Lorelay Fox sobre retrocessos LGBTQIA+: ‘Espero que a nova geração acorde’

Em entrevista exclusiva à CAPRICHO, drag queen fala sobre a nova temporada da Lorelive e os desafios da militância durante uma onda de conservadorismo

Por Arthur Ferreira Atualizado em 11 jul 2025, 11h50 - Publicado em 10 jul 2025, 21h01
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quinta temporada da Lorelive, programa ao vivo comandado por Lorelay Fox na DiaTV, estreou em junho trazendo novidades no formato, leques na plateia e quadros inéditos. A CAPRICHO esteve nos bastidores do quarto episódio, exibido em 9 de julho, para conversar com a apresentadora antes da live.

Criada durante o isolamento social, a Lorelive nasceu como uma forma de Lorelay se aproximar do público em meio à pandemia. “Eu queria me aproximar do público. Era uma forma de interagir, conversar com as pessoas. Para mim, isso ter evoluído ao ponto de ter uma plateia no estúdio, é a forma mais próximo que se pode estar e isso me deixa muito feliz”, contou à CAPRICHO.

Agora realmente parece um programa de domingo caótico da televisão brasileira. Tem muito a minha cara. Eu me divirto muito fazendo e o público sente isso, né? Está sendo incrível.

Lorelay Fox sobre a Lorelive

A temporada conta com 16 episódios, divididos em duas fases: a primeira vai até agosto e a segunda ocorre entre outubro e dezembro, sempre às quartas-feiras, às 20h. Entre as novidades, estão quadros inéditos como o Quem é Ela?, no qual Lorelay se transforma digitalmente em outras pessoas ou objetos, e o Paredão, inspirado no programa Video Game da Angélica. “Eu não imaginei que ia fazer tanto sucesso nas redes sociais”, disse ela.

Mas o sucesso não é atoa. Com um público fiel e uma experiência acumulada ao longo de 10 anos produzindo conteúdo para seu canal no YouTube, Lorelay sente que evoluiu como apresentadora junto com a expansão de seu programa. “Eu me tornei muito mais rápida no improviso. Consegui pegar um timing do ao vivo que é muito bom como profissional e como drag. Acho que enriqueceu muito minha arte como drag.”

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Retrocessos na militância LGBTQIA+ e o papel da nova geração

Em meio a um cenário desafiador para a comunidade LGBTQIA+, marcado por retrocessos e redução de apoio até durante o Mês do Orgulho, Lorelay Fox analisa o momento com atenção. Ela lembra que, quando começou seu canal no YouTube, a militância estava em crescimento, mas hoje o termo tem sido usado de forma pejorativa para diminuir pautas importantes. “Tentaram descredibilizar todas essas pautas. É muito triste.”

Como movimento LGBTQIA+, precisamos olhar para nossa história e lembrar que já enfrentamos conservadorismos ainda maiores. Acreditar na possibilidade de mudança é essencial, desde que a gente se proponha a isso.

Lorelay Fox

Segundo Lorelay, parte da juventude LGBTQIA+ atual tem um olhar mais conservador em grande parte porque os direitos básicos parecem garantidos. “Quem tem 15 anos hoje não imagina o estigma da AIDS, a luta pelo casamento igualitário ou o direito à doação de sangue. Crescer num mundo onde a lei está do seu lado pode fazer a gente ficar estagnado. Acho que é isso que está acontecendo agora. Mas eu espero que a nova geração acorde, porque falta pouco para perder nossos direitos.

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A drag alerta para o risco de perder direitos conquistados e reforça a necessidade de engajamento. Ela cita também o que percebe como uma articulação planejada contra pautas LGBTQIA+ nas redes sociais, citando o caso da deputada Erika Hilton, que foi alvo de críticas organizadas. “Não é por acaso. A gente percebe que o engajamento é fora do comum. Tem uma articulação grande contra as nossas pautas. Temos que falar sobre isso, ir pra cima e não ficar de braços cruzados.”

Visibilidade para artistas LGBTQIA+: uma missão pessoal

Além do trabalho como apresentadora e drag queen, Danilo Dabague tem formação e experiência em publicidade como designer e ilustrador. Esse lado pessoal reforça o compromisso em dar visibilidade a artistas LGBTQIA+ independentes, que muitas vezes enfrentam barreiras para serem reconhecidos.

“Quando descobri esse universo de artistas falando sobre as nossas pautas, senti que era meu dever usar minha influência para ajudar a divulgar. É triste que tanta gente não tenha contato com esses trabalhos por falta de visibilidade. O mínimo que posso fazer é incentivar o trabalho deles, comprar seus materiais e divulgar os eventos que participo”, contou.

Presença recorrente em eventos como POCCOM ou Artists’ Valley da Comic Con, eventos com espaços dedicados exclusivamente a artistas, ilustradores e quadrinistas autorais, Danilo ressalta a dificuldade de exposição desses talentos fora do eixo Sudeste. “Eu queria mesmo mostrar artistas de todo o Brasil, porque isso é muito importante.”

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A drag queen também destacou o trabalho da artista Ilustralu, que viralizou com suas tirinhas sobre o Arlindo, um adolescente descobrindo sua sexualidade no interior do país. “É bizarro quando a gente cresce sem ter referência de uma história como a nossa. Precisamos olhar mais para o que se produz aqui e valorizar nossa identidade e cultura, inclusive na história das drags, que muitas vezes é ofuscada pela influência internacional.”

Vulnerabilidade, autenticidade e limites na comunicação

Apesar do posicionamento público e do protagonismo, Lorelay também compartilha seus momentos de insegurança, especialmente no Podcast Para Tudo, onde o Danilo tem mais espaço. “Eu falo muito sobre as minhas vulnerabilidades porque não mostro minha cara ali. Hoje, em retrospecto, eu penso: ‘putz, será que eu devia ter contado sobre isso?’, mas o que me tira desse lugar é pensar que minha vida nas redes sociais também é como se fosse um diário de tudo que eu vivi.

Eu acho que quando você percebe que o seu influenciador também tem dores que você se identifica, Você se vê nele. Eu enxergo beleza nisso.

Lorelay Fox
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Sobre os temas que escolhe para tratar nas redes, ela explica que procura ter responsabilidade e evitar polêmicas recentes, que podem levar a erros e injustiças. “A ânsia de comentar tudo na hora pode ser perigosa. Existe uma mídia que se alimenta disso e, embora seja tentador pela visibilidade e retorno financeiro, é importante ter pé no freio.”

Lorelay valoriza a relação construída com seu público ao longo de mais de uma década de carreira. Para ela, a prioridade está em construir uma imagem sólida e duradoura, evitando a busca por números rápidos e efêmeros. “Já fiz isso no começo, mas não me vejo mais nesse ritmo. Prefiro ir com calma e focar no que realmente importa”, afirma, evidenciando sua aposta em um trabalho consistente e de impacto.

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