4 argumentos que vão te convencer a ouvir o novo álbum da Ebony

Baixada Fluminense é o ponto de partida do terceiro disco da rapper que não tem medo de se reinventar.

Por Rômulo Santana Atualizado em 9 jun 2025, 18h45 - Publicado em 9 jun 2025, 14h59
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uem poderia imaginar que um álbum autobiográfico começaria em uma viagem de trem? A rapper carioca Ebony mostra que isso é possível em KM2 ou Queimados, seu terceiro álbum, lançado em maio deste ano. Com pouco menos de 30 minutos de duração, o disco convida o público a embarcar em uma viagem sonora rumo às suas origens na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.

Entre as 11 músicas, a cantora entrega o álbum mais experimental da sua carreira até aqui, recheado com letras divertidas, batidas de funk e montagens, além de experimentações que envolvem “offs” jornalísticos e sonoras de ambientes que ajudam a construir sua narrativa política. Neste texto trazemos 4 pontos para te convencer a ouvir – e gostar – do novo álbum dela.

1. Ele é uma surpresa muito bem recebida

Mas, para entender KM2 ou Queimados, é preciso voltar a 2023 – um verdadeiro ponto de virada na carreira de Ebony. Naquele ano, a artista lançou Terapia, seu segundo álbum de estúdio. Ao longo de nove faixas, ela abordou com bom humor questões de saúde mental, em músicas como Megalomaníaca, Hentai e o hit Pensamentos Intrusivos — que só furaria a bolha alguns meses depois, já em 2024.

Mas ainda faltava uma peça nesse tabuleiro – e ela tem nome: Espero que Entendam. Uma diss track — faixa típica do rap em que um artista critica abertamente outros nomes do rap – aqui, a Ebony direciona seus versos para o público masculino do rap que não apoia as artistas da cena feminina.

Por mais de um ano, muitos se perguntaram qual seria o próximo passo da artista – principalmente depois do lançamento da diss track, responsável por alavancar sua relevância entre o público feminino e LGBT+. Esse dia finamente chegou, em 12 de maio de 2025, o KM2 chegou ao streaming sem nenhum single pré-lançado.

Até esse momento, o público só conhecia os títulos das faixas e a capa do álbum. Nessa arte, um desenho feito à mão pela própria Ebony, reflete uma realidade colorida e lúdica, semelhante aos desenhos feitos por crianças que podem filtrar duras realidades, através da sua criatividade e imaginação.

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2. Ebony viaja ao passado para voltar ao presente

Desde a faixa inicial do projeto, a produção musical mostra que tem um papel fundamental para explorar as origens de Ebony. Acompanhada de uma batida de funk e a voz da artista repetindo que a “Baixada é cruel”, aquele que escuta o disco pode começar a compreender que estamos sendo apresentados a um trabalho denso e político.

Ainda nessa faixa-título, Ebony usa uma série de elementos sonoros para representar o cotidiano da Baixada Fluminense. Entre eles, a locução dos trens utilizados pela população periférica para se locomover pela cidade, as vozes de um vendedor ambulante de balas mescladas aos sons de tiroteios, costurados por offs jornalísticos que falam sobre a violência e as duras realidades que fizeram parte da sua adolescência.

Um corte brusco nas experimentações sonoras transporta o ouvinte para a música Parte do Mundo, em que Ebony reafirma que seu trabalho, assim como ela, são cheios de autenticidade, por isso ela está “fazendo música para o mundo” e sendo “Única”.

3. Tem confissões de amor e autoestima (que você vai se identificar)

Em Gin com Suco de Laranja, primeiro single da nova era, Ebony traz suas confissões de amor e autoestima misturadas ao seu humor afiado. A partir de versos sensíveis, ela faz uma crítica bem-humorada à precariedade da iluminação pública  do seu antigo bairro: “Que o meu coração é tão puro, mas meu bairro é escuro / Eu já me perdi uma vez / Prefeito, ilumina minha rua pra me ajudar a ver a bênção que eu me tornei.”

