógada, enquanto outros apontam que ela está apenas brincando com as expectativas e com o incômodo do público… Exatamente como muitas divas pop fizeram antes dela.

Sabrina Carpenter em capa de seu novo álbum 'Man's Best Friend'
Sabrina Carpenter em capa de seu novo álbum ‘Man’s Best Friend’ Foto: @sabrinacarpenter/Instagram

Pop provocador para uma nova onda de conservadorismo entre os jovens

Essa não é a primeira vez que Carpenter aposta em imagens e temas provocativos. Com Feather, por exemplo, ela causou polêmica ao gravar cenas de um clipe dentro de uma igreja. Em Espresso, hit que dominou o verão de 2024, ela brinca com o desejo e a obsessão alheia. Juno virou um momento icônico da Short n’ Sweet Tour em que ela brinca com diferentes posições sexuais. As letras são cheias de ironia, trocadilhos e duplos sentidos, uma assinatura que a artista vem refinando com confiança.

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No entanto, a atual reação intensa à capa de Man’s Best Friend também reflete um fenômeno mais amplo: uma onda crescente de conservadorismo entre jovens da geração atual, que têm adotado discursos mais restritivos sobre sexualidade, comportamentos e representações artísticas. Esse movimento, alimentado por debates culturais e políticos, torna qualquer manifestação provocadora ainda mais controversa, ampliando o choque e a polarização.

Com 26 anos e mais de uma década de carreira, Sabrina se aproxima de um território que foi explorado por artistas como Madonna, Britney Spears, Lady Gaga e Miley Cyrus: o da provocação como ferramenta estética. A sexualização e a encenação da submissão, nesse contexto, não são passivas ou gratuitas, mas parte de uma performance maior sobre os papéis atribuídos às mulheres, especialmente dentro da cultura pop.

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A polêmica em torno da capa de Man’s Best Friend escancara uma tensão recorrente na cultura pop atual: é possível ser provocadora e feminista ao mesmo tempo? Para algumas críticas, o problema estaria em “recriar” estéticas consideradas machistas sem deixá-las evidentemente satíricas. Mas para Sabrina, que co-escreve suas músicas, dirige seus próprios visuais e tem controle criativo sobre sua narrativa, a provocação faz parte do pacote.

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“É sempre muito engraçado para mim quando as pessoas reclamam. Elas dizem: ‘Tudo o que ela faz é cantar sobre isso [sexo].’ Mas essas são as músicas que vocês tornaram populares”, disse ela em recente entrevista à Rolling Stone, sobre críticas às suas letras com conteúdo sexual. “É evidente que vocês adoram sexo. Vocês são obcecadas por isso.”

Mais do que reforçar estereótipos, Sabrina parece brincar com eles exagerando fantasias,, rindo da obsessão alheia e se apropriando de símbolos que antes seriam usados contra ela. É o mesmo tipo de desconforto que Madonna causou ao usar crucifixos em videoclipes ou quando beijou Britney e Christina no VMA de 2003. Sabrina segue uma linhagem de popstars que entendem o escândalo como linguagem e a imagem como parte do show.

O que vem por aí?

Com apenas uma música revelada (Manchild, outro single recheado de ironia e crítica aos homens imaturos), ainda é cedo para entender o conceito completo de Man’s Best Friend, que chega em 29 de agosto com 12 faixas. Há até teorias de que a capa faça parte de uma imagem maior, com Sabrina interpretando também o homem engravatado, uma dualidade que, se verdadeira, deixaria a provocação ainda mais afiada.

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Mas o que já se sabe é que Sabrina Carpenter não tem medo de cutucar feridas. Ao se colocar no centro de discussões sobre feminilidade, controle e desejo, ela reforça o lugar da popstar como uma figura que incomoda e provoca discussões.

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