Está todo mundo sussurrando? A nova era do pop é baixinha (e viciante)
De Billie Eilish até Tate McRae, o sussurro virou a nova potência vocal na música pop. E não é só estética, é uma assinatura de época

ocê pode até não ter percebido de cara, mas a tendência está no ar, ou melhor, no fone. Dos vocais suaves de fortnight, de Taylor Swift, aos sussurros sensuais de supernatural, da Ariana Grande, parece que uma nova onda tomou conta do pop: a de cantar baixinho. Mas por que agora tá todo mundo sussurrando?
A técnica, que ficou conhecida como “whisperpop”, ganhou nome em 2017 no The Guardian, mas já vinha crescendo em popularidade desde os anos 2010. Billie Eilish, claro, foi um dos principais rostos desse movimento. Em seu álbum de estreia, WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO?, ela criou um universo inteiro de sons mínimos e texturas íntimas, que pareciam sussurrar direto no ouvido de quem ouvia com fones.
Mas ela não veio do nada. Lana Del Rey, com seu Born to Die (2012), já fazia isso: cantava de forma arrastada, com respiração audível e uma suavidade que virou marca registrada. Antes dela, artistas como Britney Spears em I’m a Slave 4 U (2001) ou Kylie Minogue em Slow (2003) também usaram vocais sussurrados, seja para criar sensualidade, seja para evocar mistério.
Selena Gomez, que já foi alvo de críticas pelo estilo vocal mais suave, hoje é vista como uma das que anteciparam essa tendência. Seu álbum Revival (2015), com faixas como Hands to Myself, já apostava nessa estética que mais tarde viraria regra no pop.
A estética ganhou força no pop atual. Addison Rae, que começou a carreira com uma pegada mais dançante, agora aposta em faixas com vocais sutilíssimos no seu disco de estreia. Tate McRae, que começou a ficar conhecida com o hit you broke me first, estourou com greedy e exes em uma pegada mais suave, culminando em sports car, de seu disco mais recente. E, claro, Gracie Abrams também tem abraçado a tendência em The Secret of Us.
Até Sabrina Carpenter, que em outros tempos explorava bem mais a potência vocal, adotou uma abordagem mais suave e falada em faixas como Espresso. O novo single da Beyoncé no Reino Unido, BODYGUARD, é a faixa mais sussurrada do Cowboy Carter e foi justamente essa a escolhida para representar a era no país.
Para muitos artistas, sussurrar virou sinônimo de intimidade. Em um cenário em que músicas são consumidas com fones intra-auriculares, em espaços privados e plataformas como TikTok, onde o som precisa se destacar em segundos, vocais próximos ao ouvido têm mais impacto emocional e físico. Esse estilo também conversa com o fenômeno do ASMR, que explodiu nos últimos anos e reforça essa ideia de prazer auditivo com sons suaves e próximos.
A mudança também pode ser vista em nomes que, até pouco tempo atrás, eram conhecidas pelos vocais potentes. Ariana Grande, por exemplo, que já mostrou muita técnica em Dangerous Woman (2016), agora aparece muito mais contida nas novas faixas do eternal sunshine. E Taylor Swift, que no início da carreira se jogava em refrões explosivos, hoje navega por sons mais intimistas desde a era folklore.
Se antes o poder vocal era medido por notas altas e vibratos, hoje o pop parece apostar mais no menos é mais. Não que o gogó tenha perdido o valor, Adele e Lady Gaga estão aí pra provar o contrário, mas existe espaço (e muito sucesso) também para quem prefere dizer mais, cantando menos.
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