Em The Life of a Showgirl, Taylor Swift prefere não se arriscar

A cantora entrega um disco seguro, com bons momentos, mas longe de ser sua performance mais ousada e criativa.

Por Arthur Ferreira 4 out 2025, 09h00
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epois de meses de especulação, Taylor Swift lançou nesta sexta-feira (3) The Life of a Showgirl, seu 12º álbum de estúdio. Com 12 faixas produzidas ao lado de Max Martin e Shellback, o projeto nasceu durante a Eras Tour e marca a primeira colaboração oficial com Sabrina Carpenter.

Mais curto que seu disco anterior, The Tortured Poets Department, o novo projeto mistura pop açucarado, baladas introspectivas e letras confessionais, mas sem grandes ousadias.

The Fate of Ophelia

Inspirada na trágica personagem de Shakespeare, a faixa abre o disco em tom melancólico, com piano minimalista e vocais mais graves — algo que Taylor começou a explorar na The Eras Tour e que agora assume de vez. A canção tem uma atmosfera quase etérea e uma produção que flerta mais com Midnights e The Tortured Poets Department do que com o pop maximalista que muitos fãs esperavam da volta da parceria com Martin e Shellback.

Simples, mas envolvente, é uma daquelas canções que ficam na cabeça.  O resultado é uma faixa suave, cativante e que deve se tornar uma das mais ouvidas do projeto. Para quem esperava algo mais teatral ou “showgirl”, pode soar contida, mas, dentro da proposta do álbum, é um dos pontos altos e um destaque imediato. A faixa foi escolhida como primeiro single, e o clipe dirigido pela própria Taylor estreia no domingo (5/10).

Elizabeth Taylor

Aqui, Swift transforma a atriz de Hollywood em metáfora de sua própria trajetória, costurando paralelos entre fama, relacionamentos e a pressão de ser constantemente observada. A produção traz batidas vintage com acabamento moderno, evocando o glamour antigo de Elizabeth, mas filtrado pelo olhar contemporâneo da cantora.

Apesar da boa ideia, Elizabeth Taylor acaba soando como repetição de fórmulas já exploradas — lembra Clara Bow, do Tortured Poets Department, mas sem a mesma força. É uma faixa narrativa e conceitualmente interessante, mas que não se sustenta como grande momento do disco.

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Opalite

Com sintetizadores suaves e atmosfera etérea, Opalite mergulha na efemeridade da vida e do amor. A produção eletrônica cria um clima quase hipnótico, reforçado pelo refrão repetitivo que funciona como um mantra. O verso “a vida é uma canção que acaba quando acaba” se destaca. A faixa ajuda a compor a atmosfera do disco, mas soa como um descarte de outra artista pop. Pouco inventiva, mas com refrão chiclete.

Father Figure

Uma das apostas mais ousadas do álbum, Father Figure dialoga diretamente com o clássico de George Michael, mas em versão turbinada por cordas dramáticas e produção de clima quase cinematográfico. A proposta é transformar a metáfora de “figura paterna” em uma narrativa de máfia, poder e lealdade, com versos que evocam traição e pactos obscuros. Uma irmã mais nova de The Man. A interpolação de George Michael, que poderia ter rendido um momento épico, acaba soando subvalorizada.

Eldest Daughter

Fiel à tradição da quinta faixa, que costuma trazer o momento mais vulnerável dos álbuns de Swift, Eldest Daughter tenta explorar a pressão de ser “a filha mais velha” e as responsabilidades que vêm junto com família e fama. A intenção é confessional: a cantora abre espaço para a introspecção e permite que a emoção venha à tona, com um instrumental contido que coloca a voz e a letra rasa em destaque. Apesar da letra rasa comparada a própria discografia, é uma das músicas que provavelmente vai se conectar com fãs que buscam o que Taylor faz de melhor: momentos de sinceridade e confissão.

Ruin the Friendship

Com guitarras discretas e arranjos sombrios, Ruin the Friendship traz a atmosfera típica da fase narrativa de Folklore e Evermore. A música é um dos grande destaques do disco e acompanha a história de amizade que flerta com o desejo reprimido, criando tensão e expectativa ao longo da faixa.

