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‘Hoje sou minha Barbie’, diz Penelopy Jean ao mostrar coleção à CAPRICHO

Impedida de ter a boneca na infância, drag queen hoje não só se inspira nela - como tem todas que quiser

Por Arthur Ferreira Atualizado em 29 out 2024, 18h34 - Publicado em 2 jul 2023, 06h00

Talvez você que está aí do outro lado da telinha e lendo a CAPRICHO não saiba que Penelopy Jean, uma de nossas drag queens preferidas, está mais ansiosa do que todo mundo para assistir ao novo filme da Barbie. E nossa reportagem descobriu que Jean não só se inspira nela para se montar, mas possui uma coleção gigante da boneca.

Barbies clássicas e inéditas dos anos 80 e 90? Ela tem. De modelos exclusivos ao mais populares? É claro que estão em sua coleção (e, spoiller, ela tem uma até da icônica Trixie Matel, drag que ficou super famosa em Ru Paul’s Drag Race). São mais de 200 bonecas que convivem com ela em seu apartamento em São Paulo, na região central.

“Eu tinha vontade de ter as Barbies que eu quis ter na infância, mas não pude ter. Eu tinha vontade de comprar, mas eu tinha vergonha de ir à loja. Eu pensava ‘o que vão pensar de um marmanjo de 20 e poucos anos comprando uma boneca?'”, contou para a nossa reportagem.

Com todo o tabu de que meninos não podiam ter “brinquedos de menina”, Penelopy brincava escondida com a boneca e só foi começar sua coleção quando chegou na fase adulta. E descobrimos que a primeira boneca que ela teve foi a Barbie Noiva.

“Barbie sempre foi minha brincadeira favorita. Sempre gostei e sempre sonhei em ter. A minha coleção é uma grande realização desses sonhos de criança, tanto que o foco da minha coleção são as bonecas da minha infância nos anos 80 e 90”, completa.

E a gente se reconheceu muito no que ela compartilhou acima: quem nunca – menino e menina – teve ou desejou demais essa boneca, né? Afinal, mais do que uma boneca, ela é um dos maiores ícones femininos da cultura pop e marcou a infância de muitas gerações.

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Você sabia?

Apesar de ter sido apresentada ao mundo pela primeira vez em 1959, a Barbie só chegou ao Brasil em 1982. Nessa época, o regime militar proibia a importação de brinquedos e a solução encontrada foi fabricação dela no Brasil. A marca Estrela foi responsável pela produção e parceria durou até 1995, sendo que, durante esse período, a Barbie brasileira recebeu características próprias como penteados e edições especiais.

 

“Existem coleções dessa época que só foram lançadas no Brasil, o que tornou as coleções daqui muito mais especiais comparadas com o resto do mundo, tanto que tem colecionadores do mundo inteiro que colecionam as Barbies daqui”, compartilhou Penelopy.

Em uma visita especial, a CAPRICHO conheceu todos os detalhes de pertinho de sua coleção e ah, e também não deixamos de perguntar à ela suas expectativas para assistir ao filme estrelado por Margot Robbie, viu?

“Hoje eu sou a minha Barbie”

fotos instantâneas de penelopy jean com diversas barbies de sua coleção
João Barreto/Fotografia/CAPRICHO

Muito além da coleção, Penelopy tira muitas inspirações da boneca que marcou sua infância para sua drag. No Instagram, a drag queen mostra looks que foram inspirados na Barbie. “Eu acho que a minha drag veio como uma forma de eu continuar brincando de Barbie. Hoje eu sou a minha Barbie. Eu posso ser o que eu quiser através da minha Drag e isso reflete muito a minha brincadeira de infância.”

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O fato é que a Barbie moldou gerações e também mudou bastante com o passar do tempo. Com a chegada de um filme tão aguardado, se espera que a personagem toque nos nossos corações nostálgicos e alcance uma nova geração de crianças.

colagem de fotos de penelopy jeans com diversas barbies de sua coleção
João Barreto/Fotografia/CAPRICHO

“Por mais que a Mattel – empresa que criou a Barbie – tenha se reinventado ao longo dos anos, a Barbie tem uma história problemática e esse filme pode ser a virada de chave para realmente ressignificar e eu acho que as pessoas não estão esperando o que o filme realmente vai ser”, declarou ela.

