Nova animação da Pixar, Elio, teve roteiro alterado e cenas LGBT+ cortadas

Filme teve direção trocada após críticas internas e perdeu cenas que indicavam a sexualidade do protagonista, segundo reportagem do The Hollywood Reporter.

Por Arthur Ferreira 3 jul 2025, 09h00
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nova aposta da Pixar, Elio, chegou aos cinemas em junho com uma história doce sobre pertencimento, luto e amizade intergaláctica. No entanto, uma reportagem do The Hollywood Reporter revelou que a versão final exibida nas telonas é bem diferente da ideia original concebida pelo diretor Adrian Molina e que cenas com subtextos LGBTQ+ foram removidas ao longo do processo.

Segundo fontes ouvidas pela publicação, os problemas começaram em 2023, quando uma primeira versão do filme foi exibida para testadores e para a liderança da Pixar. O retorno foi morno, com muitos dizendo que não iriam ao cinema para assistir ao filme. Pouco depois, Molina, que é abertamente gay, deixou a direção do projeto. Embora tenha recebido a proposta de continuar como co-diretor, ele decidiu se afastar diante das mudanças feitas em seu roteiro original.

A partir daí, o longa passou por uma reestruturação criativa nas mãos de Madeline Sharafian e Domee Shi. Durante esse processo, cenas que traziam sutis indícios da possível identidade queer de Elio foram cortadas. Entre elas, uma sequência chamada pela equipe de “trash-ion show”, em que o protagonista criava um look com lixo de praia e desfilava para um caranguejo, além de elementos visuais em seu quarto que sugeriam um interesse por outro garoto.

“Foi ficando claro, ao longo da produção, que a liderança estava apagando esses momentos que sugeriam a sexualidade de Elio”, contou um ex-artista da Pixar, sob anonimato. “De repente, você tira uma parte fundamental da identidade do personagem, e o filme passa a não falar mais sobre nada.”

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Sarah Ligatich, ex-editora assistente da Pixar e integrante do grupo interno LGBTQ+ PixPride, também comentou as mudanças. “Fiquei profundamente entristecida. O que fizeram foi destruir um trabalho lindo”, disse. Ela ainda relatou que vários membros da equipe deixaram o projeto após a saída de Molina, embora a reportagem também traga fontes que negam essa informação.

Outro ponto que chama atenção é que, segundo os bastidores, as ordens para suavizar o subtexto LGBTQ+ partiram da própria Pixar, e não da Disney. “Muita gente costuma culpar a Disney, mas as decisões vinham de dentro de casa”, afirmou uma fonte. “É como se os executivos já estivessem se antecipando e obedecendo antes mesmo de serem cobrados.”

O caso de Elio se soma a outras polêmicas recentes envolvendo o apagamento de representações LGBTQ+ em produções do estúdio. Em dezembro de 2024, a Disney confirmou o corte de uma trama trans na série Win or Lose. Também em 2024, um relatório do IGN revelou que a equipe de Divertida Mente 2 foi instruída a “diminuir o tom LGBTQ+” da história.

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Com orçamento estimado em US$ 150 milhões, Elio arrecadou pouco mais de US$ 40 milhões nos EUA, sendo a pior abertura de um filme da Pixar. Diante disso, ex-funcionários questionam se a escolha por suavizar os temas não teria afastado justamente o público que poderia ter se identificado com a proposta original. “Será que teriam perdido tanto dinheiro se simplesmente deixassem Adrian contar a sua história?”, questionou um dos artistas ouvidos.

Elio está em cartaz nos cinemas. Confira a programação de sua cidade.

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