Dona de Mim: a babá que conquistou corações (e está salvando a audiência)

Com o final de seu primeiro mês de exibição, novela protagonizada por Clara Moneke é a líder de audiência na grade da Globo

Por Arthur Ferreira Atualizado em 5 jun 2025, 19h32 - Publicado em 5 jun 2025, 19h01
A

ntes mesmo de estrear, Dona de Mim tinha uma tarefa muito difícil: se destacar entre Garota do Momento, que está fazendo sucesso no horário das seis, e Vale Tudo, grande aposta comercial da Globo e transmitida no horário nobre das nove. Após um mês de exibição na faixa das sete, a resposta não poderia ser mais positiva já que a nova novela de Rosane Svartman é a de maior audiência da grade atual da emissora.

Estrelada por Clara Moneke, Dona de Mim  conta a história de Leona, jovem que carrega uma dor imensa após uma perda gestacional, o fim de seu noivado e a necessidade de interromper os estudos universitários. Mas a vida da protagonista ganha outro rumo quando ela passa a trabalhar como babá na casa da família Boaz – onde conhece Sofia, uma criança com 7 anos e filha adotiva de um empresário.

O sucesso que a obra tem feito pode ser explicado por muitos motivos. Entre eles, está o descontentamento de parte do público com Vale Tudo. Mesmo tendo um grande apelo nostálgico nas redes sociais por se tratar do remake de um clássico, a versão de Manuela Dias não tem obtido números satisfatórios para o horário das nove.

Em partes, isso faz com que o espectador, aquele que é fã de novela mesmo, se atraia pelos títulos que vão ao ar antes do Jornal Nacional. Com o sucesso de Garota do Momento desde sua estreia no segundo semestre de 2024, também é natural que o espectador seja impactado pela obra da faixa seguinte. Mas, para cativar e manter esse público, Dona de Mim precisou contar com o principal: uma boa história.

Rosena Svartman carrega em seu currículo muitas novelas que conquistaram o público nos último anos e tem transformado a faixa das sete em um novo horário nobre. Inclusive, a média de 21,3 pontos de audiência de Dona de Mim é a maior de uma novela das sete em dois anos, quando Vai na Fé, também de Svartman, atingia uma média de 23,4.

Continua após a publicidade

Leona e Sofia são a dupla que a gente precisava para se divertir (e se emocionar)

Assim como em Vai na Fé, Dona de Mim traz uma trama que se comunica com a população brasileira abordando temas que estão presentes em nossos cotidianos. A história de uma jovem batalhadora que corre atrás do sonho de ajudar a família, mesmo com as feridas dos traumas do passado ainda abertas, é uma narrativa que já provou diversas outras vezes que faz o público se sentir conectado.

Isso ganha ainda mais força com a atuação de Moneke, que brilha com um timing cômico perfeito, e sua dinâmica com Elis Cabral, a atriz mirim que encanta como Sofia. A cumplicidade que as duas passam em cena faz com que o público queira acompanhar as aventuras da babá e da criança encrenqueira.

A relação entre elas também é uma ótima história sobre representatividade. Além de ser a única criança em uma casa de adultos, Sofia é uma menina negra que está crescendo enquanto lida com a ausência da mãe e se sentindo diferente das outras pessoas de sua família, que são todos brancos por exceção do irmão Samuel (Juan Paiva). No início da novela, vemos que ela não consegue se conectar com nenhuma babá que o pai contrata, até Leona entrar em sua vida.

View this post on Instagram

A post shared by gshow (@gshow)

Os interesses românticos

Se tem uma coisa que as pessoas adoram é um bom triângulo amoroso, e por aqui nós temos uma opção a mais. Leona começa a novela com três possíveis parceiros a vista: Samuel, Davi (Rafael Vitti) e Marlon (Humberto Morais). Marlon é uma paixão antiga e carregada de trauma, já que foi com ele que Leona perdeu seu bebê e desfez o noivado em meio a uma situação conturbada após a gravidez.

