Paola Hoffmann Van Cartier transforma traumas em força no Drag Race Brasil
Em entrevista à CAPRICHO, a queen fala sobre a volta da Itália para o Brasil e como foi assistir seu relato de vida no reality

uito mais que um legado familiar, um sobrenome grande e look lindos, a segunda eliminada da nova temporada de Drag Race Brasil encantou a todos com carisma, coragem e sensibilidade ao contar sobre sua história de vida. Paola Hoffmann Van Cartier foi embora cedo da competição, mas deixou uma impressão marcante. E já tem fã pedindo o retorno dela em franquia internacional, viu?
Mais do que a eliminação precoce, foi o relato sincero de Paola no terceiro episódio que tocou o público. Ela compartilhou que trabalhou por anos na prostituição após se mudar para a Europa em uma relação abusiva.
O depoimento, transmitido na íntegra, incluía falas fortes: “Até um mês antes de eu ser chamada para o programa, eu ainda estava nessa vida. E no dia que eu recebi a chamada para o Drag Race Brasil, eu tive a certeza que eu tinha sido salva de uma vida que eu não queria mais há muitos anos.”
Em conversa com a CAPRICHO, Paola falou sobre a dor de reviver esses momentos e o acolhimento do público. “Eu chorei muito porque foi muito bom ver como o programa foi exibido de uma forma bonita. Mas eu também estava sentindo tudo aquilo que eu vivenciei no momento que eu estava contando e, às vezes, só de pensar eu já tenho vontade de chorar de novo. Eu realmente não esperava receber o amor e o carinho que eu recebi do público da forma que eu recebi”, contou.
A artista também revelou que ficou receosa de como sua história seria editada, mas se sentiu tocada com as mensagens que passou a receber de outras pessoas com vivências parecidas. “Não é que eu procurava uma vida melhor, é que eu já não me encaixava mais naquilo que eu estava vivendo. Para mim, aquilo ali foi um caminho que eu encontrei para chegar onde eu estou hoje.”
Drag é você ter uma mensagem. É você acolher pessoas. É você salvar vidas. A minha vida foi salva graças a drag então eu tenho que usar a minha drag também para salvar vidas.
Paola Hoffmann Van Cartier em depoimento no Drag Race Brasil
A reação das colegas de elenco foi imediata no set, e continuou fora das câmeras. “Foi muito doloroso reviver aquele momento, mas ao mesmo tempo eu estava recebendo muito amor e carinho de quem estava ao meu redor”, disse. “A Bhelchi saiu de casa só para poder estar do meu lado e a Grag Queen tem sido uma pessoa maravilhosa. Ela é uma mãezona.”
Hoje, morando no Rio de Janeiro com as amigas Poseidon Drag e Ruby Nox, Paola vê a drag como uma verdadeira chance de recomeço. O chamado para o programa representou para ela a certeza de estar deixando para trás um passado doloroso e abrindo espaço para um futuro diferente. “Eu já tinha tentado Drag Race sete vezes. Três vezes no UK, três na Itália e uma no Brasil. Seria a oitava vez e eu estava muito em dúvida.”
Ela revelou que a insistência da amiga Victoria Shakespeare, brasileira que participou do Drag Race Alemanha, a fez se inscrever para a temporada faltando um dia para o fim das inscrições. “No mesmo dia que eu mandei o vídeo de inscrição, eu olhei para o meu ex-companheiro de 10 anos e falei: ‘E entrar na segunda temporada do Drag Race Brasil, Eu vou comprar minha passagem para voltar para o Brasil’. Eu voltei para o Brasil um mês e cinco dias antes de receber a chamada de confirmação.”
Leia a entrevista completa com Paola Hoffmann Van Cartier:
CAPRICHO: Como foi assistir ao episódio da sua eliminação?
