‘Os haters nem consomem arte drag’: Mercedez Vulcão sobre Drag Race Brasil
Em entrevista à CAPRICHO, a terceira eliminada da temporada falou sobre o Snatch Game, críticas e nova fase na música

passagem de Mercedez Vulcão pela 2ª temporada de Drag Race Brasil teve momentos de destaque e também uma despedida no temido Snatch Game. Em entrevista à CAPRICHO, a queen relembrou sua caracterização de Elke Maravilha, que foi elogiada pela precisão visual, mas não conquistou os jurados nas piadas.
“Eu fiquei muito preocupada em como retratar a Elke Maravilha sem desrespeitar essa figura. Eu precisava fazer ela ser engraçada, mas não queria ir para um lugar de escracho total”, conta Mercedez Vulcão à CH.
Poucos dias antes de sua eliminação ir ao ar, Mercedez decidiu se posicionar contra críticas que recebeu após o terceiro episódio nas redes sociais: “Eu estava quieta no início da temporada passando reto por vários comentários e ignorando. Eu pensava: ‘Não vou bater palma para maluco dançar’. Só que aí chegou num ponto que a galera começou a falar coisas pesadas e eu decidi me posicionar.”
“E foi bom porque eu estava vendo mais hate do que apoio, né? Quem estava me apoiando, estava quieto. Geralmente a gente apoia as pessoas no sigilo, quieto em casa. Quem faz barulho são os haters. Então foi interessante porque um monte de gente começou a se pronunciar e demonstrar apoio”, completou.
Sem patrocínio e com orçamento limitado, ela disse que reconhece falhas na execução do seu look de “mula sem cabeça”, mas ressaltou que a piada do figurino funcionou para o público presente na watch party e que o carinho recebido presencialmente são de verdadeiros fãs da arte drag, enquanto o hate nas redes sociais é feito por pessoas que gostam do reality.
Os haters nem consomem arte drag. Essas pessoas que jogam hate na internet não vão até uma festa consumir a arte drag, não vão pagar para assistir. Elas tem lá o programa delas e ouso dizer que elas nem gostam de arte drag, elas gostam de um programa específico.
Mercedez Vulcão
Mercedez também falou sobre a amizade com Bhelchi, que considera sua maior conexão dentro da temporada, e revelou o desafio que sonhava encarar: atuação. “Eu ia deitar e rolar, isso eu tenho certeza absoluta.” Sobre seu momento favorito, ela aponta sem hesitar: o episódio de girl group. “Teve girl group mandando bem, teve briga, teve queda na bananeira… foi um episódio completo.”
Fora da competição, a artista prepara o lançamento do single Amante Latina e seu lado B, Fio da Navalha, com referências que vão de Os Mutantes a Radiohead, além de estar à frente da Festa Péssima, evento produzido por drags e para drags, que estreia em São Paulo. “Já tem drags brilhando no pop, então não queria entrar num lugar que não é o meu.”
Leia a entrevista completa com Mercedez Vulcão:
CAPRICHO: Como foi assistir ao episódio da sua eliminação?
Mercedez Vulcão: Foi bem legal e tranquilo. Eu estava com uma expectativa alta porque a gente não sabe como vai sair o resultado final do episódio. Sabemos o que aconteceu, mas não como as coisas vão ser mostradas na edição. E eu gostei de como foi feito, fiquei feliz. Eu estava assistindo na Watch Party em Recife, no Cabaré da Ruby. O público estava super receptivo, carinhoso e acolhedor. Foi muito legal.
CH: Antes da eliminação, você respondeu críticas sobre o look de folclore de forma muito aberta no X (Twitter). Você comentou que já sentia o “hate” desde o primeiro episódio. Como lidou emocionalmente com isso?
M: Os haters nem consomem arte drag. Essas pessoas que jogam hate na internet não vão até uma festa consumir a arte drag, não vão pagar para assistir. Elas tem lá o programa delas e ouso dizer que elas nem gostam de arte drag, elas gostam de um programa específico. Quando a gente muda esse pensamento, entendemos que não é só sobre a gente, é sobre elas, né? Eu estava quieta no início da temporada passando reto por vários comentários e ignorando. Eu pensava: “Não vou bater palma para maluco dançar”. Só que aí chegou num ponto que a galera começou a falar coisas pesadas e eu decidi me posicionar. E foi bom porque eu estava vendo mais hate do que apoio, né? Quem estava me apoiando, estava quieto. Geralmente a gente apoia as pessoas no sigilo, quieto em casa. Quem faz barulho são os haters. Então foi interessante porque um monte de gente começou a se pronunciar e demonstrar apoio.
CH: Quando você foi anunciada, muitas pessoas que já te conheciam já esperavam que você fosse se dar bem em desafios de música e teatro. Você acha que houve uma quebra de expectativas ao sair no Snatch Game?
M: Eu não tinha expectativa de ir bem no Snatch Game. Eu tenho muita clareza de que é um formato muito específico e diferente do que eu tô acostumada a fazer. Nunca fiz imitação. Apesar de ser algo que tem a ver com interpretar, não é algo que eu costumo fazer. Então, eu fiquei muito preocupada em como retratar a Elke Maravilha sem desrespeitar essa figura. Eu precisava fazer ela ser engraçada, mas não queria ir para um lugar de escracho total. Foi esse o entendimento que eu não tive ali na hora. Não soube medir essas forças.
