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‘Somos exaltadas como passistas, mas não nos espaços de comando’

Gabriela Dias, Musa da Unidos da Tijuca, garante que desfilar na avenida é um ato político e de resistência: 'sou da Geração Beyoncé'.

Por Isabella Otto Atualizado em 12 fev 2018, 15h52 - Publicado em 12 fev 2018, 15h52

Não é só na avenida que Gabriela Dias dá o seu recado, mas, neste ano, é na Sapucaí que ela vai chegar cheia de representatividade! A Musa da Unidos da Tijuca, de 19 anos, foi a Lurdinha no seriado Cidade Proibida, da Rede Globo, e, em entrevista exclusiva a CAPRICHO, fala do papel da mulher negra no Carnaval. “Merecemos esse destaque porque esse lugar é historicamente nosso. Vou usar esse palco para provocar. Estar na avenida é um ato político”, afirma Gabi.

Daniel Chiacos/Reprodução

A atriz e cantora faz sua estreia como musa da Tijuca e comemora o fato de as meninas negras estarem voltando a ganhar destaque nas escolas de samba, como musas e rainhas de bateria. “Durante muito tempo, isso não acontecia mais. Daqui a pouco, estamos puxando o samba na avenida e tomando outros espaços”, garante a carioca, que também participa do canal Tá Bom Pra Você? no Youtube.

Gabi usa a arte e o samba como forma de luta e resistência. É assim que ela escolheu dar o seu recado. Inspirada pela mãe, Kenia Maria, defensora da ONU Mulheres, a capricorniana não tem medo de liderar debates e defender causas – mas sempre coloca sua identidade nos projetos. “Minha mãe possui uma força enérgica incrivelmente inspiradora, mas temos histórias diferentes e meu tempo é outro. Sou da Geração Beyoncé, minha luta é feita de outra forma, e ela respeita muito isso”, conta.

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O destaque no Carnaval, contudo, vem junto com problemas sérios e de longa data, como a hipersexualização da mulher negra. Para Gabriela, isso é uma realidade doentia. “Não vou deixar de usar roupas curtas ou biquíni porque o outro me enxerga com desumanidade. Me sinto como um pássaro, sou livre”, opina a passista, que lembra que as mulheres negras não devem ser esquecidas depois do período carnavalesco, como muitas vezes acontece. “Somos exaltadas nos espaços que nos designam, como musa, rainha, passista, nos espaços ‘convenientes’, mas não nos espaços de comando. A solidão da mulher negra, em todos os sentidos, é algo real. A falta de representatividade afeta a vida das meninas negras mais jovens“, lamenta.

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“As lágrimas de outrora já não rolam mais, se rolarem é emoção…” 💙💙💙💛💛💛 Ahhhh, chegando!!

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Mas Gabi Dias não abaixa a cabeça para o machismo e para quem critica seu cabelo black power! “O sambódromo é o maior palco em que já me apresentei. Pessoas do mundo inteiro vêm para o Brasil para ver esse show”, anima-se. Inspiração para outras meninas da comunidade, a musa da Unidos da Tijuca celebra seu trabalho na escola e no meio artístico: “dos elogios que recebo, os das meninas negras são os mais comoventes para mim. Eu sei o que elas estão sentindo, qual é a sensação de ter uma mulher negra como você exaltando sua beleza. Eu sei porque já estive no lugar delas. Representatividade importa, sim!”.

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