Carol Biazin sobre novo disco: ‘Nunca vamos saber quem somos por inteiro’
Cantora fala à CAPRICHO sobre inseguranças, orgulho LGBTQIA+ e o processo criativo de No Escuro, Quem É Você?, agora completo com 22 faixas

pós a primeira parte do álbum ultrapassar 40 milhões de streams no Spotify, Carol Biazin lançou no fim de maio a segunda metade de No Escuro, Quem É Você?, completando o projeto com 22 faixas no total. Em entrevista à CAPRICHO, a cantora paranaense falou sobre as inspirações, desafios e descobertas que atravessam essa nova fase de sua carreira.
A decisão de dividir o álbum em duas partes não foi aleatória: “Sempre odiei essa coisa de ‘tem que ser assim’. A criação não pode ter regras, não é burocrática, não tem prazo de entrega”, conta Carol. Segundo ela, o formato permitiu construir uma narrativa mais completa e sem pressa: “Foi a melhor forma de contar essa história sem me atropelar.”
Com produção de Donatto e direção artística da CANETARIA, o disco mergulha no pop com influências de Jersey Club, UK Garage, House, New Jazz e R&B. As novas faixas combinam letras sentimentais com batidas dançantes, uma dualidade que, segundo Carol, foi o maior desafio do projeto. “A ideia era mexer corpo e mente. Mesmo com letras sobre insegurança, afeto e liberdade emocional, a música precisava convidar as pessoas a viverem.”
Essa tensão entre força e fragilidade aparece com força em Sou do Mundo e Sou Tão Insegura. Enquanto a primeira fala sobre liberdade afetiva com leveza, a segunda mergulha no medo da solidão. “Todos nós somos capazes de ser muito corajosos e muito inseguros ao mesmo tempo. A dificuldade é aceitar que somos feitos das duas coisas”, reflete.
Entre os destaques está Te Amo Sem Culpa, faixa que se tornou hino entre os fãs LGBTQIA+ e presença garantida nos shows da artista. “Queria que fosse uma mensagem pra mim e pra minha criança interior, que sofreu muito tentando se aceitar”, revela. “Também foi um presente pros meus fãs.”
Carol lembra que falar abertamente sobre sua sexualidade desde o início da carreira foi libertador, mas nem sempre acolhido. “Eu sempre senti que grande parte da minha insegurança estava muito atrelada ao fato de eu ter exposto minha sexualidade. Em alguns momentos, foi colocado pra mim como se isso me prejudicasse, como se me afastasse de outras pessoas que não fazem parte da comunidade.”
Lançar essa música foi um alívio. Senti como se tivesse tirado uma pedra das costas, que me incomodava e eu nem percebia. E o mais bonito foi que eu ganhei coragem por causa do público
Carol Biazin sobre Te Amo Sem Culpa
Se Te Amo Sem Culpa exala orgulho, Dilemas da Vida Moderna nasce do cansaço. A música traduz o esgotamento de uma rotina que a afastou de si mesma. “Eu vinha de processos muito longos de trabalho, e aquilo começou a me incomodar além da conta. Sentia falta de viver, de ir a lugares, de fazer coisas diferentes”, diz.
Um sentimento parecido impulsionou As Coisas Mais Simples, escrita numa madrugada exausta ao lado de Donatto. “A gente estava sofrendo mesmo. A vida tinha virado só trabalho. Acordava trabalhando, dormia trabalhando… e isso começou a nos deixar muito mal”, conta. A composição surgiu quase como um desabafo, um lembrete de que, depois do caos, ainda pode haver um recomeço.
Esse desejo por conexão também atravessa Terra de Ninguém, feat com Vitor Kley, sobre deixar marcas reais na vida de alguém. “As experiências afetivas são o que realmente deixa marca. E a gente precisa encontrar jeitos de viver isso.”
Sobre os feats do álbum, ela resume com entusiasmo: “Sou fã de todos.” Com Duquesa em Corações de Pedra, encontrou a parceira perfeita para o clima urbano e R&B da faixa. Ebony emprestou “uma autoestima muito potente” a Que Pecado, enquanto o feat com Kley surgiu de forma “inesperada, espontânea e cheia de sentido”.
No fim, No Escuro, Quem É Você? é sobre atravessar contradições e emergir com mais clareza. “Acho que alcancei um lugar diferente dentro de mim, onde me entendo muito melhor”, conclui. “Nunca vamos saber quem somos por inteiro, mas hoje me sinto mais próxima dessa resposta. E devo muito disso à coragem de compartilhar.”