“Estão tirando minha voz”, desabafa Victor Han, o idol brasileiro-coreano

Após ser expulso da banda About U e dar a volta por cima, o artista explica porque a Justiça o impediu de usar sua imagem e agradece o apoio dos fãs

Por Gustavo Balducci Atualizado em 30 out 2024, 23h11 - Publicado em 27 nov 2020, 13h38

O nome de Victor Han tem chamado a atenção nos últimos meses. Nascido em São Paulo e residente em Seul, capital da Coreia do Sul, o jovem de 24 anos realizou o disputado sonho de estrear em uma banda de K-pop — mas durou apenas três semanas. Após treinar por cerca de oitos anos em uma agência de talentos chamada Corona X Entertainment, o baterista foi expulso do grupo About U logo depois de quebrar uma de suas baquetas no final de uma performance em um programa de TV. Apesar da atitude ser comum entre artistas de rock, para a agência foi “antiquada e inaceitável”. “Pedimos sinceras desculpas por quaisquer preocupações que vocês tenham sentido em relação à suspensão das atividades de Victor, um membro de nossa banda About U. Fizemos nossos melhores esforços para proteger nossas celebridades em uma situação em que as ações repentinas do membro persistem”, disse a agência em um comunicado. “Como resultado, foi julgado que não podemos continuar nossas atividades em grupo e lamentamos muito que tenhamos tomado uma decisão difícil”, afirmou a empresa sobre o desligamento de Victor.

O incidente, no entanto, se converteu em uma série de aparições de Victor na mídia sul-coreana. Intitulado como Victor ‘The Drumer’, o músico inaugurou um canal no YouTube em março de 2020 e deu a volta por cima na carreira. Compartilhando vídeos de tutoriais e covers de bateria, ele viu seu canal crescer exponencialmente em poucos meses e hoje já conquistou mais de 840 mil inscritos — o vídeo onde Victor explica sua expulsão, por exemplo, já ultrapassou 3 milhões de visualizações. Isso tudo fez com que outras emissoras de TV e programas de rádio voltassem a procurá-lo. E, dessa vez, Victor pode ser ele mesmo.

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Entenda o caso:

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Filho de pai brasileiro e a mãe sul-coreana, seu rompimento com a Corona X Entertainment foi parar nos tribunais. No processo, a gravadora alegou que o contrato de exclusividade continua válido mesmo após a saída de Victor e que a imagem do grupo foi prejudicada devido ao seu comportamento. Apresentando provas contra seus antigos chefes, o Tribunal de Justiça da Coreia do Sul declarou, em um primeiro momento, que o músico estava livre daquele contrato.

No dia 25 de novembro, porém, Victor publicou um novo vídeo em português pedindo desculpas aos fãs e revelou que a justiça voltou atrás na decisão. “É absurdo o que está acontecendo comigo. Vou pedir para que a justiça cancele essa decisão e vou entrar com um novo recurso. Estou sentindo medo, não sabia com o que estava lidando”, contou Victor à Capricho. Em conversa por telefone, o idol não esconde seu descontentamento e desabafa: “Não posso fazer nenhum tipo de trabalho com arte. Estão tirando tudo de mim. No momento, não posso escrever letras de música, não posso cantar, gravar, dublar, atuar, aparecer na TV, fazer propaganda e nem mesmo utilizar as minhas redes sociais”.

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A notícia também deixou o público inconformado. Para muitos fãs, Victor está sendo vítima de um sistema corrupto e racista. “Essa nova decisão saiu sem nenhum julgamento, não tive a chance de me defender outra vez. Estão falando agora que eu fugi e quebrei o contrato com a empresa. É mentira”, afirmou. Para ele, a mudança na decisão do juiz também é reflexo do poder que seus ex-chefes têm: “O juiz representa o Tribunal da Coreia do Sul e seu poder vem da justiça, certo? Se ele não é uma pessoa justa, quem é que vai acreditar nas decisões dele?”

No Twitter, milhares de usuários estão usando as hashtags #FreeVictor e #JusticeForVictorHanTheDrummer para mostrar apoio. “O Brasil está me ajudando muito através das mensagens e hashtags. Brasileiros não desistem e isso me deu forças para lutar até o fim. Vou continuar me preparando para lançar novas músicas e vou seguir com meu sonho de trabalhar com música. Ninguém pode me calar. Arte é minha vida, não vou desistir dela”, disse. Segundo ele, essa movimentação nas redes poderá pressionar a justiça: “Eles estão tirando a minha voz, mas se os brasileiros estão me apoiando, sinto que os coreanos também vão me apoiar depois”.

Descoberto aos 16 anos depois de ser visto tocando bateria em um concurso de bandas em Seul, Victor assinou contrato com a gravadora Corona X Entertainment em 2012, e, desde então, passou por um longo processo, mas confirma que sequer teve aulas profissionais de canto ou de bateria — ele também não recebia salário por isso. A negligência, infelizmente, não foi a única pressão que o artista viveu ao longo desses anos: “Além das cobranças abusivas e da pressão diária, eu suportava muita coisa. Meus chefes diziam que a cor da minha pele era escura, que eu não tinha o estereótipo físico bom para ‘vender’, que ninguém gostaria de ser fã de uma banda comigo, um latino”.

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É claro que tudo isso afetou em cheio sua saúde mental: “Quando fui viver como trainee em um casa junto com os outros membros da banda, desenvolvi ataques de pânico e ansiedade. Mesmo confiante, essa situação toda afetou a minha saúde mental. Eu continuo acreditando na justiça, mas não estou conseguindo controlar minhas emoções”, explicou. Recebendo apoio do pai, o ator de musicais Cleto Baccic, Victor comentou que, mesmo distante por mais de 10 anos, a relação de carinho e admiração pelo pai o inspiram: “Meu pai quer que eu volte para o Brasil, mas quero tentar finalizar essa história aqui na Coreia primeiro”. Cleto também compartilhou um pedido de ajuda em seu perfil do Instagram:

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Tentando encontrar fôlego caso a decisão final do juiz seja negativa, Victor enfatiza que a música ainda é sua maior paixão: “A música é a única coisa que eu amo e gosto de fazer. Eu sempre fui o Victor Han, sempre toquei bateria do meu jeito, mas a agência me fez acreditar que somente eles poderiam me tornar um astro. Vai ser difícil, mas se eu não puder mais cantar, quero ensinar como é que se canta; se não puder mais escrever as minhas próprias músicas, quero ter o direito de escrever música para outros artistas”.

Tirar a liberdade de um artista de criar suas próprias músicas soa como uma das maiores injustiças no mundo do entretenimento, mas o caso não é exclusividade da indústria do K-pop. Artistas internacionais como a cantora Kesha e Britney Spears também enfrentam problemas judiciais com seus contratos abusivos até hoje. Observando a movimentação dos fãs e da mídia internacional à seu favor, Victor encerrou nossa conversa dizendo como a campanha dos fãs renovou sua esperança de vencer a batalha judicial: “Vocês estão do meu lado e isso me dá esperanças, estou acompanhando tudo o que vocês estão fazendo por mim. Esse suporte está me ajudando mentalmente também”, concluiu.

Estamos na torcida por uma conclusão positiva do caso.

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