CH: Olhando para a sua eliminação, o que você faria de diferente?
M: A minha eliminação não é relativa só ao episódio. Eu acho que a minha eliminação vem de uma insatisfação dos jurados em relação às minhas runways e um acúmulo de coisas que culminou. Eu não acho que minha runway de pelúcia estava ruim, por exemplo. Na hora eu ouvi essas críticas e acreditei, mas assistindo o programa eu não concordei. Não acho que estava faltando acabamentos ali. Acho que estava bem legal esse look, mas o look da mula sem cabeça realmente foi um que precisava de mais trabalho. Acho que eu faria diferente na preparação. Agora sabendo como é, eu me prepararia de outras formas.
CH: Qual foi seu momento favorito na competição?
M: O Girl Group. Acho que foi um momento mais divertido. As cinco trabalharam muito bem juntas. A gente se escutou muito e se divertiu muito fazendo. Esse episódio foi icônico. Teve girl group mandando bem, teve girl group com a outra caindo na bananeira, teve briga, teve conflito, teve de tudo. Foi um episódio completo, é o meu favorito.
CH: O que você não mostrou da sua drag no programa que você gostaria muito de ter mostrado?
M: Eu queria muito ter passado por um desafio de atuação mesmo. Desses que interpretam personagens, contam uma história. Eu ia deitar e rolar, isso eu tenho certeza absoluta.
CH: Você anunciou que uma música nova está vindo aí, Amante Latina. Quais foram suas inspirações para esse single?
M: Esse single que eu estou lançando tem um lado A e um lado B. O single é Amante Latina, mas eu também estou lançando um lado B que se chama Fio da Navalha. Essa vai ser bem lado Bzão, assim, total indie, para quem gosta do lado B mesmo. Eu sempre falei que eu não sou uma drag do pop. Já tem drags fazendo isso brilhantemente no pop, então eu não queria entrar nesse lugar que não é da minha identidade. Eu sou uma drag do indie, do rock, do MPB. Eu gosto muito dessas referências. Então, eu quis trazer isso.
Eu já vinha trazendo isso para as músicas que eu lancei, mas nesses primeiros lançamentos, eu estava mais no caminho experimental, tentando entender minha identidade e minhas referências. Essas músicas novas têm mais da minha identidade de forma clara. Uma referência forte para mim são Os Mutantes. É uma das melhores — se não a melhor — banda que já existiu nesse país, porque é atemporal. Você escuta as músicas e pensa: “Caramba, isso parece que foi lançado ontem”. É muito maravilhoso.
Tem outras referências também: Smashing Pumpkins, Radiohead, King Crimson. Nesse lado B, especialmente, essas influências aparecem. E também tem referências brasileiras, como Rita Lee e Elis Regina.
CH: Outro ponto da sua trajetória no programa que chamou atenção foi o Drag King no mini challenge do Grindr. Eu vi alguns depoimentos de artistas te agradecendo por ter feita essa montação, mesmo que para um mini challenge. Foi uma homenagem?
M: Sim. Podia ter sido melhor, mas vale lembrar que eu fiz aquela montagem em 10 minutos. A gente não sabia o que seria, mas sabíamos que tínhamos que levar um look masculino. A primeira coisa que eu pensei foi em levar um drag king. Faço questão de levar um drag king porque esse mesmo fandom que joga bastante hate na gente, é um fandom que também desconsidera muito mulheres cis fazendo drag. Se eu posso ter um pouco de tempo de tela para levar um pouco disso, para mim é um posicionamento político.
CH: Após a sua eliminação, para quem fica sua torcida após sua eliminação?
M: A minha maior amizade do programa com certeza foi a Bhelchi. A gente se conectou muito bem. Mostraram isso agora só na minha dublagem, né? Enquanto eu estava dublando, ela estava sofrendo lá atrás. A gente teve uma troca incrível durante o programa, nos ajudamos muito. Depois do programa a gente teve uma troca muito legal também. De vez em quando a gente se liga para fofocar, conversar e trocar figurinhas.
CH: Diante de tudo o que tem acontecido agora, o que você diria para a Mercedes que estava começando a fazer drag, anos atrás?
M: Eu não mudaria nada da minha trajetória de drag. Tudo que eu fiz foi aprendizado e tô muito satisfeita com a minha participação. Acho que consegui entregar o que eu conseguia. A minha dica é “só vai” e “continue que você tá no caminho certo”.
CH: Se me permite, eu só sugeriria pedir para a DaCota Monteiro não torcer para você. Porque todas as drag que ela torce estão saindo.
M: Ai, que ódio (risos). É, realmente. Acho que eu falaria para o meu eu do passado assim: “Não seja amiga da DaCota Monteiro“. Brincadeira, DaCota, eu te amo.
CH: Além de Drag Race, onde mais podemos te ver?
M: Tem o lançamento das minhas músicas, mas eu também estou ajudando a produzir uma festa que vai lançar em São Paulo agora, a Festa Péssima. Estou realizando isso junto com a Xaniqua Laquisha e com a Rox. É uma festa feita por drags, produzida por drags, para drags e para o público que gosta de drag.
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