Hyperpop é o som exagerado que virou referência para nova geração

Estilo mistura vocais distorcidos, batidas caóticas e estética digital para questionar padrões e ampliar as possibilidades do pop contemporâneo

Por Arthur Ferreira Atualizado em 26 Maio 2025, 09h32 - Publicado em 25 Maio 2025, 15h01
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e a ideia é pensar o pop do futuro, o hyperpop pode ser um bom ponto de partida. Definido por uma sonoridade maximalista, experimental e altamente processada, o estilo se popularizou ao longo da década de 2010 e hoje é um dos movimentos mais associados à cultura digital jovem e à representatividade LGBTQIA+ no cenário musical.

Apesar de não existir uma definição exata, o hyperpop costuma ser descrito como uma versão intensificada do pop tradicional, misturando elementos de gêneros como música eletrônica, hip hop, trap, emo e até metal. O resultado são músicas curtas, vocais distorcidos, sintetizadores acelerados, batidas caóticas e letras que flutuam entre o íntimo, o irônico e o surreal.

O termo hyperpop começou a circular em fóruns online, mas só ganhou força quando a gravadora britânica PC Music, fundada por A.G. Cook em 2013, passou a lançar artistas com uma proposta sonora ousada e não convencional. A playlist Hyperpop, criada pelo Spotify em 2019, consolidou o gênero e o apresentou para uma audiência global, que viralizou os trechos das faixas – especialmente por meio das redes sociais.

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Charli xcx, SOPHIE e a influência da PC Music

Charli xcx é um dos nomes mais mainstreams ligados ao movimento. A cantora britânica já flertava com o som futurista desde o começo da carreira, mas foi com projetos como Pop 2 (2017), Charli (2019) e how i’m feeling now (2020) que ela mergulhou de vez no hyperpop. Com produção assinada por A.G. Cook e SOPHIE, dois dos principais arquitetos do estilo, Charli consolidou sua imagem como uma das embaixadoras do gênero.

SOPHIE, que morreu em 2021, é considerada uma das artistas mais inovadoras da última década. Com os álbuns PRODUCT (2015) e OIL OF EVERY PEARL’S UN-INSIDES (2018), a produtora escocesa ajudou a moldar as bases do hyperpop moderno. Seu trabalho com modulação vocal e design sonoro radical influenciou uma geração inteira de artistas, e seu legado é constantemente lembrado por figuras como Charli xcx, que lhe dedicou a faixa So I em seu álbum BRAT.

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Quem mais está nesse som?

Além de Charli xcx e SOPHIE, outros nomes também ocupam lugar de destaque na cena. O duo norte-americano 100 gecs ficou conhecido pelo disco 1000 Gecs (2019), que levou o hyperpop a um novo patamar de popularidade ao explorar batidas ultra-processadas, letras nonsenses e um visual que mistura o punk digital com estética de meme. A.G. Cook, além de produtor, também lançou trabalhos solo, como o álbum Apple (2020).

Outros artistas que vêm sendo associados ao movimento são Slayyyter, Gupi, Kim Petras, Hannah Diamond e Caroline Polachek. Em países de língua espanhola, nomes como Putochinomaricón também têm explorado o hyperpop com influências locais.

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Um movimento de voz e identidade

Mais do que um gênero musical, o hyperpop é frequentemente associado a questões de identidade. Muitos de seus principais artistas se identificam como trans, não-binários ou pertencentes à comunidade LGBTQIA+. O uso de autotune, vocais manipulados e estéticas exageradas tem sido uma ferramenta de expressão de gênero e de liberdade artística, abrindo espaço para experimentações que fogem dos padrões convencionais da indústria musical.

A mistura de sons e referências do hyperpop segue em constante transformação. Ainda que seja difícil prever seu futuro, o estilo continua sendo um terreno fértil para inovações, conectado diretamente com os códigos culturais da internet.

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