Filmes clássicos que viraram novelas brasileiras (e você talvez não saiba)

De Carrie a O Conde de Monte Cristo, descubra como histórias marcantes do cinema ganharam uma versão tropical e cheia de drama na TV

Por Arthur Ferreira 8 nov 2025, 15h00
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ode até parecer que novela e cinema vivem em mundos diferentes, mas a verdade é que eles sempre andaram lado a lado. Muitos dos maiores sucessos da teledramaturgia brasileira nasceram de clássicos da sétima arte. Algumas referências são tão diretas que poderiam aparecer nos créditos.

Autores como Gilberto Braga, Walcyr Carrasco e Silvio de Abreu eram fãs declarados de cinema e transformaram grandes histórias da tela grande em tramas cheias de emoção, vingança e glamour.

Com a volta de Rainha da Sucata (1990) no Vale a Pena Ver De Novo, vale lembrar que a novela começou com uma cena inspirada em Carrie, a Estranha (1976), o icônico terror sobre uma jovem humilhada em público. Outras tramas dentro da história também vieram do cinema, como Levada da Breca (1938), À Meia Luz (1940) e Amar Foi Minha Ruína (1945), que ajudaram a moldar o drama e o destino trágico de personagens como Laurinha Figueiroa e o humor afiado de Maria do Carmo.

A vingança feminina também aparece em outras novelas inspiradas em Carrie e A Visita da Velha Senhora (1964). Em Chocolate com Pimenta (2003), de Walcyr Carrasco, Ana Francisca é ridicularizada pelos colegas antes de dar a volta por cima, e sua jornada ecoa a da protagonista do filme suíço sobre justiça e revanche. A mesma obra ainda influenciou tramas como Fera Radical (1988) e Fera Ferida (1993) e até Tieta (1989), que muitos acreditam ter nascido da mesma ideia.

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Selva de Pedra (1972) recriou a história de Um Lugar ao Sol (1951), enquanto Mulheres de Areia (1993) foi baseada em Uma Vida Roubada (1946), estrelado por Bette Davis. A própria trama das gêmeas rivais é um espelho desse filme. Em Malhação 2004, o romance de Gustavo e Letícia lembrava tanto Um Amor para Recordar (2002) que o protagonista Guilherme Berenguer chegou a ser comparado a Shane West, astro do longa.

Os autores também adoram um suspense. Sassaricando (1987) trouxe uma cena final inspirada em Psicose (1960), repetida anos depois em Mico Preto (1990). A mesma novela ainda lembrava Como Agarrar um Milionário (1953), com suas personagens femininas sonhando alto e brigando por amor e status. Já Torre de Babel teve uma trama inspirada em Confidências à Meia-Noite (1959), que acabou sendo alterada durante o desenvolvimento da novela.

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Algumas histórias ganharam toques mais modernos. Babilônia (2015), por exemplo, terminou de forma semelhante a Thelma & Louise (1991), com uma mensagem sobre liberdade e amizade feminina. Em O Outro Lado do Paraíso (2017), Walcyr Carrasco transformou O Conde de Monte Cristo (2002) em uma vingança no cerrado brasileiro.

Verdades Secretas (2015) trouxe o olhar provocante de Lolita (1962) e o clima misterioso de Jovem e Bela (2013), enquanto a continuação da trama flertava com o clássico Teorema (1968), de Pier Paolo Pasolini.

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Em Paraíso Tropical (2007), o autor voltou a olhar para o cinema, dessa vez inspirando-se em Minha Bela Dama (1964) e Palavras ao Vento (1956). E não dá pra esquecer Vale Tudo (1988) e A Dona do Pedaço (2019), que também beberam da fonte de Alma em Suplício (1945), drama sobre ambição e conflito entre mãe e filha.

Gilberto Braga, um dos autores mais cinéfilos da TV, também fez escola. Celebridade (2003) é quase uma versão brasileira de A Malvada (1950), e ainda traz referências de Gente Como a Gente (1980). Em Paraíso Tropical (2007), ele se inspirou em My Fair Lady (1964) para criar o arco de Bebel e ainda recuperou o melodrama de Palavras ao Vento (1956), filme que também influenciou Passione (2010). Nesta última, a personagem de Stela (Maitê Proença) teve um enredo diretamente inspirado em A Bela da Tarde (1967), clássico de Luis Buñuel.

Outros títulos também guardam surpresas. Cambalacho (1986) tem sua história central baseada em Trama Macabra (1976), com pitadas de A Costela de Adão (1949) no romance de Rogério e Amanda. Dancin’ Days (1978) foi inspirada em Momento de Decisão (1977), especialmente na icônica cena do pugilato, e Vale Tudo (1988), assim como A Dona do Pedaço (2019), foi moldada a partir do drama familiar de Alma em Suplício (1945).

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Até o universo musical e leve das novelas teve seu toque cinematográfico. Era Uma Vez… (1998) e Hipertensão (1986) revisitaram A Noviça Rebelde (1965), enquanto Vamp (1991) trouxe a energia caótica e divertida de Os Seus, os Meus e os Nossos (1968). Insensato Coração (2011) também embarcou nessa onda com a história de Teodoro e Gisela lembrando Amor Sem Escalas (2009).

Essas inspirações mostram como o cinema serviu (e ainda serve) de combustível para as novelas brasileiras. Entre vilãs vingativas, mocinhas injustiçadas e amores impossíveis, os autores nacionais sempre souberam transformar clássicos internacionais em histórias com alma, sotaque e intensidade bem brasileiros.

 

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