Lorelay Fox sobre retrocessos LGBTQIA+: ‘Espero que a nova geração acorde’
Em entrevista exclusiva à CAPRICHO, drag queen fala sobre a nova temporada da Lorelive e os desafios da militância durante uma onda de conservadorismo

quinta temporada da Lorelive, programa ao vivo comandado por Lorelay Fox na DiaTV, estreou em junho trazendo novidades no formato, leques na plateia e quadros inéditos. A CAPRICHO esteve nos bastidores do quarto episódio, exibido em 9 de julho, para conversar com a apresentadora antes da live.
Criada durante o isolamento social, a Lorelive nasceu como uma forma de Lorelay se aproximar do público em meio à pandemia. “Eu queria me aproximar do público. Era uma forma de interagir, conversar com as pessoas. Para mim, isso ter evoluído ao ponto de ter uma plateia no estúdio, é a forma mais próximo que se pode estar e isso me deixa muito feliz”, contou à CAPRICHO.
Agora realmente parece um programa de domingo caótico da televisão brasileira. Tem muito a minha cara. Eu me divirto muito fazendo e o público sente isso, né? Está sendo incrível.
Lorelay Fox sobre a Lorelive
A temporada conta com 16 episódios, divididos em duas fases: a primeira vai até agosto e a segunda ocorre entre outubro e dezembro, sempre às quartas-feiras, às 20h. Entre as novidades, estão quadros inéditos como o Quem é Ela?, no qual Lorelay se transforma digitalmente em outras pessoas ou objetos, e o Paredão, inspirado no programa Video Game da Angélica. “Eu não imaginei que ia fazer tanto sucesso nas redes sociais”, disse ela.
Mas o sucesso não é atoa. Com um público fiel e uma experiência acumulada ao longo de 10 anos produzindo conteúdo para seu canal no YouTube, Lorelay sente que evoluiu como apresentadora junto com a expansão de seu programa. “Eu me tornei muito mais rápida no improviso. Consegui pegar um timing do ao vivo que é muito bom como profissional e como drag. Acho que enriqueceu muito minha arte como drag.”
Retrocessos na militância LGBTQIA+ e o papel da nova geração
Em meio a um cenário desafiador para a comunidade LGBTQIA+, marcado por retrocessos e redução de apoio até durante o Mês do Orgulho, Lorelay Fox analisa o momento com atenção. Ela lembra que, quando começou seu canal no YouTube, a militância estava em crescimento, mas hoje o termo tem sido usado de forma pejorativa para diminuir pautas importantes. “Tentaram descredibilizar todas essas pautas. É muito triste.”
Como movimento LGBTQIA+, precisamos olhar para nossa história e lembrar que já enfrentamos conservadorismos ainda maiores. Acreditar na possibilidade de mudança é essencial, desde que a gente se proponha a isso.
Lorelay Fox
Segundo Lorelay, parte da juventude LGBTQIA+ atual tem um olhar mais conservador em grande parte porque os direitos básicos parecem garantidos. “Quem tem 15 anos hoje não imagina o estigma da AIDS, a luta pelo casamento igualitário ou o direito à doação de sangue. Crescer num mundo onde a lei está do seu lado pode fazer a gente ficar estagnado. Acho que é isso que está acontecendo agora. Mas eu espero que a nova geração acorde, porque falta pouco para perder nossos direitos.”
A drag alerta para o risco de perder direitos conquistados e reforça a necessidade de engajamento. Ela cita também o que percebe como uma articulação planejada contra pautas LGBTQIA+ nas redes sociais, citando o caso da deputada Erika Hilton, que foi alvo de críticas organizadas. “Não é por acaso. A gente percebe que o engajamento é fora do comum. Tem uma articulação grande contra as nossas pautas. Temos que falar sobre isso, ir pra cima e não ficar de braços cruzados.”
Visibilidade para artistas LGBTQIA+: uma missão pessoal
Além do trabalho como apresentadora e drag queen, Danilo Dabague tem formação e experiência em publicidade como designer e ilustrador. Esse lado pessoal reforça o compromisso em dar visibilidade a artistas LGBTQIA+ independentes, que muitas vezes enfrentam barreiras para serem reconhecidos.
“Quando descobri esse universo de artistas falando sobre as nossas pautas, senti que era meu dever usar minha influência para ajudar a divulgar. É triste que tanta gente não tenha contato com esses trabalhos por falta de visibilidade. O mínimo que posso fazer é incentivar o trabalho deles, comprar seus materiais e divulgar os eventos que participo”, contou.
Presença recorrente em eventos como POCCOM ou Artists’ Valley da Comic Con, eventos com espaços dedicados exclusivamente a artistas, ilustradores e quadrinistas autorais, Danilo ressalta a dificuldade de exposição desses talentos fora do eixo Sudeste. “Eu queria mesmo mostrar artistas de todo o Brasil, porque isso é muito importante.”
A drag queen também destacou o trabalho da artista Ilustralu, que viralizou com suas tirinhas sobre o Arlindo, um adolescente descobrindo sua sexualidade no interior do país. “É bizarro quando a gente cresce sem ter referência de uma história como a nossa. Precisamos olhar mais para o que se produz aqui e valorizar nossa identidade e cultura, inclusive na história das drags, que muitas vezes é ofuscada pela influência internacional.”
Vulnerabilidade, autenticidade e limites na comunicação
Apesar do posicionamento público e do protagonismo, Lorelay também compartilha seus momentos de insegurança, especialmente no Podcast Para Tudo, onde o Danilo tem mais espaço. “Eu falo muito sobre as minhas vulnerabilidades porque não mostro minha cara ali. Hoje, em retrospecto, eu penso: ‘putz, será que eu devia ter contado sobre isso?’, mas o que me tira desse lugar é pensar que minha vida nas redes sociais também é como se fosse um diário de tudo que eu vivi.“
Eu acho que quando você percebe que o seu influenciador também tem dores que você se identifica, Você se vê nele. Eu enxergo beleza nisso.
Lorelay Fox
Sobre os temas que escolhe para tratar nas redes, ela explica que procura ter responsabilidade e evitar polêmicas recentes, que podem levar a erros e injustiças. “A ânsia de comentar tudo na hora pode ser perigosa. Existe uma mídia que se alimenta disso e, embora seja tentador pela visibilidade e retorno financeiro, é importante ter pé no freio.”
Lorelay valoriza a relação construída com seu público ao longo de mais de uma década de carreira. Para ela, a prioridade está em construir uma imagem sólida e duradoura, evitando a busca por números rápidos e efêmeros. “Já fiz isso no começo, mas não me vejo mais nesse ritmo. Prefiro ir com calma e focar no que realmente importa”, afirma, evidenciando sua aposta em um trabalho consistente e de impacto.
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