AJULIACOSTA abre seu Novo Testamento e reflete sobre fé, amor e carreira
Em entrevista exclusiva à CAPRICHO, rapper detalha inspirações, processos e as reflexões que moldaram seu segundo álbum

e o primeiro álbum apresentou AJULIACOSTA como uma das vozes mais fortes do rap nacional, o segundo chega para mostrar até onde ela pode ir. Novo Testamento, lançado em 15 de setembro, é um disco que une parcerias de peso, experimentação e, principalmente, a busca de uma artista por permanecer fiel a si mesma.
Em 11 faixas, a paulista vai do boombap ao trap com participações de nomes como KL Jay e Mu540. A proposta é clara: fazer rap em sua forma mais pura, mas também abrir espaço para vulnerabilidade, espiritualidade e autoconhecimento.
Na conversa com a CAPRICHO, AJC falou sobre o processo de construção do projeto, que nasceu de uma busca pessoal. “Novo Testamento traz um impacto e representa esse movimento que eu quero fazer na cena de trazer alguma coisa diferente”, explica.
Entre reflexões sobre o mercado musical, relações amorosas e espiritualidade, a artista também contou como foi se manter fiel a si mesma após começar a fazer sucesso a nível nacional nos últimos anos. “Nesse mundo artístico muito é nos oferecido e realmente tudo é permitido, mas será que tudo vale a pena?”, questiona.
Quando você é artista, se ganha alguns privilégios que podem ser algumas iscas para para você ir bem para longe de você. Eu fiquei bem próxima de mim.
AJULIACOSTA em entrevista à CAPRICHO

A espiritualidade também é um elemento central na vida de AJC, que carrega influências do xamanismo, budismo, hinduísmo e candomblé para moldar moldam sua visão de vida e música: “Eu me considero uma pessoa que onde tem benção, eu tô. Onde tem coisa boa, aprendizado, eu tô. Eu vou conhecendo as religiões, as crenças, e não desgosto de nenhuma. Vou conhecendo o que me agrega como ser humano.”
Para ser fiel a si, você tem que se escutar. Para se escutar, você tem que separar sua intuição da sua paranoia e conseguir entrar para dentro.
AJULIACOSTA em entrevista à CAPRICHO
Leia a entrevista completa com AJULIACOSTA:
CAPRICHO: Vou começar fazendo a mesma pergunta que abre o disco. AJULIACOSTA, que história é essa de Novo Testamento? Por que esse nome? De onde veio a ideia?
AJULIACOSTA: Esse nome estava no mundo das ideias. Às vezes ele aparecia, às vezes não. Teve um dia que eu estava guardando umas fotos num HD e aí eu escrevi “Antigo Testamento” porque eram umas fotos bem antigas mesmo. Aí eu falei: “Mano, acho que agora eu preciso fazer o Novo Testamento, né?”. Eu fui colocando ele nas primeiras três faixas, até que eu decidi que seria isso. Acho que Novo Testamento traz um impacto e representa esse movimento que eu quero fazer na cena de trazer alguma coisa diferente.
CH: De quem são as vozes nessa primeira faixa?
AJULIACOSTA: São de amigas, familiares e pessoas que participaram do processo. É um pouco de tudo.
CH: Em Toc Toc Toc você diz “o algoritmo do trap me deixa no tédio. pra ouvido doente AJULIACOSTA é remédio”. Hoje, o rap feminino nocional está se destacando muito justamente por não se prender a fórmulas. O que você acha que diferencia essa nova geração feminina no rap?
AJULIACOSTA: A gente teve nossas referências tanto nacionais quanto internacionais. Isso é muito bom porque a gente consegue ter um parâmetro de tudo. A digitalização deu a oportunidade da gente pesquisar coisas que as mulheres das antigas gerações não tinham tanta acessibilidade. Ter informação era mais caro e as nossas situações eram mais precárias. Acho que até o avanço assim na economia dos anos 2000 para cá ajudou a gente a ter mais acesso a coisas que as que a geração passada não tinha. Tudo isso fez com que a gente conseguisse ter base, referência, fazer uma pesquisa e descobrir o que gosta.
CH: Em Quero Saber você canta: “sendo só quem sou, será que isso te bastaria? me diz a verdade, quanto eu te valeria?”. É uma faixa em que você se mostra um pouco mais de vulnerabilidade. Como é para você abrir esse espaço de fragilidade na sua escrita?
AJULIACOSTA: Durante todo o processo eu precisei me despir de tudo o que eu acreditava e carregava de velho para construir coisas novas. E esse processo é de muita reflexão. O que eu sou para além da AJULIACOSTA artista? Sou esse ser humano nesse processo de encontro consigo mesma. E o quanto as pessoas aturariam passar por isso ao meu lado? Porque de fato é complicado se encontrar e passar pelos seus processos.