A faixa também introduz um novo cenário: a cidade de São Paulo. É como se Ebony olhasse para dois momentos distintos da sua vida, o passado na Baixada Fluminense e o presente na capital paulista, percebendo e afirmando sua própria evolução.

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Nas faixas Festas e Manequins e Triplex, Ebony aborda os padrões de beleza e a surpresa de, de repente, tornar-se uma referência para outras garotas. Inicialmente, ela encara isso com um certo espanto, como revela no verso: “Ela vai no médico e a ref é uma foto minha.” Em seguida, assume uma postura confiante e provocadora: “Não é segredo que eu inspirei você / Não é segredo que na sua cabeça aluguei um triplex.”

Essa autoconfiança atinge o auge em KIA, faixa que se tornou a favorita do TikTok. Nela, Ebony rompe de vez com qualquer dúvida e declara com firmeza que seu trabalho tem rendido dinheiro e reconhecimento – e que ninguém será capaz de fazer o que ela faz.

4. Parcerias incríveis com Black Alien e muita maturidade

Vale do Silício traz Black Alien – ex-membro do Planet Hemp e uma das referências musicais da cantora – para deixar as temáticas de autoestima um pouco de lado. Assim, Ebony introduz uma parte importante dessa história, a Milena, seu eu verdadeiro. Em versos como: “Pra que dar poder de escolha pra alguém que vai falhar contigo? / Milena, acorda, tu já sabe disso”, a artista convida os ouvintes a conhecerem suas complexidades, relações e afetos construídos por ela até aqui.

Hong He é possivelmente uma das músicas mais diferentonas da discografia da Ebony. Aqui, a artista não se poupa de críticas a um sistema que segrega as massas periféricas, como a Baixada: “Absorventes eram pra ser de graça / As crianças não saem de casa / Vim do futuro, ainda ligam pra raça / Na escola, não aprendi nada”. Assim, ela apresenta uma música extremamente divertida e explora uma veia eletrônica mesclada ao rap.

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Extraordinária expressa coragem e autoconfiança. Nessa faixa, Ebony revisita sua ancestralidade e ressignifica suas características físicas que, por muito tempo, foram marginalizadas. Em versos como “Me sinto extraordinária / Dona de uma mente brilhante / Até minha arcada dentária / É de alguém relevante”, ela faz referência ao diastema — o espaço entre os dentes frontais —, uma característica comum entre pessoas pretas, frequentemente vista de forma negativa no Brasil, mas celebrada por diversos povos africanos.

4. Um recado de muita importância na cena do rap nacional

Além disso, a artista aproveita para mandar um recado direto às mulheres da cena do rap que torcem por sua queda na esperança de ocupar seu lugar.

Não Lembro da Minha Infância pode te render algumas lágrimas, por lá a cantora revisita seu passado e o processo de construção dessa Milena forte que não chora em velórios, que internalizou seus medos e que, ao perceber a presença dos tios, se escondia debaixo da cama.

Em Roubando Livros, faixa que encerra o álbum, Ebony leva o ouvinte de volta ao início dessa experiência sonora, acompanhada de uma batida de funk. Ela volta a dizer que a “Baixada é cruel”.

A música reforça a ideia de fechar um ciclo de uma infância marcada por dificuldades — onde ela afirma ter roubado livros — até presente, em que ela diz “sei que é confuso, uma garota é o melhor rapper vivo”. Ela se mostra orgulhosa desse processo que resultou no que considera seu melhor trabalho até agora.

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Depois de uma fase repleta de experimentações, KM2 revela uma Ebony mais madura, que mergulha fundo em sua identidade para compreender suas origens e emoções. A rapper de Queimados aposta em uma produção que é, ao mesmo tempo, poderosa, divertida e cheia de personalidade. Como ela mesma provoca nos versos finais do álbum: “vai ser difícil por defeito nisso”.

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