Marina Sena e as ‘Coisas Naturais’ que fazem dela uma artista única

Apaixonada e experimental, a cantora se reafirma como um dos nomes mais importantes da nova MPB com o lançamentos de seu terceiro álbum de estúdio

Por Arthur Ferreira 1 abr 2025, 21h01
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a era da produção musical acelerada e da busca incessante por hits virais, Marina Sena aposta no instinto. Coisas Naturais, seu terceiro álbum de estúdio, é um mergulho em um universo onde a música é pulsante, orgânica e, acima de tudo, sensorial. Em 13 faixas que transitam entre reggae, bossa nova, rock, funk e pop, a cantora reafirma sua autenticidade e frescor.

Desde o lançamento de Vício Inerente, Marina viu sua carreira alcançar novos patamares, consolidando-se como um dos nomes mais relevantes da nova música brasileira. No entanto, sua personalidade irreverente e presença frequente nas redes sociais levaram muitos a insistir na piada de que ela teria virado “subcelebridade”, como se isso pudesse diminuir sua arte.

Com Coisas Naturais, Marina dá a resposta perfeita: um disco que reafirma seu status de artista completa. O desafio de lançar um terceiro álbum após dois projetos aclamados era grande, mas ela, despretensiosa como sempre, entrega um trabalho que contraria qualquer receio sobre identidade artística.

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A introdução do álbum já entrega o conceito: a faixa-título traz referências diretas ao contato com elementos da natureza. A canção nos prepara para um disco que valoriza a intuição artística e a experimentação sonora. O single Numa Ilha, que já havia sido lançada no final de 2024, já dava pistas dessa abordagem livre e tropical.

Marina Sena não se prende a uma fórmula. Em Desmitificar, uma de suas favoritas, a artista acelera o ritmo e impõe uma força que dialoga diretamente com a coragem e o desejo. Já em Anjo, a influência de Gal Costa e Rita Lee é escancarada, com um pop radiofônico poderoso e uma guitarra que ecoa referências do rock nacional.

A partir da vibrante TOKITÔ, o álbum muda de rumo e mergulha em uma narrativa de amores não correspondidos. Sem Lei e Sensei intensificam essa virada, com versos que falam de desejo e perda, mas sempre mantendo o fio condutor das impressões sensoriais. 

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E, claro, não dá para ignorar Combo da Sorte, uma das canções feitas para o namorado de Marina, o influencer Juliano Floss. A faixa ganhou um toque a mais de carinho quando ele tatuou seu nome em inglês como homenagem.

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Antes do lançamento do disco, a possibilidade de Marina compor sobre o relacionamento chegou a ser criticada, mas a recepção calorosa da faixa prova que o amor é universal – e Marina é mestre em escrever poesias sobre se apaixonar. A relação entre os dois, que já foi alvo de polêmicas, encontra na música um espaço de afeto e autenticidade. E não para por aí: o álbum inteiro é atravessado por essa fase apaixonada de Marina, que transforma suas experiências em melodias e letras que exalam sentimento e intensidade.

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Os momentos finais do álbum são intensos. Mágico surge como um sopro de rock brasileiro, com uma energia que nos dá vontade de cair na noitada com os amigos. CARNAVAL, por sua vez, é o grande estouro final: um funk com sotaque mineiro e gingado de samba que faz jus a celebração sonora do disco. Para fechar com chave de ouro, Ouro de Tolo assume um tom mais reflexivo e poético, garantindo um desfecho à altura da proposta do álbum.

Lançado após um período de imersão criativa em um retiro musical, o terceiro álbum de Marina Sena reflete seu amadurecimento artístico. A artista explorou novas sonoridades, expandiu seu alcance vocal e se permitiu uma abordagem ainda mais experimental, sem perder sua essência. A mineira de Taiobeiras mais uma vez prova que, em uma indústria musical cada vez mais plástica, para ser artista de verdade é preciso se voltar às coisas naturais.

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