Number Teddie comenta faixa a faixa do novo disco, “MISS SIMPATIA”
Em entrevista exclusiva, o cantor e compositor manauara se abre sobre o processo criativo de seu segundo disco e reflete sobre se mostrar vulnerável
ascido e criado em Manaus, Number Teddie se define como “um compositor que canta”. O artista já acumula passagens por palcos como Rock in Rio, Popload e Lollapalooza, além de faixas assinadas para nomes como Pabllo Vittar, Urias e Sevdaliza. Pronto para uma nova era, ele acaba de lançar seu segundo álbum, MISS SIMPATIA, um projeto que mergulha fundo em questões pessoais e marca um novo capítulo em sua trajetória.
“Acho que tudo mudou artisticamente”, diz Teddie em entrevista exclusiva à CAPRICHO. “Eu saí do primeiro álbum e entrei em um momento muito estranho da minha vida pessoal. Foi um período triste, mas em que comecei a entender melhor o lugar em que eu estava trabalhando, o que eu fazia e como podia me movimentar nesse espaço. Passei a compreender minha ética de trabalho. Com o segundo álbum, tive tempo de amadurecer.”
“Eu sempre escrevi pra me entender, mas, depois do primeiro álbum, perdi isso um pouco porque fiquei preso nessa lógica imediatista da indústria: tudo precisa dar certo de primeira, e você tem que lançar algo novo o tempo todo. Quero fazer o que é interessante pra mim, o que faz sentido, no meu processo e no meu tempo”, continuou.
O novo disco, produzido por Rodrigo Gorky, Zebu e Carlos Bezerra, é uma jornada emocional e autobiográfica. Faixa a faixa, o cantor revisita lembranças da infância, relações e momentos de cura.
Faixa a faixa: MISS SIMPATIA, o novo álbum de Number Teddie
- DNA
“Sabe quando dizem na Bíblia “a verdade vos libertará”? Eu não acredito em Deus nem na Bíblia, mas acho essa frase muito verdadeira.”, conta Teddie sobre a faixa que abre o álbum. “A verdade sempre me assustou, e o medo sempre foi um grande catalisador da minha criação.”
Em um dos maiores momentos do disco, ele canta na faixa de abertura: “Tenho os olhos da minha mãe e os pensamentos destrutivos do meu pai.” A canção nasceu de um momento delicado e fala sobre heranças familiares, traumas e a busca por autoconhecimento. “Minha infância foi caótica. Minha relação com meu pai sempre foi complicada, e ele morreu de forma muito trágica.”
“Essa frase ficou comigo até que um dia, num momento difícil do meu relacionamento, tivemos várias brigas no mesmo dia. Depois da terceira, vim pra casa e pense e escrevi DNA. Essa música veio desse lugar de querer entender a humanidade, o que é ser uma pessoa, e como somos reflexos de quem nos criou. No fim das contas, isso também está no nosso DNA. Além dos traços, herdamos temperamentos, padrões, dores.”
- gabriel
Com uma sonoridade mais leve, gabriel é uma das canções mais ternas do disco. “Escrevi num dia em que eu e meu namorado estávamos tristes porque não tínhamos dinheiro pra ir ao cinema. Quis animar ele e acabou virando uma carta de amor”, relembra.
Apesar do cantor ter ficado com um pé atrás sobre estar criando uma espécie de Chico, da Luísa Sonza, a faixa fala sobre afeto e parceria acima de tudo. “Todo mundo tem um ‘Gabriel’ na vida — pode ser um amigo, um irmão, um amor. É uma música sobre cumplicidade em todas as formas.”
- O HOMEM MAIS FELIZ DO MUNDO e o homem mais triste do mundo
E essa dobradinha aqui? Number Teddie escreveu O HOMEM MAIS FELIZ DO MUNDO em um momento de total vulnerabilidade. “Escrevi no meu sofá, chorando muito. Chorava tão alto que ligaram pra minha casa perguntando se eu estava bem”, relembra. A música nasceu de forma simples, apenas com voz e violão, e o primeiro verso já dava o tom confessional.
Daquela demo caseira nasceu também o homem mais triste do mundo, que veio como uma espécie de resposta à primeira. “A parte final da música é literalmente a demo original, gravada no celular, com minha voz falhando. Na mixagem, deixamos o áudio cru pra parecer que é só eu e outra pessoa em um quarto”, explica o cantor.
As duas faixas compartilham a mesma estrutura, mas se invertem na atmosfera: Feliz soa mais sombria, enquanto Triste carrega um arranjo mais luminoso, quase irônico. “Elas são basicamente a mesma música, só que invertidas”, define Teddie.
- TODO HOMEM FAZ
Essa é o coração do álbum e também uma das músicas mais intensas da carreira de Number Teddie. A faixa nasceu de uma dor profunda: ela fala sobre abuso sexual. “Eu sobrevivi a dois abusos: um quando tinha 9 anos e outro aos 13”, conta o cantor. “Tive uma infância e adolescência muito difíceis. Esses traumas, e a ideia de ‘virilidade’ que sempre foi imposta, me causavam muito asco.”
A canção foi lançada junto de uma carta aberta, em que Teddie compartilhou sua história com o público pela primeira vez. “Mesmo sendo um homem afeminado, tive nojo de homem por muito tempo. Eu só andava com mulheres até os 20 e poucos anos, porque achava os homens desprezíveis”, revela.