Leia a entrevista que fizemos com ela na íntegra:

CAPRICHO: Há quanto tempo você coleciona Barbies?

Penelopy Jean: Eu sempre gostei desse universo, né? Então eu tinha vontade de ter as Barbies que eu quis ter na infância, mas não pude ter. Eu tinha vontade de comprar, mas eu tinha vergonha de ir à loja. Eu pensava “o que vão pensar de um marmanjo de 20 e poucos anos comprando uma boneca?”. Mas quando eu me mudei para São Paulo, eu morava com um menino que comprou uma Barbie e isso me acendeu a vontade de comprar também. Foi aí que eu fui atrás da “Barbie Hula Hair”, uma boneca que eu queria muito quando criança e a encontrei por 5 dólares no eBay. Eu comprei e foi assim que começou a minha coleção.

E como foi esse sentimento na infância? 

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Se hoje em dia ainda é um tabu, imagina nos anos 90. Era muito pior. Só que Barbie sempre foi minha brincadeira favorita, eu brincava escondido com a minha prima e com as minhas amigas da rua. Sempre gostei e sempre sonhei em ter. Eu até cheguei a ter uma Barbie que minha tia me deu depois de eu encher muito o saco dela, mas era uma coisa totalmente proibida. Eu sentia muita culpa e tinha que brincar escondido. A minha coleção é uma grande realização desses sonhos de criança, tanto que o foco da minha coleção são as bonecas da minha infância nos anos 80 e 90.

Hoje eu sou a minha Barbie. Eu posso ser o que eu quiser através da minha Drag e isso reflete muito a minha brincadeira de infância

Penelopy Jean

Esse é o recorte da sua coleção?

Eu tenho várias bonecas, né? Mas o foco mesmo são as Barbies fabricadas aqui no Brasil pela Estrela. Antes da Mattel, a Estrela tinha licença para fazer a Barbie aqui. E tem coleções dessa época que só foram lançadas no Brasil, o que tornou as coleções daqui muito mais especiais comparadas com o resto do mundo, tanto que tem colecionadores do mundo inteiro que colecionam as Barbies daqui.

Qual foi a sua primeira Barbie e o que te chamou a atenção nela?

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Foi uma Barbie Noiva! Eu era muito pequeno, devia ter uns três ou quatro anos. Inclusive eu acho que é uma das primeiras lembranças que eu tenho da vida: eu vi uma Barbie Noiva numa vitrine e  fiquei apaixonado por ela. Aí uma vez eu fui na casa da minha tia e a minha prima tinha uma Barbie já bem usada. Eu fiquei brincando com ela e minha tia me deu essa Barbie, quando eu cheguei em casa minha mãe fez uma roupinha de noiva para ela. Era bem simples, tudo feito de retalhos, mas para mim ficou ótimo. Achei muito incrível minha mãe ter feito isso por mim numa época tão complicada. Foi uma coisa que me marcou e hoje em dia eu tenho aquela Barbie Noiva da vitrine, e na caixa ainda! 

Como você faz para garimpar?

Tá cada vez mais difícil. As Barbies que eu coleciono já tem quase 30 anos, a grande maioria. Eu sinto que nesse momento de quarentena que a gente passou, acendeu uma onda nostálgica muito forte nas pessoas, então tá na moda colecionar Barbies da Estrela agora. Eu fico pesquisando nesses sites como o Mercado Livre, Enjoei, OLX e também em feiras de antiguidade.

Já precisou restaurar alguma boneca da coleção?

A grande maioria eu preciso restaurar, mas é uma coisa terapêutica. Eu gosto muito dessa parte de reformar o cabelo, refazer a maquiagem e colar alguma peça que tenha soltado do corpo. Acaba virando uma caça ao tesouro porque é difícil você encontrar uma Barbie antiga dessas totalmente completa, com todos os acessórios e todas as roupinhas. Acaba virando investimento porque o tempo está passando e elas estão cada vez mais valiosas. 

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Quantas Barbies você tem na sua coleção hoje? 

Por volta de 200, talvez até mais. Eu também parei de contar. Eu também tenho outras bonecas que marcaram minha infância, como as Spice Girls, Sailor Moon e tenho algumas atuais que eu ganho de presente. Tem algumas que eu compro porque eu acho interessante pela representatividade, como a da Laverne Cox que foi a primeira Barbie que representa uma mulher trans. Também tenho bonecas de drag queens como a da RuPaul e da Trixie Mattel, então a minha coleção é uma grande mistura das minhas referências.

