Personagens trans nas novelas: a jornada até Viviane de Três Graças
Da pioneira Cláudia Celeste até Gabriela Loran, veja como a representatividade evoluiu até a chegada de Vivi
televisão brasileira passou décadas avançando devagar quando o assunto era representatividade trans. Nesse período, surgiram participações pontuais, personagens caricatos e narrativas entregues a atores cis. O caminho ainda é longo, mas já acumula marcos importantes.
E é esse trajeto que abriu espaço para a força de Viviane, de Três Graças, vivida por Gabriela Loran e rapidamente adotada como queridinha do público que está assistindo a atual novela das 9h.
Vivi, o nome do momento no horário nobre
Na trama das nove, Vivi é farmacêutica e vive um romance com Leonardo (Pedro Novaes), filho do vilão Santiago Ferrete (Murilo Benício). O relacionamento movimenta a história e colocou Gabriela Loran em um espaço raríssimo: uma personagem trans com profundidade e vivida por uma mulher trans na vida real.
Antes de Três Graças, Gabriela já havia sido pioneira em Malhação: Vidas Brasileiras (2018) como Priscila, a primeira personagem trans de Malhação. Ela ainda passou por Salve-se Quem Puder e segue construindo uma trajetória marcante na TV.
a fila de velho enorme esperando a farmácia abrir e a viviane muito ocupada estando APAIXONADA por um loiro #trêsgraças pic.twitter.com/qC5G2P45ZD
— vit (@chyspiro) November 23, 2025
As pioneiras: quem começou a abrir as portas
Muito antes da discussão sobre representatividade ganhar força, algumas artistas enfrentaram o peso da censura e do pioneirismo nas novelas. Uma delas foi Cláudia Celeste, figura essencial na história da TV brasileira. A carioca foi convidada por Daniel Filho para participar de Espelho Mágico (1977).
Ela apareceu como uma das coristas do núcleo teatral da história, e sua presença virou manchete como “a primeira travesti na TV”. A repercussão, porém, teve efeito contrário: quando sua identidade foi exposta nos jornais, a direção optou por tirar do ar as outras cenas já gravadas, interrompendo sua participação.
Anos depois, em 1988, Cláudia finalmente pôde viver uma personagem do início ao fim. Em Olho por Olho, da Rede Manchete, interpretou Dinorá — um marco que a consolidou como a primeira travesti com papel fixo em uma novela brasileira.
Hoje o Google homenageia Cláudia Celeste.
Em 22 de agosto de 1988, exatos 42 anos atrás Cláudia Celeste foi a primeira mulher trans aparecer em uma novela, "Olho por olho".
Com o fim da ditadura militar, foi a primeira travesti a completar uma novela no país. pic.twitter.com/fnLlrYzyOq
— ERIKA HILTON (@ErikakHilton) August 22, 2022
Outro nome que ganhou destaque nesse caminho foi Rogéria, que fez uma participação em Tieta (1989–1990). Como Ninete, ela chegou à Santana do Agreste despertando curiosidade e encantamento dos moradores, antes da revelação sobre sua identidade movimentar ainda mais a história.
Betty Faria e Rogéria como Tieta e Ninete nos bastidores de #Tieta 🩷✨ pic.twitter.com/5R2lcMhmDE
— Filomena Ferreto 🏳️⚧️ (@filomenaferret0) February 21, 2025
Em 1997, Roberta Close participou da novela Mandacaru, exibida pela Rede Manchete e baseada no romance Dente de Ouro de Menotti Del Picchia. Close interpretou a personagem Maitê Flores.
Personagens trans vividos por atores e atrizes cis
Por muito tempo, histórias sobre pessoas trans foram contadas nas novelas brasileiras por intérpretes cis. Em vários casos, essas representações apareciam entre o drama sério e o estereótipo, refletindo tanto avanços quanto limitações da TV daquele período.
Em As Filhas da Mãe (2001), Cláudia Raia viveu Ramona, uma mulher trans que retorna ao Brasil após sua transição e precisa lidar com o impacto da novidade na família. No mesmo período, Uga Uga (2000–2001) apresentou Ivone Shirley, interpretada por Hairton Júnior, retratada de forma bem estereotipada como travesti que fazia programas de rua.
Em Geração Brasil (2014), Luis Miranda viveu Dorothy, uma mulher trans inserida nos núcleos de comédia. Já em Vidas em Jogo, da Record, a personagem Augusta, interpretada por Denise Del Vecchio, teve a identidade trans revelada como um plot twist dramático, gerando forte conflito com o filho.
Na década de 2010, uma das tramas mais comentadas foi a de Ivan, em A Força do Querer (2017). O personagem passa por um processo de transição e foi interpretado por Carol Duarte. O papel abriu debates importantes e a produção contou com a participação de um homem trans, Tarso Brant, como consultor e ator convidado, e Silvero Pereira como a personagem Elis Miranda.
Até personagens com viés mais humorístico entraram nesse histórico. Ana Girafa, de Aquele Beijo (2011–2012), interpretada por Luis Salém, era uma travesti construída no tom de comédia popular, reforçando trejeitos e exageros comuns nas novelas do período.
lindo diálogo entre ritinha e ivan, antes da transição, em a força do querer ❤️ pic.twitter.com/DwljDm3p7F
— acervinho (@acervonovelas) June 8, 2024
A virada da década: personagens trans feitos por pessoas trans
A virada começou a acontecer quando atrizes e atores trans passaram, finalmente, a interpretar personagens que dialogavam com suas vivências. Um dos nomes fundamentais dessa mudança é Maria Clara Spinelli. Depois de participações no cinema e na TV, ela viveu Mira (uma personagem cis) em A Força do Querer (2017) e marcou história novamente ao se tornar a primeira mulher trans a protagonizar uma novela brasileira, como Renée no remake de Elas por Elas (2023).
Outro momento importante aconteceu em 2019, quando Glamour Garcia brilhou como Britney em A Dona do Pedaço. O papel rendeu prêmios e uma repercussão enorme. Isso sem falar na cena do casamento de Britney e Abel (Pedro Carvalho).
Em Quanto Mais Vida, Melhor! (2021), Carol Marra e Marcella Maia integraram o elenco com personagens de destaque, fortalecendo ainda mais o espaço de artistas trans em tramas familiares. Nany People também esteve na novela, em mais uma participação marcante da humorista na dramaturgia.
Nas novelas das sete, Salve-se Quem Puder trouxe Catatau, interpretado pelo ator trans Bernardo de Assis, que viveu o primeiro beijo entre um homem trans e uma mulher cis em uma novela brasileira.
Em Terra e Paixão (2023), Valéria Barcellos interpretou Luana, tornando-se a primeira mulher trans com papel fixo na faixa das 21h da Globo. Já no remake de Renascer (2024), Buba, que na versão original foi apresentada como intersexo — então chamada pelo termo ultrapassado “hermafrodita” —, foi reescrita como uma mulher trans e passou a ser interpretada por Gabriela Medeiros, reforçando a importância de atualizar narrativas para o presente.
No começo de 2025, Kiara Felippe chamou atenção do público como Andrea Reys em Beleza Fatal (2025). A personagem é uma professora de dança que se envolve em um triângulo amoroso com Tomás (Murilo Rosa) e Rog (Marcelo Serrado).
Andrea e Carol ❤️🔥
Kiara Felippe e Manu Morelli nos bastidores das gravações de #BelezaFatal. pic.twitter.com/1HQSHdz527— Acervo Beleza Fatal (@abelezafatal) February 18, 2025
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