Além de Anora, Oscar já premiou outros filmes sobre trabalhadoras sexuais

O primeiro Oscar de Melhor Atriz foi para Janet Gaynor, por interpretar uma jovem que recorre à prostituição para pagar os remédios da mãe.

Por Arthur Ferreira 11 mar 2025, 09h00
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trajetória dos trabalhadores sexuais no cinema é longa e complexa, refletindo diferentes períodos da história de Hollywood. O grande vencedor do Oscar 2025, Anora, levou para casa cinco estatuetas, incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz para Mikey Madison. Mas essa não foi a primeira vez que a Academia reconheceu personagens que vivem (e sobrevivem) nessa realidade.

Desde a primeira edição do Oscar, essas histórias já apareciam na premiação. Em 1928, O Anjo das Ruas garantiu a Janet Gaynor a primeira estatueta de Melhor Atriz da história por sua interpretação de uma jovem que recorre à prostituição para pagar os remédios da mãe doente.

E esse foi apenas o começo de um longo histórico de filmes que deram visibilidade — ainda que com diferentes abordagens — às vidas dessas personagens.

Da censura à representatividade: A evolução no cinema

Nem sempre esses filmes foram recebidos sem controvérsia. O código Hays, que vigorou até os anos 60, impedia que certos temas fossem abertamente retratados, e muitos personagens eram disfarçados como “mulheres misteriosas” ou “cantoras de saloon”.

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Com a queda da censura, a representatividade ganhou mais camadas, permitindo que narrativas mais autênticas surgissem e fossem reconhecidas pela Academia.

Os clássicos premiados: Quando a Academia abraçou essas histórias

Nos anos 50, Federico Fellini emocionou o mundo com Noites de Cabíria (1957), acompanhando a jornada ingênua, mas resiliente, de Cabíria (Giulietta Masina). O filme levou o Oscar de Melhor Filme Internacional. Um pouco depois, em A Um Passo da Eternidade (1953), Donna Reed venceu Melhor Atriz Coadjuvante ao interpretar uma prostituta — ainda que suavizada pela censura da época.

A década de 60 trouxe Perdidos na Noite (1969), com Jon Voight como um garoto de programa e Dustin Hoffman como seu improvável parceiro de sobrevivência. O filme fez história ao vencer Melhor Filme, Diretor e Roteiro Adaptado no Oscar de 1970. Poucos anos depois, Jane Fonda brilhou em Klute – O Passado Condena (1971), levando sua primeira estatueta por interpretar uma acompanhante envolvida em um caso de desaparecimento.

Já nos anos 90, Uma Linda Mulher (1990) levou o arquétipo da “prostituta de bom coração” ao estrelato com Julia Roberts no papel de Vivian, uma mulher que se envolve com um empresário milionário. Embora o filme tenha sido um sucesso de bilheteria e um clássico da comédia romântica, a única indicação ao Oscar foi para Roberts, como Melhor Atriz.

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Em 1997, Los Angeles – Cidade Proibida trouxe Kim Basinger interpretando uma acompanhante de luxo em um thriller noir que garantiu a ela o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Monster – Desejo Assassino (2003), por sua vez, rendeu a Charlize Theron a estatueta de Melhor Atriz ao dar vida à serial killer Aileen Wuornos, que também era trabalhadora do sexo.

Nos anos 2000, Preciosa – Uma História de Esperança (2009) trouxe uma abordagem dura e realista ao acompanhar a jornada de Precious, uma jovem que sofre abusos e encontra refúgio em um centro de apoio. O filme garantiu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para Mo’Nique, por sua performance como a mãe abusiva da protagonista.

Filmes esquecidos pela Academia: Narrativas que mereciam mais reconhecimento

Mesmo com tantas produções aclamadas, algumas ficaram à margem do reconhecimento que mereciam. Sweet Charity (1969), dirigido por Bob Fosse, colocou Shirley MacLaine no papel de uma dançarina de cabaré em busca do amor verdadeiro, mas não conseguiu converter sua indicação ao Oscar em prêmio.

Já nos anos 80, Abaixo de Zero (1987) trouxe Robert Downey Jr. em um dos papéis mais intensos de sua carreira, vivendo um jovem que se prostitui para sustentar seu vício. Apesar da aclamação, o filme não foi lembrado pela Academia.

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Da polêmica ao reconhecimento: A mudança na forma de contar essas histórias

Com o passar dos anos, o cinema passou a explorar esses personagens com mais profundidade, passando por ícones como Pobres Criaturas (2024), onde Emma Stone interpreta Bella Baxter, uma mulher que descobre sua liberdade através da sexualidade e da autonomia.

Agora, com Anora marcando mais um capítulo nessa história, o cinema reafirma que essas narrativas têm um espaço garantido — e que a Academia está disposta a premiá-las. Quem sabe qual será o próximo grande título a se juntar a essa lista?

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