DaCota Monteiro é a drag que nossa geração ama ver no centro dos palcos

Mais segura do que nunca, ela extrapola seu canal do YouTube e transborda confiança e talento em um momento de conquistas pessoais e profissionais.

Por Arthur Ferreira 28 jun 2025, 12h50

Eu posso fazer o que eu quiser, então vou fazer tudo o que eu sempre quis.” A frase, dita por DaCota Monteiro em entrevista à CAPRICHO sobre seu show solo Gala & Glamour, resume não só a proposta do espetáculo, mas também o momento atual da artista.

No dia 11 de junho, ao fim de uma apresentação em São Paulo, DaCota surpreendeu a plateia com um anúncio duplo: pediu o companheiro Noam Scapin em casamento e revelou que ambos estão esperando um bebê. O teatro veio abaixo. Teve grito, choro e aplauso de quem a acompanha desde seus primeiros vídeos na internet.

A trajetória foi construída com esforço, criatividade e um certo grau de insistência. A artista começou no YouTube em 2016, gravando vídeos dentro do quarto, como uma drag “da cintura pra cima”. Os conteúdos misturavam cultura pop, contos eróticos, análises de reality e muito shade. O canal, que começou como um portfólio para conseguir trabalho, virou comunidade. 

“Quando eu comecei o canal, eu era uma adolescente frustrada. Eu não tinha com quem conversar, porque eram assuntos dos quais as pessoas ao meu redor não estavam inteiradas ou interessadas. Descobrir que eu sou uma pessoa interessante e que as pessoas têm vontade de ser minhas amigas foi uma coisa muito boa.”

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Ao longo dos anos, a personagem da internet ganhou corpo nos palcos. Hoje, DaCota é atriz premiada, apresentadora, roteirista e comediante. E é no palco que ela diz se sentir mais em paz.

Em Gala & Glamour, ela reúne tudo que sabe fazer: stand-up, voguing, leitura de contos eróticos, performance burlesca e até número musical. “É o meu momento de subir no palco e fazer o que eu gosto, me divertir, sem me preocupar com ‘tem que ter isso, aquilo’. O que me atraiu na arte drag foi a liberdade criativa. Decido o que faz sentido.”

 “Às vezes eu me sinto mais confortável em cima do palco do que indo comprar um pão. É o lugar onde nada de ruim acontece e, se acontecer, eu tenho o poder de consertar.”

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A montagem não é só um apanhado dos talentos de DaCota, mas também um manifesto de liberdade e identidade. Em 2024, ela se afirmou como uma mulher trans, e essa virada redefiniu sua relação com a arte e com o próprio corpo. “Eu tenho feito esse trabalho, essa pesquisa de como mostrar o meu corpo ao máximo. De onde colocar cada detalhe para que eu possa valorizar ele sem precisar me esconder. ”

A segurança que DaCota demonstra hoje contrasta com o que sentia aos 20 anos, quando lançou seu canal e ainda não se enxergava como protagonista de nada. “Eu era muito desesperançosa. Tinha uma parte minha que fazia drag a contragosto, achando que isso não ia dar certo, que não tinha futuro. Agora estou num lugar com que sempre sonhei, mas passei boa parte do caminho achando que estava desperdiçando meu tempo”, conta.

“Existe uma urgência de aprender a lidar com o seu próprio corpo. Muito do que a gente ouve sobre moda é do ponto de vista de corrigir, de pedir desculpas pelo corpo que você tem. A movimentação que eu faço é de afirmar o meu corpo como feminino, gordo e bonito.”

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Apesar da potência que exibe nos palcos, sua trajetória é atravessada por inseguranças, dúvidas e barreiras impostas pelos outros, e também por ela mesma. “Eu queria fazer teatro musical, mas achava que não tinha espaço pra mim. Os musicais tinham gente branca, magra, padrão. Eu desistia antes de tentar.”

Durante muito tempo, a drag foi um escudo. Uma armadura criada para compensar tudo o que ela acreditava não ser. “Essa persona brava, que joga shade e se acha melhor que todo mundo, era uma forma de me proteger”, admite. Aos poucos, porém, a sensibilidade foi aparecendo nos vídeos, nos palcos e na vida. “Eu fui percebendo, principalmente nos realities, que não sou tão durona assim.”

Hoje, aos 29 anos, DaCota olha para aquela versão adolescente com carinho. “Se eu pudesse, diria para ela confiar e seguir fazendo o que gosta. Diria para curtir tudo o que está acontecendo, porque deu tudo certo e eu poderia ter sofrido menos. Poderia ter sido um caminho muito mais tranquilo, psicologicamente falando, do que foi.”

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Os palcos que antes pareciam distantes hoje fazem parte da rotina. E os sonhos, que um dia pareceram fora de alcance, estão se concretizando. Agora, além do show solo, DaCota se prepara para duas estreias importantes: o casamento e a maternidade. Sem perder o foco, ela segue fazendo da própria história uma performance impossível de ignorar.

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