O Bosque dos Sonâmbulos mistura terror e humor em musical emocionante
Em entrevista à CAPRICHO, o diretor Matheus Marchetti contou detalhes do processo de criação da peça teatral
Sem planos para o Halloween? O musical O Bosque dos Sonâmbulos acaba de encerrar sua temporada no Teatro Viradalata, em São Paulo, e anunciou mais quatro datas extras nos dias 24, 25 e 31 de outubro e 02 de novembro. Nós, da CAPRICHO, já fomos assistir e podemos dizer: os fãs de musicais e de terror vão amar esse espetáculo!
Adaptado de um curta-metragem homônimo, O Bosque dos Sonâmbulos é um conto-de-fadas sensual e assustador sobre uma companhia de ópera misteriosa que se apresenta em um antigo hotel nas montanhas. Enquanto o jovem Thomas se apaixona por um belo cantor da trupe, seu irmão mais novo, Oliver, teme que eles sejam vampiros, colocando sua família em perigo.
Matheus Marchetti é quem escreve e dirige ambas as adaptações desse roteiro e, em entrevista à CAPRICHO, ele revelou que a história surgiu de um diário de sonhos que teve na adolescência, na mesma época em que estava assumindo sua sexualidade e passando pelo medo de se assumir para a família.
“Nesse período eu tinha sonhos muito intensos e muito malucos. Eles quase sempre envolviam um hotel no meio do nada e um menino que eu encontrava nesse hotel. Às vezes, eles eram mais românticos, sensuais e, às vezes, eram pesadelos com coisas horríveis acontecendo. Essa foi a base para eu escrever uma história à partir desse sonho”, conta Matheus.
Formado em cinema, Matheus também estudou teatro paralelamente à faculdade e reuniu em seu TCC dois gêneros audiovisuais pelos quais é apaixonado: terror e musical. “Eu gosto de pegar esses elementos e misturar essas duas coisas que ás vezes as pessoas não acham que conversam muito. Algumas pessoas gostam de musicais e não curtem terror, ou vice-versa, mas eu acho que eles tem muito em comum e é o que eu tento explorar.”
À principio, ele já queria escrever um romance gay adolescente que casasse com o horror, mas os elementos de teatro e a musicalidade sempre estiveram no enredo. Junto ao cantor lírico e compositor Vitor Bispo, Matheus começou a adaptar o roteiro escrito para longa-metragem mas, devido ao modelo do TCC de sua faculdade, se tornou um curta-metragem.
“A gente fez primeiro como um curta, mas sempre com a intenção de, eventualmente, voltar ao projeto como um longa. Mas o tempo foi passando, e a ideia parecia mais distante. Aí, eu tive o insight: ‘Vamos levar para o palco’. O teatro oferece um espaço de experimentação maravilhoso que o cinema não te dá. Cada dia é uma coisa, tem um tempo maior para testar o texto”, conta Marchetti.
Com inspirações nos filmes de horror gótico dos anos 1960 e 1970, principalmente os focados em vampiras lésbicas – muitos deles baseados no livro Carmilla -, Matheus quis contar uma história na mesma linha, mas protagonizada por dois homens. “O terror sempre foi queer, mas muitas vezes é o subtexto. São filmes que o aspecto das relações entre dois homens, principalmente, está muito de segundo plano. Então a minha ideia era trazer isso para o primeiro plano e brincar com essa questão de como a gente enxerga personagens femininos e masculinos no terror.”
O texto serve como uma denúncia ousada dos verdadeiros horrores que assombram as pessoas LGBTQ+, explorando os medos genuínos que cercam a comunidade. O contraste entre o horror fantasioso e o verdadeiro terror da discriminação e do preconceito cria uma narrativa profunda e provocadora que ressoa de maneira muito impactante. Conforme o próprio diretor coloca: “A parte realmente de terror da peça é o pai. A graça é justamente essa: o monstro não é o vampiro, é o caçador de vampiros.”
Não se engane se você espera se deparar apenas com os aspectos sensuais, emocionantes e um pouco macabros nessa peça. O texto também é carregado de boas doses de humor, misturando bem esses momentos mais engraçados com os mais tensos. A mudança de tons deixa tudo muito mais surpreendente, tornando as partes intensas muito mais pesadas de se assistir e mantendo o público envolvido do início ao fim.
O Bosque dos Sonâmbulos é uma jornada teatral que desafia, emociona e assusta, mergulhando de forma corajosa na vulnerabilidade de seus personagens. Com uma narrativa que oscila habilmente entre o horror fantasioso e as profundas angústias humanas, a peça oferece ao público uma identificação com as complexidades das relações familiares e amorosas, além de ser uma experiência teatral única e impactante.
Confira o curta-metragem:
O Bosque dos Sonâmbulos retorna aos palcos nos dias 24, 25 e 31 de outubro, e 02 de novembro.
Você pode garantir o seu ingresso pelo Sympla.