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A letra ganha ainda mais peso ao revelar sua inspiração real: a história de um amigo próximo da cantora na época da escola, que perdeu a luta contra a depressão. Swift dedicou a faixa — assim como Forever Winter — a ele e chegou a cantar esta última no velório, o que explica a referência ao túmulo na música.

Actually Romantic

O momento mais comentado do disco. Aqui, Swift dispara ironias que os fãs logo interpretaram como indiretas para Charli xcx. Clique aqui para entender mais sobre isso. Musicalmente, é uma das mais animadas, mas, liricamente não se destaca e pode soar pequena perto do restante do projeto. É shade, sim, mas com pouco brilho artístico.

Wish List

Wish List entra como uma faixa romântica e otimista, trazendo temas de futuro, noivado e vida a dois. Taylor descreve desejos de estabilidade e planos de vida, incluindo casamento e filhos, em um refrão solar e cheio de teclados cintilantes que remetem aos anos 80.

Wood

Wood é um dos momentos mais animados e descontraídos de The Life of a Showgirl. A faixa mistura riffs de guitarra com uma batida pop dançante, lembrando os momentos mais leves do elogiado 1989, mas com uma maturidade extra que reflete a fase atual da cantora.

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Liricamente, a música se destaca pelas metáforas de desejo e humor sutil. Taylor brinca com imagens provocativas e versos divertidos, criando uma atmosfera groovy que faz da faixa um respiro leve no álbum. No conjunto do disco, Wood se torna uma das faixas mais cativantes e espontâneas, provavelmente ainda mais gostosa de se ouvir ao vivo do que em estúdio.

Cancelled!

Aqui, Swift aborda a cultura do cancelamento e a lupa constante sobre mulheres na indústria, transformando o tema em um refrão chiclete que gruda na cabeça. A produção da faixa remete a uma banda ao vivo, com bateria marcante e instrumentos orgânicos que dão peso à mensagem. A faixa consegue equilibrar crítica e diversão, funcionando como um hino para quem já se sentiu julgado ou silenciado.

Honey

Um contraponto doce (insira aqui o som da bateria de piadinha infame) e leve, essa balada fala de amor de forma açucarada. O refrão gruda com facilidade, mas a letra pode parecer simplista diante das faixas mais densas do álbum. É um respiro genérico antes do grand finale.

The Life of a Showgirl (feat. Sabrina Carpenter)

A faixa-título é teatral, com arranjos orquestrais e uma pegada quase de musical da Broadway. A participação de Sabrina Carpenter reforça a ideia de “passar o bastão” para uma nova geração, mas sem tirar a centralidade de Taylor. É um encerramento que resume o disco na mistura entre drama e espetáculo, mas sem grandiosidade. Se faltou o conceito de showgirl que esperávamos nas faixas anteriores, nessa aqui veio, mesma que em dose pequena.

Quem se arrisca, não petisca, loirinha!

The Life of a Showgirl não é o álbum mais inventivo da carreira de Taylor Swift. Há pontos altos — como The Fate of Ophelia, Ruin the Friendship e Wood, que destacam sua maturidade como compositora, enquanto outras faixas, como Opalite, soam genéricas e pouco memoráveis. A primeira faixa do disco impressiona, o meio perde força, e o final resgata o interesse com momentos mais impactantes, reforçando que as melhores músicas estão na reta final.

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O álbum evidencia que Taylor prefere jogar seguro, sem experimentar grandes saltos sonoros. Mesmo assim, é um registro que vai dominar conversas, redes sociais e playlists por meses. Afinal, ela continua sendo uma das poucas artistas capazes de transformar cada lançamento em evento cultural.

Por outro lado, críticos como o The Guardian apontaram que o disco soa monótono, atribuindo uma nota baixa e observando que o “pop eletrônico efervescente de Reputation e 1989 está visivelmente ausente”. O álbum, de fato, não apresenta hits de impacto imediato capazes de ultrapassar a bolha de fãs leais, mas, dentro do universo Swift, a loirinha continua imbatível — mesmo quando não arrisca.

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