‘Beleza Fatal’ é o novelão no streaming que precisávamos e não sabíamos

Protagonizado por Camila Pitanga, Camila Queiroz e Giovanna Antonelli, a novela está conquistando a galera e trouxe a essência das narrativas de volta.

Por Arthur Ferreira 25 fev 2025, 19h00
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mundo das novelas ganhou um novo fôlego na era do streaming, e Beleza Fatal é a prova definitiva de que o gênero segue mais vivo do que nunca. A produção, que mistura glamour, vingança e reviravoltas dignas dos grandes clássicos da teledramaturgia, tem conquistado uma audiência fiel e reafirma o poder das novelas na cultura brasileira.

A produção original da Max nos apresenta Sofia (Camila Queiroz), uma jovem do interior que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando sua mãe, Cléo (Vanessa Giácomo), é presa injustamente, acusada de um crime que foi, na verdade, orquestrado por sua tia, Lola (Camila Pitanga), uma influenciadora digital cheia de ambição.

Mas não é só isso: a novela também nos transporta para o intrigante mundo dos tratamentos estéticos e da beleza. A história consegue prender o espectador e entregar uma narrativa envolvente, algo que está faltando em algumas novelas atuais da televisão aberta.

TV Aberta X Streaming

Embora as novelas da TV aberta também cheguem aos streamings depois de sua transmissão, Beleza Fatal se destaca como uma produção original do streaming que segue o modelo de lançamento semanal, com 5 episódios liberados todas as segundas-feiras.

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Isso cria uma dinâmica um pouco diferente das maratonas instantâneas que outros streamings oferecem, trazendo aquele clima de “novela clássica”, com uma dose de expectativa para o que virá na próxima leva de capítulos. Além disso, a liberdade criativa que o streaming oferece se reflete em temas atuais e personagens que quebram as barreiras das narrativas convencionais.

Uma das maiores forças de Beleza Fatal é sua capacidade de lidar com a diversidade de maneira natural, sem forçar a barra. A novela vai além das histórias de vingança e glamour ao revisitar relações que são raramente abordadas nas novelas tradicionais. Aqui, a diversidade não é um tema isolado ou algo que se coloca à parte; ela acontece de maneira orgânica.

O destaque vai para a personagem de Kiara Felippe, que traz a representação de uma mulher trans em um romance, algo que ainda é um tabu em muitas produções da TV aberta. A trama trata o relacionamento de forma delicada, sem subterfúgios, mostrando que o amor é, acima de tudo, universal.

Além disso, temos o personagem de Herson Capri, um homem mais velho, conservador e chefe de família, que tem um relacionamento secreto com outro homem. A cena em que Átila revela de forma sincera a sua própria descoberta e sua complexa relação com a sexualidade, sem estereótipos ou limitações, é algo que nunca seria visto de forma tão sensível se fosse ao ar em uma novela das 9, por exemplo.

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Outro ponto interessante são as questões abordadas pela personagem Gisela, interpretada por Julia Stoker, que representa a distorção da autoimagem e a desmorfia causada pelas redes sociais. Ela reflete esse momento em que, o tempo inteiro, nos vemos em telas e questionamos nossa aparência. Uma crítica necessária e muito presente na nossa realidade.

Uma protagonista boazinha, mas nem tanto

Camila Queiroz entrega uma Sofia cheia de camadas em Beleza Fatal. Diferente das mocinhas ingênuas e clichês, ela é movida pela vingança e não tem medo de tomar atitudes controversas para alcançar seus objetivos. A personagem é complexa, faz escolhas erradas, mas o roteiro deixa claro que suas ações têm consequências, o que facilita a identificação do público.

Em muitas novelas, as mocinhas são tão bobas que se tornam irritantes, ou então quando tentam criar personagens dúbias, o roteiro “passa pano” e não deixa claro o erro dessas atitudes, como acontece em Mania de Você com a Viola.

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Já Sofia é uma protagonista que não se esconde atrás da vítima, não pede desculpas e não se faz de coitada. Ela é humana, erra, mas sua jornada de vingança é genuína e atrai a simpatia do público, mesmo quando suas decisões não são as mais corretas.

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Lolaland e Família Paixão

Camila Pitanga rouba a cena com uma vilania que mistura cinismo e uma boa dose de humor. Este papel marca o retorno da atriz às novelas, após a tragédia de Velho Chico, e sua performance não poderia ser mais impactante. Com uma atuação marcante, Pitanga entrega uma vilã com camadas: ao mesmo tempo que é completamente maquiavélica, ela também tem momentos de vulnerabilidade que fazem o público simpatizar com ela.

Ela mistura os clichês das vilãs de “velho testamento” com a ambição desenfreada de algumas influenciadoras digitais que se envolvem em escândalos e falcatruas. A personagem também compartilha com figuras como Maria de Fátima de Vale Tudo a obsessão por status e riqueza, acreditando que o luxo e o poder são a verdadeira medida do sucesso.

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Sua relação com o filho, apesar de distorcida e transtornada, revela uma vulnerabilidade que a torna mais humana. Lola não é só uma vilã movida pela vingança e pela busca de riqueza, mas também por um profundo medo da perda de tudo que construiu. Pitanga brilha neste papel, mostrando toda sua força e versatilidade.

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E já que estamos falando de atuações excelentes, não podemos deixar de fora a família Paixão: Giovanna Antonelli e Augusto Madeira brilham como Elvira e Lino, que fazem parte do plano de vingança contra a vilã, que encobertou o assassinato da filha do casal.

Antonelli traz uma energia única, equilibrando o drama da busca por justiça com a comédia de uma mãe trambiqueira. Já Madeira, com seu desempenho sincero e cheio de nuances, adiciona o coração à história, interpretando um pai que, apesar das adversidades, busca a redenção de sua família.

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Exagerada no medida certa

Nas redes sociais, algumas pessoas criticaram a novela por seu tom exagerado e uma estética caricata. Mas será que isso é realmente um ponto negativo? A novela é exagerada, sim, mas isso é totalmente proposital. O exagero está ali para refletir o próprio tema: a busca pela estética perfeita, algo muito presente em nosso cotidiano, principalmente nas redes sociais.

Raphael Montes acerta ao usar uma linguagem moderna e crítica sem perder a essência das novelas tradicionais. Há um equilíbrio entre o humor exagerado e o tom mais sério que funciona muito bem. A produção, com Garota do Momento, é uma das poucas que estão realmente fazendo justiça ao gênero. E quem sabe o remake de Vale Tudo não nos surpreenda também, né? A fase da teledramaturgia está boa, e Beleza Fatal tem seu lugar nessa grande revolução.

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