Talvez você deva criar mais expectativas, e nós te contamos por quê
Na tentativa de evitar frustrações, acabamos repreendendo nossas expectativas, mas isso nem sempre funciona, viu?

ntes, quando sua indicação ao Oscar era apenas uma possibilidade, Fernanda Torres disse em entrevista que “odeia ter expectativas”. A atriz, vencedora do Globo de Ouro deste ano, se descreveu como “uma pessimista por natureza” e que ficaria feliz com “o que vier”. “Eu amaria ser indicada porque isso seria muito simbólico, mas eu não meço a vida em termos de ganhar ou perder”, disse à BBC. O jeito dela de lidar com expectativa é pensar que fez tudo o que podia, e “se acontecer, aconteceu” – caso contrário, já se sente feliz.
Enquanto “Nanda” não faz apostas e lida de uma forma mais cética, Selton Mello, seu parceiro de cena no consagrado ‘Ainda Estou Aqui’, não tem problemas em falar sobre expectativas e otimismo. Quando as indicações históricas do Oscar foram anunciadas, ele disse que esperava que a obra brasileira e que Torres apareceriam na lista de melhor filme internacional e melhor atriz, respectivamente. Questionado sobre as possíveis vitórias na premiação, ele diz que acredita que filme de Walter Salles leve, pelo menos, uma das três categorias em que concorre.
Essas falas e posicionamentos dos dois atores pode ser um ponto de partida interessante para uma questão que a nossa galera pensa bastante, principalmente em fases desafiadoras, como passar no vestibular, arrumar o primeiro emprego, entre tantas outras situações que esperamos um resultado que pode impactar bastante nossa vida. Qual é a melhor forma de lidar com as expectativas? Repreende-las para evitar frustração? Ou é preciso ter pensamento positivo?
Talvez a ideia de que não criar expectativas ajuda a evitar frustrações é a mais comum na nossa sociedade, mas estudos psicológicos contestam que isso nos faz realmente mais felizes e apontam que ter expectativas altas permite alimentar sonhos e criar objetivos. O jornalista britânico David Robson escreveu o livro ‘O lado bom das expectativas’*, sob a perspectiva da neurociência. Na obra, ele apresenta pesquisas científicas que apontam que “nossas expectativas moldam nossa experiência e nos leva a mergulhar profundamente nas muitas áreas da vida afetadas por essa mentalidade”.
Em entrevista ao Clube Drama, a atriz Valentina Herszage, que também está no elenco de ‘Ainda Estou Aqui’, falou do valor da expectativa na perspectiva psicanalítica. A artista destacou a importância de permitir-se desejar e criar expectativas, mesmo diante da incerteza do resultado.
“Na nossa carreira [de ator] é “ah, a gente fez um teste e tal. Cara, tá achando que vai rolar! E alguém fala assim: ‘Mas não cria expectativa!’. E minha mãe sempre falou assim: ‘cria expectativa, sim, porque se não rolar, você vai lidar com isso. Nunca tive pais que embarreiraram assim [para não criar expectativa]”, conta em vídeo.
@clubedrama Valentina Herszage sobre expectativas na carreira e a importância do apoio da sua família. – #ValentinaHerszage para #clubedrama
Inclusive, Valentina, que interpreta Veroca no filme ‘Ainda Estou Aqui’, de Walter Salles, conversou com a CH sobre o impacto da produção que rendeu um prêmio ao Brasil. Leia a entrevista completa aqui.
Nem mais, nem menos: alinhe as expectativas
Vale ponderar que expectativas altas demais podem, sim, ter efeitos negativos, e é preciso manter um equilíbrio. Jolanta Burke, professora do Centro de Ciências da Saúde Positivas da Universidade de Medicina e Ciências da Saúde do Colégio Real de Cirurgiões da Irlanda, escreveu sobre o tema em um artigo publicado no site de notícias acadêmicas The Conversation.
No texto, ela diz que, “para neutralizar esta situação, tudo o que você precisa é voltar a expectativa para um nível mais adequado para a sua experiência — um nível que seja um desafio, mas que permita que você atinja altos resultados para progredir na situação”. Ou seja, não adianta esperar por algo que você considera impossível também. Certo?
Agora, quando altas expectativas são realistas, a especialista defende que podem servir de força motivadora rumo a uma mudança. Ela pontua que um dos motivos que levam as pessoas a não querer ter essas altas expectativas é “se proteger da desilusão quando suas esperanças não se realizarem” – e, sim, a preocupação é válida. Mas, segundo ela, “aprender a controlar as emoções na hora da tristeza e da frustração nos ajuda a lidar com as adversidades de forma mais efetiva”.
E aí, você costuma evitar expectativas altas ou as abraça com mais otimismo?
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