Continua após a publicidade

No momento, a possibilidade de Leona voltar para Marlon está praticamente descartada já que o policial está se relacionando com a melhor amiga da ex, a divertida Kami (Giovanna Lancellotti). Por mais que o público, principalmente os mais jovens, não esteja gostando tanto do casal por representar uma “talaricagem”, é inegável a química que Morais e Lancellotti tem em cena.

Os outros interesses românticos de Leona são os irmãos Boaz. Enquanto Samuel é o bom moço, trabalhador e sério até demais, Davi é o irmão playboy que leva tudo na brincadeira, isso inclui seus relacionamentos amorosos, seu trabalho e o espaço pessoal do próximo. Eles repetem a dinâmica de rivalidade que existe entre o pai da família, Abel (Tony Ramos) e Jaques (Marcello Novaes) em menor intensidade. Apesar das brigas, Samuel e Davi tem aprendido muitas coisas um com o outro e o desenvolvimento da amizade entre os irmãos está sendo interessante de acompanhar.

View this post on Instagram

A post shared by Clara Onyinyechukwu M Moneke (@claramoneke)

Primeiro papel de L7nnon na televisão

Em sua estreia na televisão, o rapper L7nnon tem surpreendido com sua atuação. Ela interpreta o músico Ryan, ex e pai do filho de Kami, que está preso após seu envolvimento com o tráfico de drogas. A saída de Ryan da prisão está cada vez mais próxima, prometendo trazer ainda mais conflitos na trama de Marlon, seu amigo de infância que está namorando Kami e ajudando o irmão do presidiário, Lucas (Pedro Henrique Ferreira).

View this post on Instagram

A post shared by TV Globo (@tvglobo)

Continua após a publicidade

Trilha sonora, abertura e direção

A trilha sonora de Dona de Mim é ótima e mistura músicas nacionais com internacionais já conhecidas no país. Um destaque vai para Ain’t No Mountain High Enough, de Marvin Gaye e Tammi Terrell, e para Dona de Mim, de IZA.

A faixa da cantora carioca ganhou novas vozes com Azzy e Sandra de Sá e embala a trilha principal da novela, além da abertura – que é um dos pontos fracos da produção. A ideia de trazer o elenco para a abertura é sempre interessante, mas o resultado é quase como um lyric video da música de IZA com muitas cores e imagens aleatórias do ensaio dos atores em fundo branco.

Por outro lado, a direção de Allan Fiterman tem chamado a atenção positivamente. A novela tem muitas sequências com uma direção mais inventiva e criativa, como a perseguição policial que resultou a prisão de Ryan e o número musical que aconteceu na segunda semana (marca registrada de Svartman).

O que não funciona tanto

A resposta é óbvio para quem está assistindo: a trama de Filipa (Cláudia Abreu). A questão não é a atuação de Abreu, mas sim a chatice da personagem. Filipa é a atual esposa de Abel e que se sente diminuída na própria casa. A ex-atriz sonha em voltar ao teatro e é extremamente insegura e egóica.

Apesar de não ser a vilã, ela não é gostável. No primeiro mês de novela, o público ainda não consegue entender porque Filipa não se dá tão bem com Sofia, mas alguns flashbacks do passado tem começado a explicar essa relação. Com muitas referências cansativas ao teatro clássico e dramaturgia, a personagem promete ganhar uma nova camada com a chegada de sua filha distante e a exposição dos problemas desse relacionamento.

Continua após a publicidade

Outra personagem que não está sendo aproveitada é Ayla, interpretada pela ótima Bel Lima, que quase não aparece, mas, quando está em cena, nos dá vontade de descobrir mais sobre ela. Tudo o que descobrimos é que ela é uma filha dedicada, profissional e que vive um relacionamento lésbico, que mal aparece.

Parte da trama de Marlon tem dividido o público. Apesar do personagem estar se tornando cada vez mais interessante com a ajuda de Kami, o núcleo policial é, muitas vezes, cansativo e reproduz alguns discursos imparciais sobre a polícia. Felizmente, na última semana, Jefferson (Faiska Alves) tem trazido para a história um ótimo contraponto sobre o assunto, mostrando que a novela pretende abordar diferentes visões.

Publicidade