Paola Hoffmann Van Cartier: Foi bem difícil assistir porque eu já sabia tudo o que ia acontecer no episódio. Foi muito doloroso reviver aquele momento, mas ao mesmo tempo eu estava recebendo muito amor e carinho de quem tava ao meu redor, principalmente da Bhelchi e da Grag. A Bhelchi saiu de casa só para poder estar ali do meu lado e a Grag, desde o Meet de Lindas, que foi quando a gente começou a ter mais contato, tem sido uma pessoa maravilhosa. Ela é uma mãezona. Foi muito lindo receber todo esse amor e carinho. Doloroso, mas ao mesmo tempo muito lindo. Gostei muito de vivenciar isso ao lado das pessoas que eu estava.
Chorei muito porque foi muito bom ver como o programa foi exibido de uma forma bonita. Mas eu também estava sentindo tudo aquilo que eu vivenciei no momento que eu estava contando e, às vezes, só de pensar eu já tenho vontade de chorar de novo. Eu realmente não esperava receber o amor e o carinho que eu recebi do público da forma que eu recebi.
CH: No episódio você contou um pouco mais sobre a sua história. Foi um depoimento muito forte. Você estava receosa de como isso iria para o ar?
P: Com certeza. É um tópico muito sensível de ser tocado e eu gostaria muito que as pessoas entendessem o que estava sendo dito. Não é que eu procurava uma vida melhor, é que eu já não me encaixava mais naquilo que eu estava vivendo. Para mim aquilo ali foi um caminho que eu encontrei para chegar onde eu estou hoje. Muitas pessoas passam pela mesma coisa e algumas delas estão me mandando mensagem agradecendo e dizendo que se sentiram representadas. Isso para mim foi o mais importante. Se fosse só uma pessoa, eu já teria me sentido bem o suficiente de ter representado, mas são inúmeras me escrevendo. Isso para mim foi o mais importante e foi o melhor de tudo nessa experiência.
CH: A sua mãe drag, Vanessa Van Cartier, te falou alguma coisa depois da sua eliminação?
A Vanessa conversou comigo no dia da minha eliminação. Ela assistiu praticamente no horário que saiu no Brasil lá na Bélgica. Ela me disse que estava muito orgulhosa do que eu tinha apresentado e que eu tinha conseguido representar as Van Cartier. Também disse que uma Van Cartier é sempre uma winner. Para mim, isso é uma frase que ela sempre me diz.
CH: Qual o seu momento favorito no programa?
P: As minhas três passarelas, a minha entrada… Posso dizer a verdade? Todos os momentos que eu apareci. Eu brilhei, fui eu mesma e tentei ser o que eu sou no meu dia a dia com as pessoas que me rodeiam. Acho que o público viu que realmente eu sou aquilo ali. Nunca esperei ser tão amada na minha vida, te juro.
CH: O que você não mostrou da sua drag no programa que você gostaria muito de ter mostrado?
P: Eu não mostrei o quanto eu sou engraçada e sei ser caricata e shadera. Não mostrei o quanto eu sei me jogar numa competição. Eu sou Miss e sei que o concurso não se ganha só na passarela, se ganha também no psicológico, no backstage. Acho que foi isso o que faltou para eu poder mostrar. O próximo episódio seria uma grande oportunidade de eu mostrar tudo isso.
CH: Na primeira passarela, você foi com um look representando o Espírito Santo. As pessoas de lá manifestaram algum apoio?
P: Eu recebi muitas mensagens de pessoas heterossexuais que não conheciam o programa me dizendo que conheceram Drag Race através de mim e que eu havia representado bem o Espírito Santo. Me falaram até que eu coloquei o Espírito Santo no mapa. Nós somos um estado meio esquecido no Brasil, né? Acho que eu consegui mostrar quem somos, o que temos, a nossa cultura e eu espero poder mostrar muito mais ainda futuramente numa outra temporada que eu puder participar.
CH: Após a sua eliminação, para quem fica sua torcida?
