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Usinas nucleares: o que são, para que servem e quantas existem no Brasil?

Conversamos com especialistas para entender quais os riscos de um acidente como o de Chernobyl acontecer nas usinas brasileiras.

Por Amanda Oliveira Atualizado em 9 jul 2019, 10h02 - Publicado em 9 jul 2019, 10h02

Na época em que o desastre nuclear de Chernobyl aconteceu, em 1986, muita gente que vivia por perto não tinha noção da gravidade do acidente porque não conhecia o assunto. Naquele período, isso era até normal. Mas acontece que, mesmo mais de trinta anos depois da tragédia que serviu como um grande alerta para a população mundial, muitas pessoas ainda não entendem como funciona uma usina nuclear, por que ela existe e qual foi o motivo da tragédia ucraniana. Essa é uma das razões de por que é tão importante estudar acontecimentos históricos: buscar não apenas saber o que e como aconteceu, mas entender se pode ocorrer novamente.

Esta é a usina nuclear de Chernobyl atualmente. SOPA Images/Getty Images

A CAPRICHO conversou com a professora Emico Okuno, docente sênior do Departamento de Física Nuclear da Universidade de São Paulo (USP), para esclarecer tais dúvidas. Segundo ela, usinas nucleares servem para produzir energia elétrica a partir de elementos radioativos. Uma usina pode ter um ou vários reatores, sendo que, na maioria dos que estão em funcionamento, a energia é gerada por átomos de urânio-235. “Em vez de aquecer a água de caldeira com óleo, carvão ou gás em uma central térmica, em uma central nuclear esse aquecimento é feito com combustível nuclear“, a professora Emico explica. Esse aquecimento acontece a partir do núcleo do átomo de urânio-235 que, quando atingido por um nêutron, se rompe, liberando energia térmica.

Mas, afinal, em maiores detalhes, como é feito esse processo? Allan Rodrigues, professor de Química no Descomplica, conta que esse combustível nuclear, o urânio-235, recebe bombardeio por nêutron e sofre o que é chamado de fissão nuclear. Esse processo é realizado dentro de uma estrutura chamada de reator. “Ele [urânio] quebra em tamanhos menores e isso libera energia. Essa energia liberada aquece o primeiro sistema de água, que obviamente se torna uma água radioativa. Ela é chamada de água pesada“, explica. É ela que também vai aquecer o segundo sistema de água da usina, sendo que parte da água aquecida vai vaporizar e esse vapor serve para movimentar uma turbina. “Essa turbina movimentada, com um gerador, vai produzir eletricidade. Enquanto isso, a água do mar vai resfriar esse sistema para fazer com que a água que foi vaporizada volte para o sistema na forma líquida”, diz. Consequentemente, esse processo é um ciclo.

De acordo com o professor Allan, um dos problemas mais comuns em uma usina nuclear é a elevação da temperatura da água. “A água do mar acaba tendo a temperatura média elevada e isso pode causar a redução da quantidade de oxigênio no meio”, explica. Isso significa que a vida marinha pode ser prejudicada de uma forma séria.

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No Brasil, existem duas usinas nucleares localizadas na Central Nuclear em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Chamadas de Angra 1 e Angra 2, as usinas são responsáveis pela produção de 3% da energia consumida no país. Uma terceira usina, Angra 3, começou a ser construída, mas ainda está longe de ser concluída. Apesar disso, o Ministério de Minas e Energia (MME) declarou, em janeiro deste ano, que pretende retomar o plano de construir entre 4 e 8 novas usinas nucleares no Brasil – para quem está familiarizado com a história de Chernobyl, essa ideia pode parecer muito aterrorizante. Mas será que as usinas nucleares brasileiras podem sofrer o mesmo tipo de desastre de Chernobyl?

O professor Allan Rodrigues garante que são usinas diferentes. Isso porque a usina de Chernobyl tinha um reator RBMK, sendo que a estabilização acontecia com varetas de boro que tinham ponta de grafite. “O que diferencia diretamente a usina de Chernobyl e as usinas de Angra é que a estabilização aqui é por água pressurizada. Quando você pressuriza a água, ela sustenta temperaturas mais altas, se mantendo no estado líquido. Então, isso não vai gerar uma explosão em um primeiro momento por conta do vapor, como aconteceu em Chernobyl”, explica. Além disso, as usinas de Angra foram planejadas para evitar desastres desse tipo, assim como esse cuidado também aconteceu em usinas do mundo inteiro depois do acidente soviético.

Estas são as usinas nucleares brasileiras. Eletronuclear/Reprodução

Outra questão importante é que nem todos os países necessariamente precisam da energia nuclear. De acordo com a professora Emico, o Brasil, que é um país tropical e tem uma imensidade de rios formando grandes bacias hidrográficas, é um exemplo disso. “O Brasil pode se dispor de energia solar, eólica, hidrelétrica, das marés, do etanol, da biomassa, etc. Por ter fontes renováveis e não renováveis de energia, o Brasil pode não se dispor de energia nuclear“, diz.

Mas, segundo ela, existe o pensamento de que há necessidade de diversificar a matriz energética no Brasil – mesmo que o custo da energia nuclear não seja barato. Já o Japão, por exemplo, é um dos países que precisa desse tipo de energia, visto que não é um país tropical (ou seja, não tem sol o ano inteiro), além de ser um país muito povoado em um território pequeno e ter grande carência de combustível fóssil, tendo que importar petróleo, gás natural, entre outros.

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