Elas escreveram ‘Verão de lenço vermelho’, romance LGBTQ+ banido na Rússia

Elena Malíssova e a Katerina Silvánova contaram pra CH sobre o processo de escrita do livro, que remonta a União Soviética dos anos 1980.

Por NAIARA ALBUQUERQUE Atualizado em 29 out 2024, 15h16 - Publicado em 7 out 2024, 19h00
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 amizade entre a russa Elena Malíssova e a ucraniana Katerina Silvánova deu origem ao livro ‘Verão de Lenço Vermelho*’, um romance LGBTQ+ que se tornou rapidamente sucesso no TikTok e foi banido na Rússia.

Os percalços do primeiro amor e as memórias que ficaram dessa relação são os pontos fortes de ‘Verão de Lenço Vermelho’, publicação que conta a história do jovem Iura, que volta vinte anos depois de ter passado seu último verão no acampamento Andorinha, onde conheceu Volódia. 

Lá, Iura encontra o acampamento Andorinha em ruínas, juntamente com a saudade de uma União Soviética que se passava nos anos 1980 e que já não existe mais. Afinal, é também nessa época que a política do país já se tornava ferrenha contra os direitos LGBTQ+. 

“O primeiro amor é algo muito forte na vida de uma pessoa. E eu acho que esse é um dos pontos fortes do livro, que talvez nos ajude a entender o seu sucesso e identificação com o público”, afirma Elena Malíssova para a CAPRICHO. A publicação ganhou recentemente uma edição brasileira pela Companhia das Letras.

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As autoras começaram a escrever o livro de maneira despretensiosa, em 2016. O processo que elas utilizaram se assemelha às correspondências: cada uma assumiu a ‘voz’ de um personagem, escrevia uma parte da publicação e a enviava para a outra, que inteirava com o ponto de vista do outro personagem.

Publicação banida na Rússia

As autoras da publicação explicaram que não imaginavam que a publicação seria banida na Rússia. “A gente não imaginava, enquanto escrevia o livro, que sofreria alguma censura. Estávamos escrevendo uma história de amor e amizade. O livro se tornou uma vítima dessa política [russa]”, destaca Malíssova para a CH.

A política mencionada por Malíssova é sobre a perseguição dos direitos LGBTQ+ na Rússia. No final de 2022, por exemplo, a Justiça da Rússia decidiu banir a literatura queer, incluindo qualquer menção a temas LGBTQ+ nas obras veiculadas no país. Pouco depois, Malíssova, que foi vítima de ataques e perseguição de grupos conservadores, decidiu fugir e deixar o país que nasceu e cresceu.

Silvánova, por sua vez, explica que sequer acreditava que o livro seria de fato publicado no país. Foi só em 2019, que a editora PopCorn Book decidiu publicar esse e outros livros LGBTQ+. “Isso tudo se tornou prova cabal de que os russos gostam de literatura queer”, conta.

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Com teor político e histórico, as autoras de ‘Verão de Lenço Vermelho’ contam que esse é um livro que conta sobre o passado, presente, e também dá algumas dicas do futuro.

Notamos que o governo russo não mudou muito desde quando escrevemos o livro. Já dava pra sentir naquela época que havia uma sovietização acontecendo, mas o nosso desejo sempre foi contar essa história sobre a União Soviética e relacioná-la com o nosso tempo. 2016, no caso

Elena Malíssova, uma das autoras de 'Verão de lenço Vermelho'

O amor está no ar (e nas telonas)

Muitas produções literárias LGBTQ+ foram adaptadas para as telonas nos últimos anos. Prova desse sucesso foi ‘Heartstopper’, graphic novel de Alice Oseman na série da Netflix – a produção acaba de chegar a sua terceira temporada com muitos fãs, incluindo nós da CH, obcecados pela história de amor entre Nick e Charlie.

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Essas adaptações estão, também, no radar das autoras de ‘Verão de Lenço Vermelho’. Elas contaram para a CH que houve interesse na venda dos direitos da publicação para uma adaptação para as telonas, mas nada ainda foi definido. 

“Eu e Lena sonhamos sobre isso [a adaptação]. Podia ser uma série ou até um livro”, afirma Silvánova.

Enquanto a adaptação dos sonhos das autoras não é concretizada, é possível assistir uma produção feita pelos próprios fãs do romance russo. Trata-se de um filme de 40 minutos disponível no Youtube. Um detalhe curioso, porém, é que os rostos dos atores na produção não aparecem em razão das leis de representação LGBTQ+ na Rússia. 

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