CH: A faixa traz o sample de Caju da Liniker. O que te fez escolher justamente essa música como base?
AJULIACOSTA: Eu estava escutando muito esse álbum da Liniker. Eu amo ela e quando ela lançou esse álbum, eu escutei bastante. Eu estava em casa, cozinhando e escutando essa música, aí me veio essa melodia. Eu fui pro estúdio com e a gente fez essa no dia seguinte. Eu mandei para ela e ela super gostou.
CH: O título da faixa é Dharma, que fala de propósito, caminho, destino. Por que esse conceito foi importante para traduzir a mensagem da música?
AJULIACOSTA: Esse álbum é bem reflexivo. Eu conheci o conceito de dharma, que é seguir o fluxo da vida e não aceitar as coisas como elas são, o que às vezes é difícil pra gente, né? Às vezes queremos relutar, brigar, mostrar que estamos melhor, enfim. Essa música, na verdade, conta também a história de uma amiga minha que tinha acabado de passar por uma situação amorosa. A gente ficava refletindo o que ela ia fazer da vida dela. Era uma conversa que a gente sempre tinha. Ficar desesperada para estar com uma outra pessoa às vezes não vai melhorar em nada. Talvez só vai mostrar pro seu ego que você está bem, mas não é um resultado. A gente precisa realmente se curar para conhecer uma pessoa que seja legal. Vai viver o processo das coisas. Tá triste? Fica triste. Deixa a tristeza passar e vai embora para não ficar travando a situação.
CH: E o conceito de dharma vem do budismo. Como você lida com a espiritualidade?
AJULIACOSTA: Eu me considero uma pessoa que onde tem benção, eu tô. Onde tem coisa boa, aprendizado, eu tô. Eu frequento muito o xamanismo, que me trouxe essa expansão da espiritualidade e me apresentou o hinduísmo, o budismo. Fora disso, eu sempre me cuidei muito no candomblé. Eu sinto que é uma coisa muito ancestral minha. Eu vou conhecendo as religiões, as crenças, e não desgosto de nenhuma. Vou conhecendo o que me agrega como ser humano.
CH: Em Acorde e Liberdade você grita contra um mercado que muitas vezes limita os artistas, e em O Que A Julia Vai Ser ironiza fórmulas prontas e tendências. Essas faixas nasceram mais de uma frustração pessoal com o mercado ou da vontade de expor o absurdo dessa lógica?
AJULIACOSTA: Eu fiz uma boa escolha sobre o que eu queria ser dentro de tudo que foi me oferecido. Nesse mundo artístico muito é nos oferecido e realmente tudo é permitido, mas será que tudo vale a pena? Tem coisas que custam muito caro para depois você se reencontrar com você quando você estiver longe demais. Quando você é artista, se ganha alguns privilégios que podem ser algumas iscas para para você ir bem para longe de você. Eu fiquei bem próxima de mim. Nessas músicas, eu quis evidenciar isso. São coisas que eu percebi no meu processo como artista. É a mesma reflexão que eu fiz há uns 10 anos atrás, quando eu falei: “Mano, eu não quero trabalhar CLT, eu quero abrir a minha empresa”, sabe? Eu estourei algumas músicas, mas é o que eu quero para mim? Eu não quero me perder na futilidade das coisas ou aceitar as coisas só por dinheiro. Eu fui me livrando desse processo.

CH: Minha Casa Sob A Luz Do Seu Olhar é uma música sobre amor, mas principalmente sobre o que você quer do amor. Por que era importante mostrar esse lado da sua visão de amor no álbum?
AJULIACOSTA: Eu escrevi essa música antes de pensar em lançar um álbum. Ela é muito linda. Eu sentia que as meninas que me ouvem, até pelas coisas que cantei anteriormente, achavam que o bagulho era ser surtadona mesmo, sabe? É de tirar a paz do ser humano ter que se colocar nesse lugar e achar que isso é amor. O amor dá para ser mais leve, confortável, respeitoso. É o que eu desejo para mim e para todas.
CH: Em Pense Como Uma Diva você fala de buscar referências e manter atitude mesmo “na merda”. Como esse jeito de pensar influencia a forma como você cria suas músicas e encara a carreira?
AJULIACOSTA: Depende muito do que é uma diva para você, sabe? Para mim uma diva é uma mulher que sabe lidar com as situações da vida. Nesse momento, a introspecção se faz necessária porque você realmente precisa entrar para dentro de você para se recuperar. Em qualquer mergulho que você tenha que entrar de uma situação que a vida te apresenta que não seja tão fácil, que você saia de lá melhor do que você entrou. Isso é uma diva para mim.
CH: O disco finaliza com Fiel A Mim. Por que você escolheu essa música para fechar o disco?
AJULIACOSTA: Eu acho que Fiel A Mim é um brinde. Quando eu fiz essa música com o MU540, a gente conseguiu elevar a vibe. É uma música de atleta, sabe? Depois de tudo que você percorreu, você pode falar: “Mano, é isso, sabe? Fiel a mim. Eu passei por tudo isso e se eu consegui é porque eu fui fiel a mim”.
CH: Hoje em dia o que é mais difícil em se manter fiel a si?
AJULIACOSTA: Às vezes é muita informação. É muito fácil se confundir. A gente tá tão na correria e fazendo tanta coisa na nossa vida que a gente não consegue se conectar com nós mesmos. Para ser fiel a si, você tem que se escutar. Para se escutar, você tem que separar sua intuição da sua paranoia e conseguir entrar para dentro. Ser fiel a você é você conseguir se manter junto das suas crenças e do que você acredita por mais que tenha muita informação aí durante o percurso.
Ouça ao Novo Testamento de AJULIACOSTA:
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