‘Beleza Fatal’ é o novelão no streaming que precisávamos e não sabíamos
Protagonizado por Camila Pitanga, Camila Queiroz e Giovanna Antonelli, a novela está conquistando a galera e trouxe a essência das narrativas de volta.

mundo das novelas ganhou um novo fôlego na era do streaming, e Beleza Fatal é a prova definitiva de que o gênero segue mais vivo do que nunca. A produção, que mistura glamour, vingança e reviravoltas dignas dos grandes clássicos da teledramaturgia, tem conquistado uma audiência fiel e reafirma o poder das novelas na cultura brasileira.
A produção original da Max nos apresenta Sofia (Camila Queiroz), uma jovem do interior que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando sua mãe, Cléo (Vanessa Giácomo), é presa injustamente, acusada de um crime que foi, na verdade, orquestrado por sua tia, Lola (Camila Pitanga), uma influenciadora digital cheia de ambição.
Mas não é só isso: a novela também nos transporta para o intrigante mundo dos tratamentos estéticos e da beleza. A história consegue prender o espectador e entregar uma narrativa envolvente, algo que está faltando em algumas novelas atuais da televisão aberta.
TV Aberta X Streaming
Embora as novelas da TV aberta também cheguem aos streamings depois de sua transmissão, Beleza Fatal se destaca como uma produção original do streaming que segue o modelo de lançamento semanal, com 5 episódios liberados todas as segundas-feiras.
Isso cria uma dinâmica um pouco diferente das maratonas instantâneas que outros streamings oferecem, trazendo aquele clima de “novela clássica”, com uma dose de expectativa para o que virá na próxima leva de capítulos. Além disso, a liberdade criativa que o streaming oferece se reflete em temas atuais e personagens que quebram as barreiras das narrativas convencionais.
Uma das maiores forças de Beleza Fatal é sua capacidade de lidar com a diversidade de maneira natural, sem forçar a barra. A novela vai além das histórias de vingança e glamour ao revisitar relações que são raramente abordadas nas novelas tradicionais. Aqui, a diversidade não é um tema isolado ou algo que se coloca à parte; ela acontece de maneira orgânica.
O destaque vai para a personagem de Kiara Felippe, que traz a representação de uma mulher trans em um romance, algo que ainda é um tabu em muitas produções da TV aberta. A trama trata o relacionamento de forma delicada, sem subterfúgios, mostrando que o amor é, acima de tudo, universal.
Além disso, temos o personagem de Herson Capri, um homem mais velho, conservador e chefe de família, que tem um relacionamento secreto com outro homem. A cena em que Átila revela de forma sincera a sua própria descoberta e sua complexa relação com a sexualidade, sem estereótipos ou limitações, é algo que nunca seria visto de forma tão sensível se fosse ao ar em uma novela das 9, por exemplo.
Outro ponto interessante são as questões abordadas pela personagem Gisela, interpretada por Julia Stoker, que representa a distorção da autoimagem e a desmorfia causada pelas redes sociais. Ela reflete esse momento em que, o tempo inteiro, nos vemos em telas e questionamos nossa aparência. Uma crítica necessária e muito presente na nossa realidade.
Uma protagonista boazinha, mas nem tanto
Camila Queiroz entrega uma Sofia cheia de camadas em Beleza Fatal. Diferente das mocinhas ingênuas e clichês, ela é movida pela vingança e não tem medo de tomar atitudes controversas para alcançar seus objetivos. A personagem é complexa, faz escolhas erradas, mas o roteiro deixa claro que suas ações têm consequências, o que facilita a identificação do público.
Em muitas novelas, as mocinhas são tão bobas que se tornam irritantes, ou então quando tentam criar personagens dúbias, o roteiro “passa pano” e não deixa claro o erro dessas atitudes, como acontece em Mania de Você com a Viola.
Já Sofia é uma protagonista que não se esconde atrás da vítima, não pede desculpas e não se faz de coitada. Ela é humana, erra, mas sua jornada de vingança é genuína e atrai a simpatia do público, mesmo quando suas decisões não são as mais corretas.
Lolaland e Família Paixão
Camila Pitanga rouba a cena com uma vilania que mistura cinismo e uma boa dose de humor. Este papel marca o retorno da atriz às novelas, após a tragédia de Velho Chico, e sua performance não poderia ser mais impactante. Com uma atuação marcante, Pitanga entrega uma vilã com camadas: ao mesmo tempo que é completamente maquiavélica, ela também tem momentos de vulnerabilidade que fazem o público simpatizar com ela.
Ela mistura os clichês das vilãs de “velho testamento” com a ambição desenfreada de algumas influenciadoras digitais que se envolvem em escândalos e falcatruas. A personagem também compartilha com figuras como Maria de Fátima de Vale Tudo a obsessão por status e riqueza, acreditando que o luxo e o poder são a verdadeira medida do sucesso.
Sua relação com o filho, apesar de distorcida e transtornada, revela uma vulnerabilidade que a torna mais humana. Lola não é só uma vilã movida pela vingança e pela busca de riqueza, mas também por um profundo medo da perda de tudo que construiu. Pitanga brilha neste papel, mostrando toda sua força e versatilidade.
E já que estamos falando de atuações excelentes, não podemos deixar de fora a família Paixão: Giovanna Antonelli e Augusto Madeira brilham como Elvira e Lino, que fazem parte do plano de vingança contra a vilã, que encobertou o assassinato da filha do casal.
Antonelli traz uma energia única, equilibrando o drama da busca por justiça com a comédia de uma mãe trambiqueira. Já Madeira, com seu desempenho sincero e cheio de nuances, adiciona o coração à história, interpretando um pai que, apesar das adversidades, busca a redenção de sua família.
Exagerada no medida certa
Nas redes sociais, algumas pessoas criticaram a novela por seu tom exagerado e uma estética caricata. Mas será que isso é realmente um ponto negativo? A novela é exagerada, sim, mas isso é totalmente proposital. O exagero está ali para refletir o próprio tema: a busca pela estética perfeita, algo muito presente em nosso cotidiano, principalmente nas redes sociais.
Raphael Montes acerta ao usar uma linguagem moderna e crítica sem perder a essência das novelas tradicionais. Há um equilíbrio entre o humor exagerado e o tom mais sério que funciona muito bem. A produção, com Garota do Momento, é uma das poucas que estão realmente fazendo justiça ao gênero. E quem sabe o remake de Vale Tudo não nos surpreenda também, né? A fase da teledramaturgia está boa, e Beleza Fatal tem seu lugar nessa grande revolução.