Escolher TODO HOMEM FAZ como o primeiro single não foi uma decisão simples. “Nenhuma gravadora sugeriria isso. Mas a gente quis lançar por conta da mensagem”, afirma. O clipe reforça esse desconforto, trazendo de forma simbólica o medo de vestiário que o artista sempre carregou. “Além da virilidade e da exposição, existia um medo real: o medo de ser estuprado.”
Com o tempo, ele percebeu que muitas pessoas LGBTQIA+ compartilham experiências semelhantes. “Muitos homens gays e bissexuais tiveram seu primeiro contato sexual em contextos de abuso, com pessoas mais velhas. É algo que quase nunca é discutido.”
Mesmo sem alcançar os números de seus outros lançamentos, TODO HOMEM FAZ se tornou uma das músicas mais importantes de sua trajetória pelo impacto emocional que causou. “As mensagens que recebo, o tanto de gente que se sente acolhida por causa dela… isso não tem preço. Nenhum chart substitui o contato real com o público. Porque, no fim, se você desligar o Spotify, ele deixa de existir. O que fica é o mundo real.”
- boyband
Com uma letra honesta e direta, boyband fala sobre o peso da comparação e a busca por pertencimento no meio da música. “Quando entrei na carreira profissional, comecei a me comparar muito com outras pessoas”, conta Number Teddie. “Passei a ignorar tudo o que já tinha vivido pra pensar: ‘Queria ser como fulano, como ciclano… eles são perfeitos, bonitos, magros, e eu não tô nem perto disso’.”
A faixa nasceu quando o cantor percebeu que nunca seria o tipo de artista que idealizava e que tudo bem com isso. “Eu nunca vou ser essa ‘Miss Simpatia’ que queria ser, porque minha realidade sempre foi outra. Vim de uma família quebrada, pobre, de um lugar completamente diferente dessas pessoas com quem eu me comparava.”
O resultado é uma canção sobre aceitar a própria história. “A gente se compara tanto que acaba anulando as próprias vivências. E, por mais difíceis que elas sejam, somos quem somos por causa delas”, resume.
- MD
“A gente acreditava que ela seria a mais comercial do álbum”, diz Teddie. “Mas é engraçado, porque a resposta pra Todo Homem Faz foi muito maior.” A inspiração veio de uma festa em que o cantor se sentia completamente deslocado. “Todo mundo estava muito ‘colocado’, e eu era o único sóbrio, porque estava tomando remédios pra cabeça e em recuperação do alcoolismo — algo que falo em john travolta.”
Daquela noite, ele anotou no celular: ‘Todos os meus amigos estão usando MD, gritando pro mundo como é bom viver’. O verso virou o ponto de partida para a primeira música escrita para o álbum e acabou se tornando o segundo single, acompanhada de um visualizer.
- pintando quadros com a minha mãe
Com um título bem Lana Del Rey, essa faixa é, para Teddie, uma das mais especiais. “Essa música significa demais pra mim”, diz. “Tem minha frase favorita do disco: ‘Mãe queria o seu carinho, mas nessa cidade a minha mãe sou eu.’” A canção aborda o sentimento de solidão e a transição entre adolescência e vida adulta. “Fala sobre perceber que, às vezes, ninguém vai te ajudar além de você mesmo — e tudo bem, isso faz parte do crescimento.”
O cantor explica que, com o tempo, a gente passa a enxergar com mais carinho as pequenas coisas do cotidiano. “No fim, a gente reclama muito dos pais, mas as coisas mais bobas, aquelas que parecem pequenas, são as que mais fazem falta quando saímos de casa”, diz. “Essa música é sobre entender a falta e se acolher dentro dela.”
- Então Pode Chorar
Última música escrita para o álbum, Então Pode Chorar nasceu em um momento de vulnerabilidade e incerteza. “Eu estava com muito medo de lançar esse trabalho, medo de ser vulnerável”, lembra. “Ouvia muito que, se eu fosse específico demais, as pessoas não iam se identificar, ou que o álbum era ‘difícil’, que talvez eu nunca enchesse um Espaço das Américas fazendo o tipo de música que eu faço.”
- john travolta
Fechando o disco, john travolta é a canção que amarra todo o ciclo. “Todo mundo era contra. Eu era a única pessoa que queria lançar”, conta o cantor. A faixa foi escrita depois de uma festa de uma cantora famosa, em um evento cheio de regras. “Não podia usar celular, e todo mundo parecia desconfortável. Em certo momento, alguém me disse: ‘Se você não for ali dançar no meio, nunca vai ser famoso’. Eu pensei: ‘Mas eu não quero estar ali, dançando no meio da social dos famosos, performando’.”
A experiência fez Teddie refletir sobre o jogo de aparências da indústria. “A gente vive tentando impressionar pessoas que não vão lembrar da gente no dia seguinte.” A imagem de um cantor famoso dançando como o personagem de Grease acabou se tornando o centro da música. Além da letra, o artista pensou no detalhe técnico: o final orquestral da canção conecta-se diretamente à primeira faixa do álbum, DNA.
Para ele, essa amarra simbólica também reflete o próprio processo pessoal. “Esse álbum representa o fim de um ciclo, não o fim da depressão, que ainda existe, mas o fim do medo. O medo de ser vulnerável. Agora quero fazer coisas que me empolguem, que sejam leves. Tenho medo de ser fútil, mas quero ver até onde posso ir. Posso passar cinco anos sem lançar nada ou lançar algo ano que vem.”
Ouça Miss Simpatia, de Number Teddie:
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