P: As pessoas podem ver que no episódio eu fico de mãos dadas o tempo todo com a Ruby Nox. Só de começar a falar, eu me emociono. A Ruby me deu tanto amor, carinho e força. Eu tenho aquele momento que falo para a DesiRée Beck vencer na minha saída, mas eu também dou um selinho na Ruby e ela me olha dentro do olho. Nós estávamos, as três, muito destruídas de chorar. A Ruby foi a amizade que eu tenho como irmã. Ela é a minha melhor amiga, meu tudo, minha paixão. A minha torcida é para ela até a morte. Para mim, ela é a drag que representa as drags de todas as eras.
Ela me convenceu a ficar pelada com ela 😈
Eu e @arubynox para o Hoffmann’s Atelier
Pq beleza é fundamental meu amoooor 💖 pic.twitter.com/YRvCiGZiSx— Paola Hoffmann Van Cartier (@missshoffmann) July 21, 2025
CH: Os seus fãs e os fãs do programa querem muito que você tenha uma segunda chance. Pensando até na sua frase de despedida, se você for chamada para uma edição “vs the world”. Com quais queens internacionais você gostaria de competir com?
P: Eu vou puxar uma sardinha para minha irmã da Itália, Melissa Bianchini. Eu gostaria muito de encontrar ela no reality para fazer uma aliança gostosa e mostrar a potência e a força das drags brasileiras. Apesar dela representar a Itália, ela é uma mulher trans, preta, brasileira e uma artista maravilhosa. Também gostaria muito de encontrar a Horacio Potasio, do México. Ela é uma Queen muito boa no que faz e ela merecia muito a coroa da última temporada do México.
Gostaria de encontrar a Dovima Nurmi ou a Dita Dubois, do Drag Race Espanha. Acho que elas dominariam muito bem a competição. E dos Estados Unidos, eu amo de paixão a Tammie Brown. Ela é muito talentosa. Nina Flowers, também da primeira temporada, eu acho que seria uma excelência encontrar ela. Do Canadá, tem a Makayla Couture que também é muito excelência drag.
CH: Você foi da Itália direto para o Drag Race ou você já estava morando no Brasil?
P: Essa história é inacreditável. Eu não queria me inscrever no Drag Race Brasil porque eu já não me via mais naquela posição. Eu já tinha tentado Drag Race sete vezes. Três vezes no UK, três na Itália e uma no Brasil. Seria a oitava vez e eu estava muito em dúvida. A minha amiga Victoria Shakespeare, do Drag Race Alemanha, me mandava mensagem todo dia perguntando sobre a inscrição. Eu não queria me inscrever por morar fora do Brasil e achar que eles não me chamariam. Eu acho que tem muita drag que representa o meu tipo de drag aqui no Brasil.
A Victoria insistiu muito e me pediu para fazer o vídeo para ela ver. Eu fiz e ela me convenceu a mandar e me inscrevi um dia antes de fechar as candidaturas. No mesmo dia que eu mandei o vídeo de inscrição, eu olhei para o meu ex-companheiro de 10 anos e falei: “Eu vou entrar na segunda temporada do Drag Race Brasil, Eu vou comprar minha passagem para voltar para o Brasil”. Eu voltei para o Brasil um mês e cinco dias antes de receber a chamada de confirmação.
CH: E agora você voltou de vez para o Brasil?
P: Sim, eu moro no Brasil atualmente. Estou no Rio de Janeiro, na Tijuca, morando com as minhas irmãs e companheiras de programa, Poseidon Drag e Ruby Nox.
CH: Diante de tudo o que tem acontecido agora, o que você diria para a Paola que estava começando a fazer drag, anos atrás?
P: Continue acreditando nos seus sonhos e, quando você chegar lá, não deixe de acreditar em si mesma porque você é boa demais. Você pode tudo aquilo que quiser.
+Quer receber as principais notícias da CAPRICHO direto no celular? Faça parte do nosso canal no Whatsapp, clique aqui.