Qual Barbie você ainda não tem, mas gostaria de ter?

Eu acho que as que eu mais queria ter quando criança, eu já consegui conquistar a grande maioria.  Eu sempre fui do contra, enquanto a maioria das crianças queriam ter as Barbies loiras, eu gostava das diferentes. Eu gostava mais das de cabelo preto, de olhos verdes ou castanhos, que eram as amigas da Barbie. Antes elas eram feitas em menor quantidade porque elas não vendiam tanto e hoje em dia elas são as mais procuradas pelos colecionadores porque elas são as mais raras. Então tem algumas amigas da Barbie que eu não tenho ainda, mas eu quero conseguir. 

coleção de barbies de penelopy jean
João Barreto/Fotografia/CAPRICHO

Tem alguma amiga da Barbie que você gosta mais?

A Vick. Ela é aquela que tem a boca mais fechadinha. Inclusive eu também acho um diferencial, eles mudavam o molde do rosto da Barbie tradicional para fazer as amigas. Ela é a minha favorita e é a amiga mais rara da Barbie.

A Barbie mudou muito ao longo dos anos e hoje nós temos bonecas com vários tons de pele, tamanhos e cabelos. Como você enxerga essa reinvenção?

Eu acho completamente necessária e importante. Antes a gente não tinha essa noção, tanto que a grande maioria das Barbies da minha coleção são loiras de olho azul, porque era o padrão da época. Era um padrão eurocêntrico que por mais que represente uma época, é problemático.

Então eu fico feliz que a Mattel esteja se renovando cada vez mais. Não só na questão de representatividade racial, mas também de corpos.  Qualquer um pode ser a Barbie, tanto que o slogan é:  “você pode ser o que você quiser”.

Você tem algum look inspirado em alguma barbie da sua coleção?

Vários.Já fiz quase cosplay de uma das minhas favoritas, que é de 1990. Mas cada montação minha tem alguma coisa inspirada na Barbie, seja um brinco exagerado ou uma maquiagem bem gráfica.

gif de penelopy jeans com barbies de sua coleção
João Barreto/Fotografia/CAPRICHO

A Barbie influenciou sua drag? Como?

Eu acho que a minha drag veio como uma forma de eu continuar brincando de Barbie. Hoje eu sou a minha Barbie. Eu posso ser o que eu quiser através da minha drag e isso reflete muito a minha brincadeira de infância. 

Qual foi a sua reação quando você ficou sabendo do anúncio do filme live action da Barbie?

Eu estou muito ansiosa pelo filme, estou vivendo por isso e não vejo a hora de assistir. Eu fiquei muito feliz quando soube que a diretora ia ser a Greta Gerwing. Ela é uma mulher feminista que tem uma visão totalmente contemporânea e eu acho que isso vai ser perfeito para ressignificar a história da Barbie. Por mais que a Mattel tenha se reinventado ao longo dos anos, a Barbie tem uma história problemática e esse filme pode ser a virada de chave para realmente ressignificar e eu acho que as pessoas não estão esperando o que o filme realmente vai ser. Vai ser um filme quase indie, uma coisa meio Matrix. Vai ser revolucionário de verdade, as pessoas não estão prontas para esse filme.

Das Barbies apresentadas nas imagens promocionais, qual você está mais curiosa para ver no filme?

Aquela Barbie de cabelo cortado e com a cara rabiscada. Eu achei  genial a ideia. E parece que ela vai ter uma grande importância no filme, né? Ela que vai abrir os olhos da Barbie original para ela ir conhecer o mundo real. Essa personagem é aquela boneca que toda criança teve, sabe? Aquela boneca gasta que a gente acaba cortando o cabelo dela e rabiscando a cara, então vai ser bem legal ter ela no filme.

Como fã e colecionadora de Barbie, quais são suas expectativas para o filme?

Eu acho que esse filme foi feito para nós que crescemos com a Barbie e temos essa nostalgia guardada, ao mesmo tempo que vai realmente ressignificar a personagem para as próximas gerações. Vai ser uma virada da chave para o renascimento da Barbie, um novo capítulo para realmente consagrar ela como a maior figura pop feminina da história.

Veja as imagens da nossa visita à coleção de Penelopy Jean:

 

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